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Artigo

  • Rede Fé de Política participa de Ato público pela aprovação do Projeto Ficha Limpa

    A Rede de Fé e Política participou ontem, 11 de março, no Rio de Janeiro (RJ), de ato público em apoio ao projeto “Ficha Limpa”, que pretende impedir a candidatura de políticos com pendências com a justiça, alterando a lei de inelegibilidade.
    Os participantes cobraram pressa na aprovação do Projeto, que deverá ser entregue ao presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, no dia 17 de março, para ser encaminhado à votação logo depois da Páscoa.
    O objetivo do ato é manter viva a mobilização em torno do projeto, que já arrecadou 1,6 milhão de assinaturas a favor da aprovação.
    A necessidade e a importância do apoio da sociedade ao projeto “Ficha Limpa” foram bastante reafirmadas no encontro. Dom Orani falou sobre o papel do Rio e da Igreja nesse trabalho. “O Rio de Janeiro tem uma visibilidade nacional para chamar a atenção de todo o Brasil para não deixar morrer essa ideia e continuar acompanhando o que está acontecendo […] e eu creio que o grande papel da Igreja é tentar encontrar maneiras éticas de ajudar o Brasil a ser cada vez melhor”, disse o arcebispo.

    Os deputados Chico Alencar e Antônio Carlos Biscaia lembraram que o “Ficha Limpa” caminha com o mesmo propósito da Campanha da Fraternidade 2010. Segundo eles, um homem público não tem como servir a dois poderes: a Deus e ao dinheiro. “Essa legitimação permanente dos representantes serve para combater algo que a Campanha da Fraternidade lembra com as palavras de Mateus: ‘Não se pode servir a Deus e ao dinheiro’. Na política institucional, o deus do dinheiro predomina”, lembrou Chico Alencar.
    Participaram do evento o arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani João Tempesta; a diretora executiva do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), Jovita José Rosa, o relator do grupo de trabalho do projeto “Ficha Limpa”, deputado Índio da Costa, o representante da Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP) do Regional Leste 1 da CNBB (Rio de Janeiro), Marcelo Lavennère, e os deputados Chico Alencar e Antônio Carlos Biscaia, que subescreveram o projeto.
    A Rede Fé e Política esteve representada por Érika Glória Rocha dos Santos, Maura Pereira de Sousa, Norma Serra, Névio Fiorin e o vereador Reimont.
    [fotos e parte da notícia do site da CNBB, 12 de Março de 2010]

  • 2ª Assembléia Popular

    Ivo Lesbaupin participou, em Brasília, da reunião preparatória da 2ª Assembléia Popular que acontecerá em Brasília em 2010

    . Reproduzimos aqui artigo recuperando a memória da Assembléia Popular.
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    O que é a Assembléia Popular?
    A Assembléia Popular vem de um processo amplo de articulação e organização de várias campanhas, redes e movimentos sociais no Brasil. A Assembléia Popular virou prática em várias cidades e estados do país desde 2005, a partir da realização da 1ª Assembléia Popular Nacional com participação de 8.000 mil pessoas representantes de todos os estados, entidades, movimentos sociais e pastorais de todo Brasil.
    A Assembléia Popular surge de um processo da 4ª Semana Social Brasileira, realizada pelas Pastorais Sociais/CNBB. De 1997 a 1999, a CNBB puxou a realização da 3ª Semana Social sobre o tema central do resgate das dívidas sociais. Os grupos de reflexão e mobilização não tardaram a perceber que a raiz da pobreza e miséria no país está na Dívida Externa e agora, também na Dívida interna que neste ano de 2009 chegou a 1,8 trilhões de reais. Deste processo surge O Jubileu Sul que organizou o plebiscito sobre a dívida externa no ano 2000 juntamente com diversas forças sociais e depois no ano de 2002 com a realização do plebiscito popular sobre a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) se fortalece esse tipo de iniciativa como um espaço de formação política, de conscientização, responsabilidade e participação. Durante estes vários processos outro debate vai sendo ampliado, ou seja, a reflexão sobre o modelo de país e que Brasil queremos.
    Neste sentido, fortalecidos pelos processos da Semana Social Brasileira, pelo Jubileu Sul – campanha contra as dívidas externa e interna, com a campanha contra a ALCA se aprofundou o debate em mutirão e em assembléias populares em diversas cidades, regiões de todo o nosso país. O que resultou em outubro de 2005 na 1ª Assembléia Popular e na publicação de um primeiro esforço coletivo sobre o projeto popular para o Brasil, o livro “O Brasil que Queremos”. Material que pode ser acessado através do link –

    http://www.jubileubrasil.org.br/assembleia-popular.
    Um dos principais debates elaborados dentro da Assembléia Popular é de que na condição de cidadãs e cidadãos, somos sujeitos de direitos iguais e habitantes de um dos territórios mais ricos em sua diversidade étnica, de regiões, clima, vegetação, fauna, solos, rios, litorais. Ricos em história, culturas, tradições, costumes, valores e espiritualidades. Viemos de diferentes biomas (regiões socioculturais / socioambientais – Amazônia, Cerrado, Pampas, Pantanal, Caatinga ou Semiárido e Mata Atlântica) e queremos que o Brasil seja uma unidade da riqueza de toda esta diversidade, em favor de uma vida com dignidade para e com todas as pessoas e todos os seres vivos que habitam no planeta. Este sendo um dos eixos do projeto em debate.
    Outro eixo em debate tem a ver com aspectos da soberania financeira, com o modelo de desenvolvimento, sistema político, relações internacionais e a soberania dos povos, trabalho, cidade, campo, moradia, educação, saúde, gênero, valores, etnias, comunicação, cultura e tantos outros aspectos que o projeto popular para o Brasil necessita. Desde 2005 com a primeira sistematização vem se realizando Assembléias Populares locais para debater o bairro que queremos? A cidade que queremos? O estado que queremos? E o Brasil que queremos? Todo esse trabalho está sendo realizado pelos articuladores/as regionais através de campanhas e lutas estratégicas conforme a realidade de cada região do Brasil.
    Desde então viemos presenciando algo novo, emanando do povo, no qual já vários de nós estamos envolvidos. Uma dinâmica está se constituindo que pode marcar uma etapa importante na organização dos movimentos sociais e populares, na participação do povo e na transformação e construção da sociedade que queremos. O exercício do poder popular deve estar a serviço da construção do projeto popular para o Brasil construído pelo próprio povo desde seu local, com dimensão nacional e internacional. A Assembléia Popular se propõe a fazer essa contribuição.

    A que se propõe a Assembléia Popular?
    A Assembléia Popular se propõe e desafia á construção de um novo modelo de sociedade, um novo projeto de sociedade, um novo modelo de desenvolvimento que tenha em primeiro lugar a vida humana e toda forma de vida no planeta e com a dimensão da integração regional da America Latina. E este, o chamamos de Projeto Popular O Brasil que Queremos, através da organização Popular. Este Projeto Popular tem em conta os limites atuais que vivemos nesta sociedade e nos desafiamos a lutar para enfrentá-los trazendo uma nova visão e novos valores, como:
    Igualdade, que é pela busca permanente entre as pessoas, respeitando as diversidades. Opõe-se às disparidades de renda, de posse de terra, de representação política, de apropriação da riqueza produzida nas relações de trabalho e de acesso à saúde, à educação, aos espaços de decisão e ao comércio internacional entre os países, entre outras.
    Diversidade, distinções dadas por aspectos de gênero, geracional, raça/cor, etnia, orientação sexual, pessoa com deficiência, entre outros. Diz respeito também aos diferentes espaços geográficos onde as populações se organizam (áreas urbana e rural, comunidades tradicionais, quilombolas, ribeirinhas e indígenas) e às distintas atividades econômicas praticadas (extrativista, artesanal, agricultura familiar, atividade pesqueira e industrial). O conceito de diversidade não se opõe ao de igualdade, pois a igualdade busca respeitar as diversidades;
    Justiça, defesa dos Direitos Humanos Econômicos, Políticos, Civis, Sociais, Culturais e Ambientais, buscando restaurar os direitos ameaçados, bem como garantir a implementação dos direitos não reconhecidos ou a criação de novos direitos. Tem como orientação posicionar-se contra práticas que beneficiem o interesse privado em detrimento do interesse público (entre essas, o clientelismo, o patrimonialismo, o nepotismo, a corrupção, o preconceito e as discriminações). O conceito de justiça incorpora o direito a rebelião, isso é, do povo se rebelar, lutar de todas as formas contra as injustiças e desigualdades.
    Liberdade, princípio que prevê a livre expressão, movimentação, atividade política e de organização dos/as cidadãos/ãs. Orienta o cidadão a expressar-se e a atuar politicamente em defesa de valores democráticos, como a igualdade e os Direitos Humanos; contestar e atuar politicamente contra situações de desigualdades sociais, políticas, jurídicas e econômicas. O princípio da liberdade pressupõe a livre organização da sociedade civil;
    Participação, atuação da sociedade civil do campo democrático (movimentos sociais, organizações etc.) nos espaços públicos de decisão. Deve ocorrer, preferencialmente, por meio da institucionalização de mecanismos de democracia participativa e direta, inclusive na elaboração, deliberação, implementação, monitoramento e avaliação das políticas públicas. É também um processo de aprendizado, na medida em que qualifica a intervenção de cidadãos/ãs para a atuação nos espaços públicos de decisão. Não existe participação sem poder de decisão.
    Transparência, acesso universal às informações públicas, por meio da disponibilidade inteligível ao conjunto da população. Inclui também a divulgação ampla, permanente e imparcial das decisões públicas, sejam oriundas da burocracia ou dos representantes eleitos/nomeados. É uma postura ética, esperada do poder público. A transparência e o acesso às informações públicas fazem parte da defesa do direito humano à comunicação;
    Controle social, monitoramento do Estado por parte da sociedade civil que atua no campo democrático, em especial por meio dos movimentos sociais, visando ao controle das ações governamentais. A qualidade do controle social pressupõe a transparência e o acesso às informações públicas. O controle social visa à defesa e à implementação de políticas públicas que respeitem o conceito de igualdade, universalidade, diversidade, justiça e liberdade.

    Qual o papel das entidades, movimentos, pastorais dentro da Assembléia Popular?
    Fazem, parte da construção deste projeto varias redes e organizações sociais, pastorais sociais, entidades em um grande Mutirão por um novo Brasil. Pastorais sociais, Grito dos Excluídos, Via Campesina, Marcha Mundial das Mulheres, UNEAFRO, Movimento de Moradia, Associação Brasileira de Estudantes de Filosofia, MST, MAB, Movimento de Mulheres Camponesas, Rede Jubileu Sul Brasil, Rede Social de Direitos Humanos, Grito dos Excluídos Continental, Cáritas Brasileira, INESC/ABONG, PACS, Comissão Pastoral da Terra, CIMI, Associação de estudantes de Engenharia Florestal, CONIC, Iser Assessoria, IBRADES/CNBB e muitas outras. Além das entidades há representação por estado, participando dois representantes de cada articulação da AP regional.
    O papel destas entidades e articulações regionais dentro da Assembléia Popular é de construir o debate sobre o projeto popular para o Brasil a partir da realidade de cada uma das entidades ou estado do Brasil. Ainda estas organizações contribuem na construção dos processos regionais, ou seja, cada estado tem um processo próprio de Assembléia Popular com uma articulação local que mobiliza, articula e motiva a reflexão sobre o Brasil que Queremos.
    As entidades, movimentos, pastorais conscientes de que o Brasil que temos não é o Brasil que queremos, promovem o momento de todos e de todas mostrarem a sua indignação e a sua vontade de construir, juntos, um novo projeto de sociedade; que nosso país seja economicamente justo, politicamente democrático, culturalmente igualitário e culturalmente plural. Evidentemente, neste processo o protagonismo deve ser sempre dos excluídos e das excluídas desta sociedade.
    Se todo o poder emana do povo, conforme define a nossa Constituição, pensar o Poder Popular e o Projeto Popular é considerar como este poder deve ser devolvido ao povo, que tem o direito de exercê-lo de forma direta e não apenas por delegação. Significa, também, pensar novos mecanismos que possibilitam o exercício do poder pelo povo. Hoje, basicamente, o poder é exercido via partidos políticos e nos processos eleitorais. Isso é suficiente? Ou devemos ser ousados e pensar outras formas para se exercer o poder?
    Democracia é muito mais que o direito de votar e ser votado. É necessário criar novos mecanismos de participação, que resgatem o poder de decisão da população. Precisamos pensar outras formas de se fazer política, as atuais não refletem esta nova forma de se fazer e pensar a política.

    Agenda de lutas para 2010:
    Para 2010 estamos centrando forças no debate sobre o Projeto Popular em nossas bases, através de assembléias populares locais, estaduais e regionais, em preparação a II Assembléia Popular Nacional, que se realizará em maio de 2010, de 25 a 28. A II Assembléia Popular nacional será o momento de apresentar e aprofundar nossa proposta de projeto para o Brasil.
    No período de fevereiro e março estaremos envolvidos e contribuindo na reflexão da Campanha da Fraternidade Ecumênica que tem como tema Economia e Vida. Momento importante para debater a soberania financeira e o uso do dinheiro público, que deve estar a serviço da vida e dos direitos sociais e não a serviço do mercado.
    Ainda em 2010, somaremos força na Marcha das Mulheres na semana de 08 a 18 de março, e no plebiscito popular sobre a propriedade da terra, trabalho que será realizado durante todo o ano de 2010 culminando com o plebiscito popular na Semana da Pátria – 01 a 07 de setembro – e nos somaremos à organização e mobilização do Grito dos Excluídos no dia 7 de setembro.

    Marli de Fátima Aguiar e Rosilene Wansetto – Secretaria Operativa da Assembléia Popular
    Texto publicado originalmente por Adital em 30.10.2009
    em http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=42484

  • Igreja e Transformação Social

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    Nos dias 03 e 04 de outubro de 2009, aconteceu na Igreja Batista, em Jardim Duas Praias, Rio de Janeiro, o primeiro Encontro “Igreja e Transformação Social” da Ilha do Governador. A Rede de Fé e Política apoiou o evento.
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    Pastor Leonardo Pinheiro de Abreu faz relato com fotos do encontro em seu Blog. Acesse e comente.
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    JESUS PARA HOJE: I Encontro “Igreja & Transformação Social” – Ilha do Governador/RJ

  • Rede Fé e Política realiza Retiro

    A Rede de Fé e Política do Estado do Rio de Janeiro promoveu um retiro, dia 24 de outubro, com o assessor político da CNBB, José Ernanne Pinheiro, tendo como tema Espiritualidade e Prática Política. Aconteceu na Casa de Oração, em Nova Iguaçu, um local agradável, arborizado, no alto da colina da antiga Fazenda da Posse da qual ainda resta a pequena capela. Os participantes tiveram um dia dedicado à espiritualidade e à reflexão sobre o agir político dos cristãos.

    Participaram 50 pessoas, vindas de 15 municípios do estado. Gente que está na política, que já exerceu mandato, que faz parte de assessoria parlamentar, pessoas que atuam na articulação de grupos de Fé e Política, Fé e Cidadania ou Ética na Política e o grupo de articulação da Rede F&P.

    A Rede de Fé e Política articula iniciativas em diversos municípios do estado, organiza encontros de reflexão e partilha de práticas políticas entre grupos de cristãos/ãs de diferentes denominações religiosas, engajados nos movimentos sociais, em partidos políticos e na construção de uma sociedade alternativa ao capitalismo neoliberal. Também promove os Grupos de Acompanhamento do Legislativo – GAL.

    Padre Ernanne, que trabalhou com D. Hélder no Recife, do alto de sua experiência, levou os participantes ao encontro da fonte, para provar do poço a água da vida, seguindo os passos da Samaritana de Jericó. Recordando a mobilização eclesial no contexto do Concílio Vaticano II, como o Pacto das Catacumbas, passando pelas Conferências de Medellín e Puebla, reavivou a memória do projeto de Jesus e a nossa opção preferencial pelos pobres.

    A motivação para esse momento de recolhimento veio do evangelho de Marcos (1,32-35) que nos recorda como Jesus, depois de atender o povo em suas aflições, curar muitas pessoas de vários tipos de doença e de expulsar muitos demônios “de madrugada, quando ainda estava escuro, se levantou e foi rezar num lugar deserto”. Nesse sentido o retiro foi um dia muito especial, de recolhimento pessoal e coletivo. Vários momentos celebrativos, muito bem preparados, levaram os participantes à meditação e à oração.

    No final, as pessoas avaliaram que o retiro atingiu os objetivos que era reunir pessoas que estão mergulhadas no mundo da política para uma parada de reflexão, meditação e oração; reconectar a práxis política à espiritualidade bíblica tendo em vista que a disputa política tende a afastar as pessoas da vida real do povo e a perder o necessário distanciamento para uma visão da realidade; afinar a prática política com a opção evangélica pelos pobres e recuperar o imperativo de estarmos de forma mais orgânica entre os pobres e excluídos.

    O tema Espiritualidade e Prática Política foi trabalhado em 4 momentos de reflexão:

    1. Espiritualidade e Prática Política – “Espiritualidade é viver conforme o Espírito”. Somos chamados sempre de novo à conversão. A importância de “deixar Deus falar…”. Silêncio exterior e silêncio interior. Ter vida espiritual sem abstrair da realidade, de olho na missão. Aparecida propõe uma missão continental. Assumir a condição de discípulos-missionários no mundo da política. Assumir nossa latinoamericanidade. Casaldáliga fala de Igrejas sem fronteiras: étnicas, sociais, culturais, religiosas e demais barreiras.

    Apoiando-se no livro “As raízes da espiritualidade latino-americana: Os místicos ibéricos” de Segundo Galilea (Paulinas, 1984) refletiu sobre as raízes latino-americanas da espiritualidade: o Jesus Histórico (Inácio de Loyola), a Contemplação (Teresa de Ávila) e o lugar dos pobres (João da Cruz).

    2. Relação entre Fé e Política – Ao longo dos últimos 50 anos, sobretudo, tem havido uma intensa busca por relacionar fé e política. Jacques Maritain diferenciava o agir como cristão do agir enquanto cristão. Depois Y. Congar, como assessor da Ação Católica, continua essa reflexão. Aqui, Clodovis Boff trabalhou a relação das Cebs com a política.

    Gustavo Gutierrez tem uma boa reflexão sobre as bem-aventuranças como uma síntese da proposta de Jesus. Segundo Mateus, em apenas duas, Jesus diz que o Reino já acontece: aos pobres e aos perseguidos. Relaciona o Jesus histórico ao Reino.

    Pe. Ernanne recordou diversas experiências ocorridas neste país, de cristãos que buscaram viver uma fé engajada: Ação Católica com seu método Ver-Julgar-Agir, as Cebs, Os cursos do Ibrades. Muitos bons políticos atuais vieram desse meio. Atualmente sentimos falta de um método como aquele da Ação Católica, atualizado. Carlos Mesters com o CEBI tem promovido a Leitura Orante da Bíblia como uma ferramenta que nos auxilia na inserção na realidade.

    A Igreja católica no Brasil tem se preocupado com a formação política dos cristãos. A Campanha da Fraternidade de 1986 fez uma boa reflexão sobre esse tema. Temos 50 Escolas de Fé e Política. O Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara, com um corpo de assessores, o curso de formação política e as publicações.

    Para as eleições de 2010 deverá sair um texto produzido pelo Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara (CEFEP) + Conselho Nacional de Leigos (CNLB) + Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP).

    3. A Oração de Jesus e a nossa oração – Santa Teresa: “orar é tratar de amizade, estando a sós, muitas vezes, com quem sabemos que nos ama”.

    Como Jesus rezava: Ele faz a oração usual dos judeus piedosos. Abençoa a mesa (Mt 14, 19; 15,36; 26,26). Reza em comunidade (Lc. 4,16). Em segundo lugar, Jesus reza em conexão com os acontecimentos históricos: sua vida pública começa com a oração (Mt 3,13-17) e termina com uma oração Mt 27,46); no momento de escolher os 12 apóstolos (Lc 6,12s); no momento do Pai Nosso (Lc 11,1); antes de curar o menino epiléptico (Mc 9,29); Jesus se retira para um monte, a um horto, ao deserto (Mc 1,25; 6,46; 14,32; Lc 6,12). Enfim, Jesus condensa o mais profundo de sua vida na oração, como na ação de graças (Mt 11,25) ou na crise do horto quando toma a decisão de ser fiel até a morte: “Abba, afasta de mim este cálice” (Mt 26,39). A Oração de Jesus ao Pai se dá na perspectiva do Reino.

    Jesus também critica aspectos de oração do seu povo: narcisismo espiritual, hipocrisia, palavreado, instrumentalização espiritualista alienante, instrumentalização opressora, mistificação da sensibilidade ou sentimentalismo.

    Há aspectos da nossa oração a serem purificados: ritualismo, legalismo, espiritualismo, ativismo.

    A prática da Leitura Orante da Bíblia vai se tornando popular. Existem outros métodos, como o estudo do Evangelho do padre Antoine Chevrier, a repetição, a oração de entrega silenciosa (deserto).

    4. A Opção pelos Pobres – Sempre houve preocupação da Igreja com os pobres. O que mudou foi o aspecto metodológico. O espírito do Vaticano II faz novas exigências: o pobre como sujeito, o pobre coletivo (dimensão política). Há apelos acentuados:

    Apelos cristológicos: Jesus nasceu na manjedoura (Lc 2,12); viveu pobre, na companhia dos pobres (Mt 8,20); evangelizou os pobres (Lc 4,16); escolheu seus apóstolos entre os pobres (Mt 10); morreu pobre, na cruz (Jo 19,31s).

    Apelos da Igreja: João XXIII na abertura do Concílio. Lercaro durante o Concílio. Lumen Gentium 8:
    Mas, assim como Cristo realizou a obra da redenção na pobreza e na perseguição, assim a Igreja é chamada a seguir pelo mesmo caminho para comunicar aos homens os frutos da salvação… Cristo foi enviado pelo Pai « a evangelizar os pobres… De igual modo, a Igreja reconhece nos pobres e nos que sofrem a imagem do seu fundador pobre e sofredor, procura aliviar as suas necessidades, e intenta servir neles a Cristo.

    Evolução da consciência eclesial quanto ao pobre: Antes do Vaticano II o pobre como objeto da nossa benevolência. Gutiérrez lembra a justificativa que era preciso haver pobres para os ricos serem generosos. Durante o Vaticano II emerge uma a mística eclesial de viver como os pobres, de ser Igreja dos pobres. Após o Vaticano II, a partir de Medellín, o pobre é aquele que está no caminho que eu me coloco (Lc 10, o bom samaritano), exigindo compromisso e solidariedade; descobre-se o pobre coletivo, o empobrecido.

    Paul Gauthier, a partir de sua experiência de operário em Nazaré, escreveu o livro “Jesus, a Igreja e os Pobres” e interpela o Concílio. Depois, Yves Congar escreve “Por uma Igreja servidora e pobre” como uma proposta para a Igreja.

    Com Medellín a Igreja faz a opção pelos pobres. Medellín apresenta três aspectos da pobreza:

    a) A pobreza como carência de bens deste mundo é um mal (Is 10,1-2; Am 2,6s).
    b) A pobreza espiritual é um dos temas dos pobres de Javé: disponibilidade e confiança, atitude de infância espiritual (Santa Terezinha); ser pobre contra a pobreza (L Boff).
    c) A pobreza como compromisso: assumir voluntariamente e por amor a condição dos necessitados, dos empobrecidos… Um sinal do valor inestimável do pobre aos olhos de Deus. Um compromisso de solidariedade com os que sofrem. Medellín tem como pano de fundo a análise da realidade da “dependência” – “os ricos cada vez mais ricos à custa dos pobres cada vez mais pobres”. Puebla e as outras conferências ratificam a opção preferencial pelos pobres (OPP) a partir da prática da Igreja.

    As Fraternidades de Charles de Foucauld definem três níveis de compromisso com os pobres: presença junto aos pobres; ajudar na organização dos pobres; pensar na perspectiva dos pobres.

    Um professor, de classe média, mostra como podemos avaliar nossa OPP: como trato os pobres do meu entorno? Como eles mexem no meu bolso? O que faço para me juntar aos pobres na suas lutas?

    Névio Fiorin relatou

  • Reunião da Rede Oikosnet América Latina

    O Iser Assessoria faz parte de Oikosnet AL, rede regional para a América Latina, mas que tem também uma dimensão internacional. É uma rede ecumênica de centros de formação e educação, que se coloca como “um espaço de encontro, articulação e intercâmbio, contribuindo para a construção de sociedades fundadas em relações de justiça, solidariedade, participação e inclusão das diversidades na América Latina e Caribe”.

    O Encontro que se realiza a cada dois anos é um momento rico de reflexão e de intercâmbio. O XV Encontro/Assembléia da Rede acaba de realizar-se em Lima, Peru, de 13 a 17 de outubro, com o tema “Ecumenismo, Espiritualidade e Práticas”. Como representante do Iser Assessoria, gostaria de partilhar alguns dos temas debatidos.

    O encontro iniciou-se com a questão da espiritualidade, entendida como experiência de Deus ou, nas palavras de Maria José Coran – religiosa que vive perto do Lago Titicaca, em uma aldeia quéchua – como vida aberta ao Espírito / Ruah ou ainda como consciência de estar na presença do Mistério, segundo Luis Dietricht. Esta espiritualidade é algo que se vive no cotidiano, na busca de construir a própria identidade, de descobrir-se como ser humano. A busca se amplia quando se coloca também na perspectiva ecumênica, no descobrimento solidário com o/a outro/a. Na América indígena, isto significa pensar a relação com a Mãe-Terra , Pacha-Mama, que é um projeto de fraternidade. A terra não é Deus, é uma criatura, mas é também criadora de Vida. E esta concepção da terra como a Grande Mãe nos irmana, e pode ser incluída no projeto de construção do Reino, como dom e como graça no meio de nós.

    Em um segundo momento, discutimos a questão dos “povos originários”, que já habitam estas terras há 5.000 anos e cuja cultura hoje começa a ser valorizada – depois de longos séculos de discriminação – no reconhecimento de uma realidade pluricultural. É este um processo longo e complexo, sobretudo quando o conceito de territorialidade – defendido pelos movimentos indígenas, incluindo não só a posse da terra mas também as formas culturais de apropriar-se da mesma – se confronta, como vem sucedendo hoje na região amazônica, com projetos de desenvolvimento e de aproveitamento de recursos naturais (petróleo, minérios, água – as hidrelétricas!). Neste contexto, a (difícil) construção de consensos é um processo permanente…

    O reconhecimento e o respeito pelo outro estão na base também do debate sobre ecumenismo, que constituiu o tema seguinte. Este supõe resgatar a memória histórica e reconhecer a contribuição das gerações anteriores, mas sem perder o enfoque crítico: diante de certo “refluxo” do ecumenismo hoje, há uma tendência a compará-lo com o que foi nos anos 70 e 80, em circunstâncias diversas e focar-se em uma dimensão institucional; hoje talvez seja mais importante ver o que sucede nas bases, avaliando o que é realmente “resgatável” do modelo anterior, diante de um contexto de mudanças extremamente rápido.

    Neste sentido, a presença de vários jovens, na reunião, contribuiu para criar um clima de diálogo inter-geracional muito rico. Além disso, contribuindo para afirmar a diversidade, estava a riqueza de uma rede que é latino-americana. Havia 19 centros representados, significando a presença de uma dezena de países: Peru, Cuba, Uruguai, Paraguai, Venezuela, Colômbia, Equador, Argentina, Chile e Brasil. (Não se chegou à diversidade de idiomas – o espanhol era absolutamente dominante – mas conseguimos, em um dos devocionais, cantar uma música das CEBs em português…) Enfim, o encontro foi uma experiência rica e aberta a novos desdobramentos.
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    Lucia Ribeiro

  • 12º Intereclesial

    Entre os dias 21 e 25 de julho de 2009 três membros do Iser Assessoria – Ivo Lesbaupin, Pedro Ribeiro de Oliveira e Solange Rodrigues – participaram da assessoria ao 12o. Encontro Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base do Brasil, em Porto Velho – Rondônia. Veja a seguir a primeira parte da Carta final do Encontro:

    CARTA ÀS IRMÃS E AOS IRMÃOS DAS CEBs E A TODO O POVO DE DEUS

    1. Nós, participantes do XII Intereclesial das CEBs, daqui das margens do Rio Madeira, no coração da Amazônia, saudamos com afeto as irmãs e irmãos de todos os cantos do Brasil e dos demais países do continente, que sonham conosco com novos céus e nova terra, num jeito novo de ser igreja, de atuar em sociedade e de cuidar respeitosa e amorosamente de toda a criação!
    2. Fomos convocados de 21 a 25 de julho de 2009, pelo Espírito e pela Igreja irmã de Porto Velho/RO, para nos debruçar sobre o tema que nos guiou por toda a preparação do Intereclesial em nossas comunidades e regionais: “CEBs: Ecologia e Missão – Do ventre da terra, o grito que vem da Amazônia”. Acolhendo as delegações e celebrando os povos da Amazônia.
    3. Encheu-nos de entusiasmo ver chegando, depois de dois, três e até cinco dias de viagem os delegados, em sua maioria de ônibus fretados, ou ainda em barcos e aviões. Em muitos ônibus, vieram acompanhados de seus bispos e encontraram, ao longo do caminho, acolhida festiva e refrigério em paradas nas dioceses de Rondonópolis, Cuiabá e Cáceres no Mato Grosso, Jataí em Goiás, Uberlândia em Minas Gerais e, entrando em Rondônia, nas comunidades de Vilhena, Pimenta Bueno, Cacoal, Presidente Médici, Ji-Paraná, Ouro Preto e Jaru. Apresentamos carinhoso agradecimento pela fraterna e generosa acolhida de todas as delegações pelas famílias, comunidades e paróquias de Porto Velho, o infatigável trabalho e dedicação do Secretariado e das equipes de serviço, em que se destacaram tantos jovens.
    4. Somos 3.010 delegados, aos quais se somam convidados, equipes de serviço, imprensa e famílias que acolhem os participantes, ultrapassando cinco mil pessoas envolvidas neste Intereclesial. Dos delegados de quase todas as 272 dioceses do Brasil, 2.174 são leigos, sendo 1.234 mulheres e 940 homens; 197 religiosas, 41 religiosos irmãos, 331 presbíteros e 56 bispos, dentre os quais um da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, além de pastores, pastoras e fiéis dessa Igreja, da Igreja Metodista, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e da Igreja Unida de Cristo do Japão. O caráter pluriétnico, pluricultural e plurilinguístico de nossa Assembléia encontra-se espelhado no rosto das 38 nações indígenas aqui presentes e no de irmãos e irmãs de nove países da América Latina e do Caribe, de cinco da Europa, de um da África, de outro da Ásia e da América do Norte. Queremos ressaltar a presença marcante da juventude de todo o Brasil por meio de suas várias organizações.
    5. “Sejam benvindos/as nesta terra de muitos rios, igarapés e de muitas matas, onde está a Arquidiocese de Porto Velho, que se faz hoje a Casa das Comunidades Eclesiais de Base”. Assim, fomos recebidos, na celebração de abertura pela equipe da celebração e por Dom Moacyr Grechi, com muita música e canto, ao cair da noite, ao lado dos trilhos da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré que lembra para os trabalhadores, que a construíram e para os indígenas e migrantes nordestinos, o sofrido ciclo da borracha na Amazônia. Foram evocadas ali e, seguidamente nos dias seguintes, as palavras sábias do provérbio africano:
    “Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes,
    consegue mudanças extraordinárias”. (…)

    Veja o texto completo no site:
    http://www.cnbb.org.br/ns/modules/mastop_publish/files/files_4a82b4b900e0e.pdf

  • Seminário da Rede de Cursos de Formação Pastoral

    De 02 a 04 de outubro o Iser Assessoria e a Equipe do Curso do Rio acolheram o Seminário da Rede de Cursos de Formação Pastoral, que compreende os Cursos de Verão, Cursos de Inverno e Cursos Bíblicos.
    O Seminário foi realizado no Centro de Acolhida Missionária – Casa das Religiosas da Assunção – no alto de Santa Teresa, em meio ao verde, tendo por um lado a vista da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro com o Pão de Açúcar e do outro as comunidades de morro e ao longe a Baixada Fluminense. Representando oito cursos de formação, 14 pessoas se reuniram para partilhar experiências, celebrar e refletir sobre as perspectivas da formação popular a partir da atual conjuntura. No último ano, os Cursos de Formação Pastoral atingiram mais de 2.500 pessoas.
    Os Cursos presentes foram:

    o Curso Ecumênico de Pastoral Popular – Rio Grande do Sul
    o Curso de Verão – Goiania
    o Curso do Rio Encontro Ecumênico de Formação Pastoral – Rio de Janeiro
    o Flor e Canto: Encontros Ecumênicos de Formação – Magé
    o Curso de Verão na Terra do Sol – Fortaleza
    o Curso de Inverno – Vale do Aço, MG
    o Curso Bíblico de Lins – Lins, SP
    o Curso de Verão – São Paulo

  • Igreja &Transformação Social

    O Movimento Fé e Política é ecumênico, não confessional e não partidário. Está aberto a todas as pessoas que consideram a política uma dimensão fundamental para a construção da cidade e do país que queremos. Sua participação é importante!

    I Encontro
    Igreja & Transformação Social
    da Ilha do Governador
    03 e 04 de outubro de 2009
    Igreja Batista em Jardim Duas Praias
    pastor Leonardo Abreu –

    Informações e inscrições: www.fep-ilha.blogspot.com
    21-9454-8446 – 3353-5639

    Sua participação é importante!


  • Encontro de Fé e Política de Barra Mansa

    Grupo de Partilha 8 – Grupos de Acompanhamento do Legislativo

    Facilitadores: Flávio Antônio e Ivo Lesbaupin
    (Observação: relatório foi feito com base nas anotações dos facilitadores; certamente não é completo e pode ser que haja alguma imprecisão; quem quiser completar, envie-nos a sua contribuição).

    O Encontro teve início ás 13:50, com a apresentação dos presentes, cerca de 30 pessoas (nome, município e grupo em que esta inserido/a).

    Partilha das experiências
    Começamos com a pergunta: Quem participa de Grupo de Acompanhamento do Legislativo?
    Neste momento fizemos a:

    Valença: O grupo de acompanhamento ao Legislativo firmou-se a partir de uma luta específica, a privatização da água. A partir daí, se conseguiu uma renovação de 80% dos vereadores. As denúncias tinham efeito porque o grupo conseguia colocar na imprensa local. Têm a intenção de criar um boletim. Precisam de ajuda para saber quais são os critérios para qualificar a atuação do/a vereador/a.

    São Pedro da Aldeia: O grupo se intitula “Grupo de Fé e Cidadania”. Antes de começar o acompanhamento, estão fazendo estudos sobre a Lei Orgânica do município e o Regimento Interno da Câmara de vereadores. Estão buscando apoio em entidades da sociedade civil local como associações, OAB, etc.

    Volta Redonda: É um grupo pequeno que faz o acompanhamento na Câmara. Dividiram-se em 3 grupos menores, sendo 1 responsável por cada semana; ao final do acompanhamento, se reúnem para colocar em comum as observações. Fazem um relatório e distribuem na reunião do Regional da Diocese. Fizeram abaixo-assinado, encaminhado para o Ministério Público.
    Descobriram que existe a “Tribuna Livre” – que o povo pode utilizar.

    Barra do Piraí: O grupo tem mais de doze anos e nesse período tiveram altos e baixos. Mesmo assim, o grupo incomoda os “vereadores”. A Igreja está junto. Conseguiram realizar o “Projeto Cidadania”. Ao acompanharem determinada sessão, descobriram que havia um projeto de privatização da água. Mobilizaram-se e conseguiram evitar que o projeto fosse aprovado. Entraram em contato com o Ministério Público. Conseguiram que a água ficasse sob concessão da CEDAE. Fizeram parceria com a ONG Novamerica para ajudar na formação dos membros do grupo.

    Niterói: Existe um Grupo de Fé e Cidadania, que faz o acompanhamento ao Legislativo. Trabalham em parceira com o Fórum Popular do Orçamento. Fazem o registro da presença dos vereadores. Exigem transparência pública. Agora a Câmara colocou em funcionamento um sitio eletrônico (internet) no qual disponibilizam informações da Câmara. Têm como bandeira conseguir o SIAFEM – sistema de acompanhamento do orçamento, com total transparência.

    Barra Mansa: O Prefeito coopta os vereadores. Um dos vereadores fez uma denúncia sobre o caos no sistema de saúde do município.

    Rio de Janeiro (Jacarepaguá?): O Grupo está estudando o Plano Plurianual de Ação do município.

    Nova Iguaçu: Tentou se formar um Grupo de Acompanhamento do Legislativo, mas a Câmara mudou o horário das reuniões de 18 horas para 15 horas. Isto inviabilizou a participação nas reuniões.

    Resende:

    Angra dos Reis: Estão tentando reunir um grupo. A Câmara tem de apresentar uma Prestação de Contas quadrimestral.

    Porto Real: Existe um grupo desenvolvendo o “Projeto Mulheres em ação”.

    Houve outras intervenções complementares, falando, por exemplo, que há dois parceiros importantes, que devem ser acionados: os meios de comunicação e o Ministério Público.

    Em seguida, debatemos em torno de três perguntas:

    a) Como criar grupo de acompanhamento do legislativo onde não existe?
    b) O que se pode fazer para melhorar aqueles que já existem?
    c) O que podemos fazer em 2010 em termos de formação para os grupos de acompanhamento do legislativo municipal? Quando?

    Encaminhamento:
    O Movimento de Fé e Política precisa promover um Encontro específico dos Grupos de Acompanhamento do Legislativo (já existentes ou em formação) na segunda quinzena de março de 2010 (preferência por um domingo).

    Flávio Antônio e Ivo Lesbaupin

  • COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE NO BRASIL

    Introdução

    As comunidades eclesiais de base (CEBs) constituem uma das experiências mais significativas e ricas oferecidas pela igreja  latino-americana à igreja universal. Quando o papa Paulo VI ao final do sínodo sobre a evangelização no mundo de hoje (1974) referiu-se às CEBs como uma esperança para toda a igreja, estava certamente convencido do valor da experiência como lugar privilegiado de evangelização. Este novo modo de ser igreja que vem se afirmando no continente e sobretudo no Brasil traduz um grande dinâmismo, revelando facetas singulares de uma igreja comprometida com a afirmação da vida e com a causa dos pobres. No início da década de 80, o teólogo Karl Rahner lamentava a situação de inverno na igreja, mas já acenava para a presença alternativa do cristianismo que pulsava na América Latina,  marcado pelo empenho e testemunho: uma experiência “rica de grandes esperanças”. De fato, a experiência das CEBs favoreceu a gênese de um novo rosto de igreja, caracterizado pelos traços da comunhão, compromisso e participação e pontuado pela dinâmica do seguimento de Jesus Cristo. Ao longo destes quarenta anos de caminhada, as CEBs do Brasil têm sinalizado o imperativo essencial da opção pelos pobres e de seu direito de cidadania na sociedade e na igreja. Trata-se de uma convocação dirigida a todo o povo de Deus, no sentido de caminhar na perspectiva da igreja dos pobres: todos são chamados a viver com intensidade a perspectiva de comunhão fraterna e a integração da fé com a história a partir de sua realidade vital. Durante o seu itinerário, as CEBs foram acumulando experiência e enfrentando novos desafios, assim como incompreensões e resistências. Talvez a maior riqueza deste evento eclesial encontra-se na sua potencialidade dialogal e na sua capacidade de gênese permanente, que indica sua disponibilidade de abertura aos novos horizontes que vão se apresentando ao longo da história.

    Mesmo não sendo possível encontrar uma definição única e abrangente da experiência em curso, alguns de seus traços característicos podem ser delineados: a localidade (já que as comunidades reúnem membros de uma mesma territorialidade), a presença da bíblia e o culto regular, a dinâmica participativa e os serviços ministeriais assumidos pelos leigos, o compromisso com os pobres e a relação motora entre fé e vida. Um traço essencial na constituição da identidade das CEBs, que confere pertinência à experiência, é a dimensão de eclesialidade: CEBs como um novo jeito de ser igreja. O que configura, porém, novidade de “eclesiogênese” às CEBs é o novo modo de viver esta eclesialidade, sintonizada com o compromisso efetivo com os pobres e mais excluídos e o seu projeto de libertação integral.

    1. Uma história de fé e vida

    As CEBs no Brasil nasceram no contexto da rica fermentação popular que marcou o início da década de 60. Neste período, o contexto sócio-cultural e eclesial nacional foi pontuado pela presença viva de movimentos como a Ação Católica (em especial a Juventude Universitária Católica, Juventude Estudantil Católica  e Juventude Operária Católica) e o Movimento de Educação de Base (MEB). Tais movimentos lançaram as primeiras sementes de uma compreensão crítica do evangelho e da incidência da fé na história. Criaram as condições para a redefinição da atuação crítica dos cristãos no interior da igreja e da sociedade brasileira, apontando questões-chaves que prenunciaram e anteciparam os temas que emergiriam em seguida com a teologia da libertação e as comunidades eclesiais de base. O golpe militar de 1964 e seus desdobramentos posteriores bloqueou este processo, mas não impediu a dinâmica de rearticulação da pastoral popular na periferia das grandes cidades e no âmbito rural. As CEBs nascem nesta difícil conjuntura política, nas áreas sociais mais carentes, como pequena “flor sem defesa”, de forma simples e despojada, suscitando a afirmação da palavra dos pobres e excluídos a partir da reflexão bíblica. Da conjuntura eclesial mais ampla vinha a motivação decisiva. Vivia-se o clima primaveril do pós-concílio, secundado em seguida pelos novos desafios da Conferência de Medellín (1968).

     

    É difícil precisar com exatidão o momento de eclosão das primeiras experiências que deram  propriamente início às CEBs. Já a própria definição de CEBs é sujeita a interpretações não homogêneas, o que torna ainda mais complexa a tarefa de determinação de sua gênese. Alguns germes e sinais da experiência são apontados já no final dos anos 50. Entretanto, pode-se afirmar que foi mesmo a partir do Concílio Vaticano II (1962-1965), e no contexto do amplo movimento popular que sacudiu o Brasil na década de 60, que a experiência ganhou foro de cidadania. Conforme a indicação dos diversos relatórios elaborados em função dos encontros intereclesiais de CEBs no Brasil, constata-se que o processo forte da irradiação das CEBs no país veio no bojo de todo o contexto de renovação religiosa propiciado pelo Vaticano II. No restante da América Latina, as CEBs ( denominadas comunidades cristianas de base) surgiram um pouco mais tarde, incentivadas pelo clima eclesial que se seguiu à Conferência de Medellín e posteriormente confirmado no encontro de Puebla (1979). As CEBs ganharão também força expressiva em outros países, além do Brasil, como México, Equador, Nicaragua, El Salvador, Chile, Peru e Paraguai.

    A partir dos anos 70, a experiência das CEBs irradia-se por todo o Brasil, vivendo um momento de grande vitalidade. Pela força do testemunho e exemplo muitas experiências passaram a ser difundidas, e estavam garantidas pela radicalidade evangélica. Buscava-se uma igreja renovada, que pudesse assumir os problemas, as dificuldades e as alegrias dos empobrecidos: uma comunidade adulta, comprometida com Jesus Cristo, mas igualmente com o povo e a sua libertação; uma comunidade animada pelo Espírito e marcada pela vida de comunhão e de ajuda fraterna. Neste período surgem os encontros intereclesiais de CEBs, que foram fundamentais para o amadurecimento e incremento da experiência. Este encontros, iniciados no Brasil em 1975, visavam a partilha das experiências, da vida e reflexão presentes nas comunidades espalhadas pelo imenso pais. Tais eventos foram se afirmando desde então como espaços privilegiados de encontro dos animadores e agentes de pastoral das comunidades, mas sobretudo como importantes estruturas de apoio, animação da vida e de reforço da consciência de eclesialidade das comunidades.

    Durante a década de 80 as CEBs brasileiras estarão diante de uma série de interpelações, relacionadas às mudanças de conjuntura que ocorreram tanto no campo político como eclesial. Um dos temas centrais neste período relaciona-se à questão da identidade eclesial das CEBs . Os novos ventos da conjuntura eclesiástica internacional não sopravam mais a favor da experiência em curso. Inaugurava-se um tempo de “restauração” na igreja católica, com repercussões dolorosas para toda a pastoral libertadora latino-americana, e as CEBs em particular. A lógica do movimento centralizador assumido por Roma a partir deste período deixará rastros na igreja brasileira. As experiências mais inovadoras estarão no centro das atenções, das críticas e incompreensões. Em muitos casos, as CEBs serão o alvo predileto dos ataques, mas visava-se sobretudo o processo de evangelização em curso no Brasil e sua crítica contundente das injustiças sociais. As resistências e ataques impetrados visavam obstruir ou eclipsar a igreja brasileira, que neste período emergia como uma igreja criativa e profética aos olhos dos demais países. As dificuldades e incompreensões foram crescendo em ritmo proporcional à dinâmica de centralização e uniformidade do modelo eclesiástico vigente.

    A partir do final dos anos 80,  novos horizontes e desafios foram despontando e ampliando o campo de interesse das comunidades, como os temas da cultura, etnia, gênero, subjetividade, ecologia, espiritualidade, ecumenismo, diálogo inter-religioso etc. São temas complexos que vão ampliando sua visão, exigindo nova reflexão e disponibilidade, mas que se inserem dialeticamente, sem ruptura, na dinâmica das opções irrenunciáveis que traduzem o universo das CEBs. A ampliação de horizontes não significou uma perda de vitalidade das comunidades, estas continuam “vivas e a caminho”. A dureza e a conflitividade que acompanham o avanço neoliberal, bem como a retração eclesiástica, podem provocar aqui ou ali uma certa “desaceleração”, mas isto não significa uma perda de vitalidade da experiência. Os diversos encontros regionais das CEBs e os relatos divulgados pelos animadores de todo o Brasil manifestam a presença de um dinamismo real, só captado por aqueles que acompanham de perto a experiência e que acreditam na força de sua espiritualidade.

    1. A dinâmica interna de organização e funcionamento

    Nas comunidades eclesiais de base percebe-se nitidamente a reconquista de um espaço popular de religião. Instauram-se condições reais de reconstituição do tecido humano e social, num clima de solidariedade e partilha. Nasce um novo estilo de relacionamento entre os pobres, que começam a se reunir, à luz da Palavra de Deus, para pensar, falar e agir. O relacionamento ativa um potencial que é gerador de práticas efetivas de transformação. Constrói-se comunitariamente com as CEBs o espaço de emergência de uma nova  cultura e de uma nova prática das camadas populares.

    Um dos elementos mais significativas no histórico da experiência das CEBs é o processo de construção da identidade dos pobres. As comunidades no Brasil nasceram num período de forte repressão à palavra. Apesar de todo o clima sombrio e adverso, as CEBs conseguiram, mediante artimanhas singulares de resistência e luta, favorecer a afirmação da cidadania dos pobres como sujeitos sociais e eclesiais. Na sua peculiar dinâmica organizacional as pequenas comunidades abriram o espaço para a irrupção da palavra e instauraram o caminho para a expressão e a “fala do desejo”.  Segundo a antropóloga Carmen Cinira Macedo, “as reuniões tornam-se jogos de espelhos: todos se vêem uns aos outros como imersos num grande não. A sociedade lhes nega exatamente o que lhes acena como condição para a dignidade, para se perceberem como gente”. É aqui que entram em cena os agentes de pastoral, favorecendo um clima de acolhida e permitindo o aflorar das angústias coletivas. Eles atuam como dinamizadores e articuladores da “efervescência de emoções e idéias” que brotam da dor de um sentimento de exclusão. A partir da fala dos oprimidos, acenam “com uma perspectiva de libertação mediada pela tomada de consciência coletiva, calada na releitura dos textos e da mensagem sagrada. É o processo de reconhecimento do nós. São novas palavras de ordem, novas promessas, a perspectiva da chegada do Reino”. Trata-se de um trabalho pioneiro, sempre articulado e permeado pelo saber popular dos animadores e participantes das comunidades. Estes agentes sentem-se tocados pelo chamado da missão libertadora e facultam pedagogicamente o clima propício para a irrupção histórica dos pobres, de sua palavra e de sua ação crítica visando a solução de seus problemas. Toda esta dinâmica interna constitui uma iniciativa singular de rompimento do isolamento forçado e condição de possibilidade para uma nova cidadania. Um dos traços mais salientados nos cantos das comunidades é a força e o elã vital que expressam a descoberta deste novo olhar: “De repente nossa vista clareou, descobrimos que o pobre tem valor”. Os participantes afirmam que “passaram a enxergar”, uma forma particular de expressar a eclosão e o desenvolvimento de uma nova consciência, que os transformou em sujeitos e que será fundamental para a transformação de seu mundo. A experiência de comunidade possibilita também o despertar de uma dignidade até então eclipsada. Uma experiência vivida como enriquecimento pessoal: uma intensificação da qualidade de ser sujeito. Juntamente com a afirmação de sua dignidade humana, os pobres nas CEBs vão percebendo a importância da dimensão comunitária. A comunidade emerge como espaço de reconstituição do tecido humano e social numa sociedade marcada pela tessitura dissociativa. A comunidade gera um clima de troca (partilha), afetividade, reconhecimento, convivência, sociabiliadade e solidariedade. Clima este que confere identidade ao grupo e que é base fundamental para a emergência de uma consciência crítica. Os pobres em comunidade verificam que são comuns os problemas que os afligem, que todos têm o mesmo valor e merecem o mesmo respeito (experiência da igualdade na carência comum).

    É a partir desta percepção combinada da dignidade humana do sujeito e de uma carência coletiva, reforçada pela dinâmica evangélica de viver os valores do Reino, que vão se desdobrando as práticas efetivas em favor das transformações sociais. Não se pode relegar em todo este processo dinâmico de construção da cidadania dos pobres nas CEBs, um dado fundamental que é a dimensão da fé. Trata-se de um elemento essencial na conformação de seu universo motivacional. Daí ser necessário desenvolver um pouco mais pormenorizadamente o significado eclesial desta experiência.

    1. Um novo modo de ser igreja

    O novo modo de ser igreja nas CEBs representa para seus participantes uma mudança significativa no campo da experiência religiosa. Pode-se falar com pertinência em conversão, enquanto mudança acentuada na maneira pessoal e coletiva de se viver a experiência da própria religião. A modalidade da figura do convertido nas CEBs diferencia-se de outras duas modalidades identificadas com o fenômeno, ou seja, do convertido como aquele que muda de religião, ou aquele que descobre uma religião sem jamais ter pertencido a nenhuma. O caso das CEBs evidencia a trajetória de indivíduos que se reafiliam a uma mesma tradição, que redescobrem uma nova identidade religiosa, até então mantida formalmente. A inserção nas CEBs significa para seus membros a entrada num “regime forte de intensidade religiosa”, que provoca em âmbito vital uma reorganização ética e espiritual.

    Os participantes das comunidades passam a compartilhar de uma nova identidade, reorganizam seu “aparelho de conversa” sob novas bases. Como traço substancial da nova internalização favorecida pelas CEBs encontra-se uma relação distinta com o sagrado, que implica agora a centralidade da conscientização, um novo compromisso ético e político e a ênfase na participação em lutas populares. O sentimento de pertença à comunidade traz consigo uma nova visão de mundo, uma nova simbologia e outras práticas coletivas. Aderir à caminhada é identificar-se com um novo modo de ser católico que pressupõe coerência e compromisso ético e social no projeto de afirmação da vida.

    No processo de mudança que envolve a nova perspectiva eclesial ocorrem transformações significativas, o que pode ser exemplificado na dinâmica de participação. As CEBs instauram novas formas de participação dos leigos na vida de fé, nos serviços e na organização da comunidade. Eles passam a se sentir sujeitos eclesiais, rompendo o anterior “monopólio clerical” de poder, e assumem com responsabilidade os diversos serviços que vão brotando das necessidades históricas. Vale destacar a presença substantiva das mulheres, cuja participação e visibilidade nas CEBs é irradiante e fundamental, atuando em todos os campos da experiência.  Pesquisas realizadas nos anos 80/90 no Brasil com dioceses envolvendo experiências de CEBs revelaram, porém, que esta dinâmica participativa encontra limites bem definidos, que sinalizam a fragilidade institucional das comunidades. Constata-se a carência de mecanismos que favoreçam a influência de decisão dos leigos em âmbito mais amplo que o meramente local.

    Esta participação não se restringe ao campo eclesial, mas desdobra-se no empenho na sociedade. As CEBs sublinham como essencial o vínculo que articula o seguimento de Jesus com a luta em favor da transformação da sociedade. O critério da humanização é decisivo na práxis das CEBs e em sua forma de compreender o valor da experiência religiosa. As comunidades sempre pontuaram a centralidade do testemunho em favor do Reino de Deus, que passa necessariamente pela afirmação de vida dos pequenos e excluídos. A abertura ao social constitui um traço congênito das CEBs. Esta disposição e exigência nasce da própria relação motora entre fé e vida presente na hermenêutica bíblica popular vigente nas comunidades. Em conseqüência deste compromisso, não poucos animadores e agentes das CEBs sofreram a experiência do martírio. Esta atestada “prática martirial” presente nas CEBs constitui expressão da radicalidade evangélica que vem marcando a experiência desde seus primórdios. E estes mártires estão vivos na memória das CEBs: em suas celebrações, nas palavras, nas relíquias e tantos outros símbolos que adornam as casas, as roupas e os templos de seus membros. Como sublinha Dom Pedro Casaldáliga, “um povo ou uma igreja que se esquecem de seus mártires não merecem sobreviver”.

    1. A centralidada da Bíblia

    Um elemento que se destaca em todas as reflexões pertinentes sobre as CEBs é o lugar conferido à Bíblia nas experiência das comunidades. Ela constitui o “núcleo fundante” das CEBs, o elemento identificador de sua eclesialidade. Trata-se da base de sustentação e  vitalidade das comunidades, do núcleo conformador do universo motivacional dos empobrecidos. Foi a partir da reflexão bíblica que as primeiras comunidades de base emergiram, com os círculos bíblicos ou os grupos de evangelho, nos anos 60, e esta referência fundamental continuou acompanhando toda a trajetória comunitária.

    Com as CEBs instaura-se uma nova hermenêutica bíblica, propiciadora de uma leitura libertadora da Palavra de Deus. Trata-se de uma interpretação dinamizada pela opção em favor dos pobres, que traduz uma íntima ligação da Palavra com a vida do povo. A leitura bíblica vem enriquecida pelo con-texto da comunidade e pelo pre-texto da realidade. O resultado é sempre novidadeiro e mobilizador. Os problemas reais que afetam a vida do povo ganham uma nova iluminação pela Palavra, que lida em comunidade, suscita sentido e orientação na caminhada. Com a nova perspectiva, os pobres passam a reconhecer na Bíblia um livro familiar, que reflete como espelho a sua própria realidade; e reapropriam-se desta palavra que passa a significar para eles fonte de animação e vida. Nos últimos anos, as CEBs tem enriquecido a sua leitura popular com o aprofundamento da dimensão orante da Palavra: a Bíblia torna-se matéria de oração e de aprofundamento da espiritualidade. Ao lado da postura de familiaridade com a Palavra, aprofunda-se sua dimensão de gratuidade e de alteridade.

    Com base na reflexão bíblica, as CEBs possibilitam uma espiritualidade integradora, identificada como espiritualidade do seguimento de Jesus. Trata-se de uma experiência espiritual animada pela relação dinâmica de três elementos: de inserção no mundo, de compromisso com os  empobrecidos e de proximidade com o Senhor da história; uma experiência que envolve simultaneamente a consciência da presença de Cristo no irmão pobre e a abertura à gratuidade do mistério de Deus, que faculta uma presença mais decisiva e despojada no âmbito da história. Esta espiritualidade integradora tem suscitado alguns importantes desdobramentos, entre os quais a retomada da dimensão gratuita e orante. Sobretudo a partir da segunda metade dos anos 80, aprofunda-se a consciência da necessidade e importância do aprofundamento da vivência comunitária e pessoal do seguimento como proximidade do Senhor. Proximidade que convoca à experiência da gratuidade, que constitiu o clima que invade e banha a trajetória de solidariedade com os irmãos. Há um sentimento presente e crescente entre os participantes das comunidades, sintonizado com a demanda e aprofundamento da espiritualidade: de que a prática pastoral libertadora deve estar enraizada e sustentada na vida de oração. Com respeito à leitura da bíblia, vivamente presente nas comunidades, tem-se enfatizado a importância de um envolvimento mais orante, de forma que ela possa ser também saboreada com mais doçura e profundidade, enquanto palavra viva de Deus. Outro desdobramento diz respeito à retomada do valor da subjetividade. Para além da lógica de produtividade e eficácia, tão enfatizadas no tempo atual, as comunidades têm buscado garantir um espaço especial para o trabalho da dimensão pessoal da fé e para a intensificação da experiência de comunidade. Trata-se de um canal fundamental para garantir o equilíbrio entre as dimensões política e mística da fé. No mesmo movimento de percepção da singularidade da experiência de “proximidade”, as CEBs têm redescoberto a afetividade como um valor essencial da vida comunitária, que tece as redes primárias de sustentação da identidade de seus participantes. Busca-se assim realizar o compromisso essencial com a causa da vida e a opção pelos empobrecidos sem se negligenciar a dimensão e os direitos da subjetividade.

    1. Radiografia atual e perspectivas

    Para determinados setores da mídia e da intelectualidade, as CEBs estariam hoje vivendo uma situação de esgotamento e crise. No caso brasileiro, o argumento normalmente utilizado para explicar tal “refluxo” refere-se ao crescimento dos núcleos pentecostais evangélicos e a irradiação da renovação carismática católica. De fato, há que reconhecer que o crescimento das vertentes pentecostais evangélicas tem provocado uma mudança no campo religioso brasileiro, com incidência no enfraquecimento do “caráter de definidor hegemônico da verdade e da identidade institucional” tradicionalmente assumido pela igreja católica. Os dados estatísticos apresentados no último recenseamento demográfico do Brasil, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE – 2000) indicam um declínio progressivo da porcentagem de católico-romanos na população brasileira. O número de pessoas que se declararam católicos ficou em torno de 73,9% da população, o que equivale aproximadamente a 125,5 milhões de brasileiros. Por sua vez, há um crescimento substantivo dos evangélicos, sobretudo pentecostais, em torno de 15,45% dos declarantes brasileiros. Os evangélicos pentecostais mais do que dobram a cada década no país. Vale ainda registrar o crescimento daqueles que se declaram “sem religião”, que somam 7,3% da população geral. Esta última categoria não expressa, ipso facto, o aumento de ateus, pois uma significativa parcela dos que se declaram desta forma manifestam sua crença em Deus ou em forças transcendentes, ainda que não se sintam pertencendo a uma comunidade confessional. O que está indicado neste quadro, segundo os observadores, é um enfraquecimento das religiões como instituições.

    Ao estar inserida neste campo de progressiva pluralização religiosa, as CEBs deparam-se com esta questão do crescimento pentecostal. A relação das CEBs com os pentecostais não está desprovida de tensões ou conflitos localizados. Mas em geral, a afirmação pentecostal vem percebida não necessariamente como uma ameaça para as CEBs, mas como um desafio para o seu processo de inserção no mundo religioso plural e a ampliação de sua acolhida ecumênica e inter-religiosa. Este tema complexo, difícil e fundamental tem aparecido de forma viva nos últimos intereclesiais de CEBs. Durante o IX intereclesial, realizado na cidade de São Luis do Maranhão, no nordeste brasileiro (1997), um dos blocos temáticos tratou justamente da questão do diálogo com os pentecostais e carismáticos católicos. Sublinhou-se o desafio da busca da convivência cotidiana e do exercício dialogal comum nas ações e lutas concretas a favor do povo.

    As CEBs nunca tiveram a pretensão de uma abrangência massiva, mas sempre privilegiaram o trabalho comunitário, que é qualitativo e garantidor dos laços de fraternidade entre seus membros. O raio de envolvimento de sua presença pastoral foi sempre limitado, não atingindo mais que 9% da população local das dioceses animadas pela experiência comunitária. As formas de participação nas CEBs ocorrem de forma diferenciada. A grande força motora encontra-se nos núcleos de animadores e animadoras. Outra forma de pertencimento ocorre com os núcleos de participantes que se envolvem em uma ou mais de suas atividades. Há também os praticantes, ou seja, aqueles que reduzem sua participação às celebrações eucarísticas. São os núcleos dos animadores (as) e participantes que conferem maior visibilidade às CEBs, um núcleo que não ultrapassa 9% da população local. Um dos desafios enfrentados pelas CEBs, identificado com a pastoral de massas, consiste em buscar integrar de forma mais definida aqueles que se encontram distanciados do núcleo dinâmico das comunidades.

    O acompanhamento dos encontros intereclesiais de CEBs permite situar o processo de construção da identidade eclesial das comunidades, o seu momento atual e as perspectivas vislumbradas. Embora não representem propriamente o cotidiano das experiências em curso, já que expressam o seu momento celebrativo e festivo, tais encontros propiciam acompanhar sua dinâmica eclesial e as tendências presentes e em curso. A experiência dos encontros intereclesiais de CEBs nasceu no ano de 1975, visando uma maior articulação das comunidades espalhadas pelo Brasil. A experiência ganhou continuidade nos anos seguintes, expressando a riqueza e a vitalidade das comunidades. O X intereclesial aconteceu no ano de 2000, na cidade de Ilhéus (BA), congregando cerca de 3063 pessoas. O que se observa não é uma crise das CEBs, mas uma retomada de sua inserção social e eclesial a partir dos novos desafios que acompanham a entrada do novo milênio. Como indicou o cientista político e assessor das CEBs, Luiz Alberto Gómez de Souza, “as CEBs são vitais porque experimentais, ágeis e pluriformes”. Não constituem experiências fossilizadas ou engessadas, mas sempre antenadas e abertas aos novos horizontes. Para além das limitações de sua consciência real, elas se abrem para a consciência possível, indicando os repertórios inusitados e fundamentais para a vida da igreja no tempo atual.

    O último intereclesial de Ilhéus foi um termômetro preciso do atual momento das CEBs, sinalizando as grandes questões que envolvem a experiência. A questão ecumênica e inter-religiosa vai se firmando em bases mais serenas, sinalizando uma dinâmica de acolhida da alteridade. A presença cada vez mais incisiva das religiões afro-brasileiras e da questão indígena tem provocado nas CEBs o desafio de uma reflexão alternativa sobre a inculturação. Esta vem compreendida não como mera adaptação, mas como interpretação criadora. Na dinâmica do encontro com tais tradições propicia-se uma reinterpretação do conteúdo do próprio cristianismo, favorecendo a emergência de um novo rosto de igreja. Uma nova sensibilidade macro-ecumênica tem motivado as CEBs a ampliar seus braços, de forma a poder abraçar mais intensamente a diversidade, reconhecendo-a como expressão da riqueza multiforme do Deus sempre maior. E na comunhão das diversidades a busca de um compromisso comum e mais decisivo em defesa da vida ameaçada.

    O encontro de Ilhéus sinalizou igualmente a importância do aprofundamento da ministerialidade das CEBs. O sonho de uma igreja toda ministerial sempre acompanhou as comunidades, mas vem sendo cada vez mais acentuado nos últimos anos. Em contraponto com a tendência centralizadora vigente na igreja católica, as CEBs apontam teimosamente numa direção diversa, acreditando no sonho de uma igreja participativa e toda ministerial. A defesa deste quesito foi reforçada em Ilhéus pela palavra das mulheres, que sublinharam a necessidade de uma maior partilha e distribuição de poder na igreja, e de forma particular a sua presença nas várias instâncias de serviços e decisões. Relacionado à questão ministerial, emergiu também o tema do direito à eucaristia nas CEBs. Trata-se de um dos temas mais delicados, mas que vem sendo acentuado com vitalidade na experiência das comunidades brasileiras. As CEBs definem-se como comunidades celebrativas, mas encontram-se ainda privadas da possibilidade eucarística. Os dados estatísticos apontam um índice de 70% de celebrações dominicais sem padre nas comunidades do Brasil. Esta situação provoca uma séria questão para a teologia e a disciplina eclesiástica, como lembrou João Batista Libânio, outro assessor das CEBs: “o problema de aprofundar a questão do que significa a presença real eucarística nas celebrações sem ministros ordenados”. A experiência ministerial presente nas CEBs convoca a urgência de uma reflexão mais aprofundada sobre o protagonismo dos leigos e o campo de atuação e exercício dos novos ministérios não ordenados.

    1. A vocação missionária das CEBs

    Em sua exortação apostólica Evangelii nuntiandi (1975), Paulo VI indicou que a evangelização constitui a vocação própria da igreja. Mas esta evangelização vem entendida como realidade “rica, complexa e dinâmica”, envolvendo uma série de elementos essenciais, entre os quais destacam-se o testemunho e o anúncio do Senhor Jesus. A razão de ser essencial da evangelização é a de “tornar nova a própria humanidade” (EN 18). É verdade que não se pode negligenciar o anúncio explícito, que tem prioridade permanente na dinâmica de evangelização. Mas como sublinha com razão o teólogo Jacques Dupuis, trata-se de uma prioridade de ordem de importância “lógica e ideal”, mas não necessariamente “temporal”, pois pode ocorrer uma “proclamação silenciosa”, mas igualmente valorosa e eficaz da Boa Nova, mediante a presença, a participação e a solidariedade que acompanham o compromisso do testemunho (EN 21). As comunidades eclesiais de base assumem como sua vocação específica o testemunho vivo em favor do Reino de Deus e de seus traços na história. Enfatizam os valores fundamentais da solidariedade e da acolhida ao outro, sobretudo daqueles mais pobres e excluídos. Vivem e partilham a alegria de conhecer e seguir Jesus Cristo. Não escondem a riqueza de um encontro que é fruto do amor. Entendem também que a verdadeira compreensão de Jesus passa pela abertura ao mistério do Reino de Deus e pela realização histórica da vontade do Pai. A proclamação de Jesus Cristo ganha nas CEBs um itinerário peculiar.  Para as comunidades a proclamação se traduz pelo modo de vida, pelo testemunho, pelos atos e pelo diálogo com o diferente. E o testemunho fala muito mais forte, pois é resultado de uma caminhada de vida que busca em Jesus Cristo o seu horizonte e modelo: viver como ele, no meio dos outros, dos que sofrem e são excluídos, de buscar a realização de uma hospitalidade sagrada.

    Neste início de milênio, as CEBs permanecem vivas e teimosas no seu sonho de um projeto de igreja mais consoante com o seguimento de Jesus e o horizonte do Reino de Deus, de uma igreja que faz a opção pela história e pelos excluídos desta história, de uma igreja solidária e acolhedora, de uma igreja testemunho. Os ventos eclesiásticos não são os mais favoráveis, mas as comunidades estão acostumadas a sobreviver nas situações mais difíceis e foram aprendendo na história as artimanhas que mantêm acesa a chama de sua esperança.

    Bibliografia:
    Faustino TEIXEIRA. A fé na vida. Um estudo teológico-pastoral sobre a experiência das comunidades eclesiais de base no Brasil. São Paulo: Loyola, 1987; Id. A gênese das CEBs no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1988; Id. Os encontros intereclesiais de CEBs no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1996; Carmen Cinira MACEDO. Tempo de gênesis. O povo das comunidades eclesiais de base. São Paulo: Brasiliense, 1986; Clodovis BOFF et alii. As comunidades de base em questão. São paulo: Paulinas, 1997; Pierre SANCHIS (Org.). Catolicismo: cotidiano e movimentos. São Paulo: Loyola, 1992.

    Faustino Teixeira:
    Nasceu em Juiz de Fora (MG-Brasil) em 1954. Teólogo leigo, formado em Filosofia, Ciência da Religião e Teologia. Doutorou-se em Teologia Dogmática na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, em 1985, com tese sobre as Comunidades Eclesiais de Base no Brasil. Retornou à mesma Universidade nos anos de 1997-1998 para o pós-doutorado, sob a orientação de Jacques Dupuis. Lecionou no Departamento de Teologia da PUC do Rio de Janeiro, entre os anos 1978-1982 e 1986-1992. Desde 1989 é professor adjunto de Teologia das Religiões no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora. É também consultor do Instituto de Estudos da Religião ( ISER/Assessoria ) no Rio de Janeiro. Publicações, entre outras: A gênese das CEBs no Brasil (S. Paulo, 1988); A espiritualidade do seguimento (S.Paulo, 1994); Teologia das religiões: uma visão panorâmica (S. Paulo, 1995); Os encontros intereclesiais de CEBs no Brasil (S.Paulo, 1996).

     

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