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O Grito da Floresta: Vozes da Amazônia
Dom Rafael Cob pede a Deus "a força e a sabedoria para defender os direitos destas terras amazônicas" - Por Luis Miguel Modino
Por Luis Miguel Modino
A situação que a região Pan-Amazônica está vivendo como consequência da segunda onda da Covid-19 na região, provocou o posicionamento de diferentes organizações: Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica – COICA, Fórum Social Pan-Amazônico – FOSPA, Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM, e a Assembleia Mundial pela Amazônia. Juntos organizaram o evento “O Grito da Floresta: Vozes da Amazônia“, que reuniu virtualmente, nos dias 26 e 27 de fevereiro participantes de diferentes países da região, bem como de outros países do mundo.
No seu discurso, o vice-presidente da REPAM pediu a Deus “que nos desse a força e sabedoria para defender os direitos destas terras amazônicas“. Dom Rafael Cob, que afirmou que “sabemos que cada um de nós não pode fazê-lo sozinho“, sublinhou que “unidos alcançaremos os objetivos que propomos para criar uma fraternidade onde todos nos sentimos irmãos, onde Deus Criador, que nos deu este maravilhoso Planeta, sabe como cuidar dele, como defendê-lo e como amá-lo“.
O bispo do Vicariato de Puyo, na Amazônia equatoriana, recordou o que foi dito no Sínodo Amazônico, onde ele foi padre sinodal. Aí se afirmou que “a Igreja quer ser aliada dos povos amazônicos, acompanhá-los e também estar com eles na defesa dos direitos da nossa natureza e dos povos que vivem na Amazônia“.
O bispo pediu “que o Senhor possa continuar a abençoar-nos e a dar-nos a sua força e que todos nós, unidos também ao Papa Francisco, que nos ilumina com a sua palavra e o seu exemplo, possamos deixar pegadas para que aqueles que vierem depois de nós possam verdadeiramente construir um mundo melhor, um mundo onde reine a paz, onde reine a justiça, onde se faça progresso global com aquela ecologia integral de que o nosso planeta precisa hoje“.
Dom Rafael Cob concluiu o seu discurso dizendo “que Deus Pai, Criador deste universo e das nossas vidas, continue a ajudar-nos com o sopro do seu poder e que cada um de nós viva essa comunhão e essa harmonia que Deus Criador nos deu para vivermos como povos fraternos“.
O evento foi um momento para “exigir que a humanidade ouça a nossa voz“, segundo José Gregório Díaz Mirabal. O coordenador da COICA pediu que, face à crise estrutural que o planeta atravessa, “nos ajudem a exigir os direitos da natureza, dos povos“. Nas suas palavras denunciou as invasões que os territórios dos povos originários e comunidades tradicionais estão sofrendo e exigiu soluções para a crise de saúde que a Amazônia está atravessando neste momento.
Estas palavras foram endossadas por German Niño, que disse que “sentimos o nosso apelo a preservar a vida natural e as diversas culturas da Amazônia”. O representante do FOSPA insistiu que “o bater do coração da Amazônia é o bater do coração da civilização atual”, apelando para “poder falar de forma integral na diversidade”. Niño apelou ao mundo para “abrir os seus ouvidos, olhos e portas para poder sentir a importância deste processo”. Em sua opinião, “a Amazônia tem que ser defendida em todo o planeta, deve deixar de ser vista como um reservatório de matérias-primas para o mundo”.
No encontro virtual, foram apresentadas diferentes realidades, tais como o trabalho que a REPAM vem realizando no monitoramento dos casos e mortes como consequência do Covid-19 na Pan-Amazônia há quase um ano, apesar das dificuldades encontradas nos organismos públicos, que nem sempre são claros nas suas informações. Também o trabalho que a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB tem feito no mesmo sentido, denunciando a grave realidade que se vive no país com mais casos e mortes na região.
A pandemia também demonstrou a falta de infraestruturas na Amazônia, os conflitos e ameaças, que não pararam na pandemia, algo que se manifesta em diferentes realidades que ameaçam a vida na região. De fato, o tratamento da pandemia em alguns países da região, especialmente no Brasil, pode ser considerado um genocídio, como afirmou o cientista Antônio Nóbrega, que denunciou “a falta de humanidade e perversidade na situação atual“. Muitas pessoas começam a perceber a realidade, disse ele, defendendo a necessidade de estudar com os sábios indígenas, reconhecendo a importância da sua sabedoria milenar.
Diferentes líderes indígenas mostraram a realidade que se vive na Amazônia, denunciando o impacto do agronegócio e dos incêndios, estradas, petróleo, infraestruturas, barragens hidroelétricas, algo que afeta especialmente os povos em isolamento voluntário, e que está custando a vida de muitas pessoas, incluindo defensores e defensoras dos direitos humanos, cada vez mais ameaçados numa região onde os efeitos das mudanças climáticas estão a levá-la a um ponto sem retorno. Diferentes elementos e situações que foram recolhidos num manifesto que o coordenador geral da COICA deu a conhecer.