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CEBs e desafios do mundo contemporâneo

CEBs e desafios do mundo contemporâneo
As comunidades eclesiais de base (CEBs) constituem uma das mais significativas experiências da Igreja Católica na América Latina. Elas surgiram num conjunto de iniciativas pastorais que repercutiram o Concílio Vaticano II em nosso continente. O Concílio apontava para três grandes desafios: a descolonização, pedindo que cada Igreja superasse o predomínio europeu e revelasse seu próprio rosto; a descentralização, pedindo que surgissem instâncias de comunhão e participação; e a desclericalização, que convocava o protagonismo dos leigos e leigas para a missão. Ao longo dos últimos 50 anos, as CEBs viveram esse sonho conciliar, através de um “novo modo de ser Igreja” gestado numa dinâmica que parte da proposta de uma Igreja Povo de Deus, congregando gente que se engaja no seguimento de Jesus para a missão evangelizadora.
Os bispos latino-americanos, no Documento de Aparecida, afirmam que as CEBs são “escolas que tem ajudado a formar cristãos comprometidos com sua fé, discípulos e missionários do Senhor, como testemunhas da entrega generosa, até mesmo com o derramar do sangue de muitos de seus membros”(DAp 178).
Hoje, existem milhares de CEBs espalhadas pelo Brasil, e seus membros continuam engajados nas transformações da Igreja e da sociedade local e nacional. Passados 50 anos da convocação do Vaticano II, é importante perceber os grandes desafios que se apresentam para a Igreja neste início de século, e as interpelações e reflexões sobre como orientar a caminhada das comunidades em sua ação pela transformação do mundo em fidelidade à proposta de Jesus.
As CEBs são um bom exemplo para quem busca relançar, retomar e reanimar o espírito conciliar na Igreja Católica. Esta é, sem dúvida, a melhor maneira de celebrar os 50 anos do Vaticano II.
Ao longo da caminhada, a atuação das comunidades tem sido apoiada por uma rede de assessores e assessoras, pessoas que têm um conhecimento específico sobre diferentes temas e que colocam esse saber a serviço da caminhada das comunidades. O surgimento de novas gerações de assessores e assessoras, agentes de pastoral e animadores de comunidade exige um esforço continuado de formação dessas pessoas para melhor desempenhar suas tarefas e ajudar as CEBs neste caminho reflexivo e em suas práticas religiosas e sociais.
Tendo em vista essa necessidade, uma parceria entre o Iser Assessoria e o Setor CEBs da Comissão Episcopal para o Laicato da CNBB promoveu, ao longo de 2011, quatro Seminários para assessores e assessoras de CEBs, reunindo cerca de 100 pessoas de todos os 17 regionais em que o país está dividido pastoralmente.
Concluindo esse projeto, resolvemos reunir numa publicação os artigos dos diversos peritos e peritas presentes nos seminários.
A primeira parte traça a caminhada histórica das CEBs, desde o Vaticano II (1962-1965) até Aparecida (2007). As contribuições de José Oscar Beozzo e de Daniel Higino reconstroem essa trajetória cheia de avanços e percalços. Dentro desse panorama histórico, as CEBs deixaram sua marca nos sucessivos Encontros Intereclesiais. O Pe. Alfredinho, com sua contribuição, partindo da imagem do trem das CEBs, mostra o encadeamento dos temas que devem animar a caminhada das comunidades através de sugestivas “estações” em que o trem deve fazer suas paradas de reabastecimento. Completando essa parte, o artigo de Josenildo Francisco de Lima aborda o momento de crise das CEBs, com o sugestivo subtítulo “Entre a perseguição e o martírio por fidelidade aos pobres”.
A segunda parte trata especificamente do assunto do seminário. Sérgio Coutinho e Solange S. Rodrigues, a dupla que organizou e animou os seminários, escrevem sobre a identidade e a diversidade das CEBs diante do atual quadro sociopolítico e eclesiástico. Completa essa unidade o testemunho vivo que nos é dado por Mercedes de Budallés sobre a identidade e a diversidade presentes na vida das CEBs do Centro-Oeste.
A terceira parte reúne uma série de artigos sobre os desafios do mundo contemporâneo que interferem na vida e na organização das CEBs. Ivo Lesbaupin nos coloca diante da atual conjuntura socioeconômica. Roberto “Gogó” Malvezzi retrata a caminhada das CEBs diante dos desafios do semiárido. Lúcia Ribeiro aborda as relações de gênero na vida das comunidades. Sílvia Fernandesanalisa as CEBs diante dos desafios do pluralismo religioso. Por fim, Fernando Altemeyer Jr. aponta para o futuro das CEBs diante da cultura urbana.
A quarta parte traz uma contribuição escrita a seis mãos por Nelito DornelasPedro Ribeiro de Oliveira e Tereza Cavalcanti sobre o papel de um assessor e de uma assessora pastoral nas CEBs.
Graças à Editora Paulus, esta publicação torna-se uma realidade. Esperamos que ela possa servir a todas as pessoas envolvidas na preparação e na animação do 13º Intereclesial de Juazeiro do Norte, em janeiro de 2014, quando então todas as CEBs se colocarão em romaria para celebrar a vida e a caminhada nos sertões do Padre Cícero.
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