Artigo

  • Globo e Moro iniciaram uma guerra civil no Brasil

    Há uma Guerra Híbrida muito intensa sendo travada no Brasil neste momento e afeta todas os aspectos da vida de cada cidadão, diz Andrew Korybko, autor de “Guerras Híbridas – Das Revoluções Coloridas aos Golpes”. O país entrou na mira desde a eleição de Lula, mas descoberta do pré-sal gerou novo ímpeto.

    A Lava-Jato foi uma farsa criada nos EUA para criminalizar a esquerda, prender Lula, quebrar a economia nacional e levar a eleição de um presidente entreguista e de extrema-direita. Trabalharam nessa operação, além dos EUA, parte substancial do Judiciário brasileiro e a Rede Globo, diz o historiador Carlos d’Incao, em artigo publicado em 04 julho de 2019 no seu blog em brasil247.

    Não há mais o que se debater sobre os vazamentos da Lava-Jato. Aquilo que começou em 2014 como rumor, tornou-se suspeita em 2015, mudou para convicção em 2016, virou lógica dedutiva em 2017, evoluiu para o bom-senso em 2018 até, enfim, se concretizar em provas materiais e irrefutáveis em 2019:

    A Lava-Jato foi uma farsa criada nos EUA para criminalizar a esquerda, prender Lula, quebrar a economia nacional e levar a eleição de um presidente entreguista e de extrema-direita. Trabalharam nessa operação, além dos EUA, parte substancial do Judiciário brasileiro e a Rede Globo.

    A partir da revelação da verdade, encontramos o que está em jogo no Brasil sob o ponto de vista conceitual: a República, a Democracia e a Constituição.

    Quem defende a Lava-Jato não quer a existência de instituições republicanas, refutam a democracia e querem rasgar a Constituição. Quem defende a anulação desse processo farsesco e a apuração das responsabilidades civis e criminais até as últimas consequências são os republicanos, os democratas e os constitucionalistas.

    Sérgio Moro quis ser a estrela desse espetáculo nefasto e ao ser acuado com a verdade resolveu dobrar a aposta. Não fez isso sozinho. Ao lado dele está a Rede Globo, a irmã siamesa da manipulação das massas, do entreguismo e da ditadura militar.

    Moro age, como pessoa física, defendendo os seus próprios interesses políticos que resultam justamente na destruição da democracia. A Rede Globo age, como pessoa jurídica, a favor dos interesses do mercado que quer – a qualquer custo – aprovar a Reforma da Previdência.

    Sob os escombros de tudo o que ocorreu desde 2013 encontramos um país que não conseguirá nunca mais se reconciliar. Os apoiadores do atual governo possuem um ódio visceral de todos aqueles que defendem a República, a Democracia e a Constituição. A recíproca é verdadeira aos opositores de Moro, Bolsonaro et caterva. O país que estava em ebulição evoluiu, a partir da Vaza-Jato, em uma nação em estado de guerra civil.

    Os últimos dois degraus a este estágio decisivo em nossa História coube ao Moro e sua arrogância e a Globo em sua soberba em continuar a desprezar a verdade, ainda que escancarada em suas portas.

    Em épocas de guerra civil as vias institucionais servem apenas ao lado que está vencendo a guerra. E quem está vencendo nesse momento – não tenhamos dúvidas – é a extrema-direita. Por essa razão é que assistimos o STF se auto negar como instituição, o Congresso e o Senado acelerar a Reforma da Previdência e um presidente que se basta assistindo jogo da seleção e debatendo sobre a possível mudança da tomada de três pinos.

    O tempo sempre joga a favor de quem está ganhando. Haveria outra razão de o STF, em pleno escândalo dos vazamentos, adiar o mérito da suspeição de Moro no processo contra Lula, para depois do recesso? Do outro lado, outros processos contra Lula vão de vento em popa… inclusive o infame processo do Sítio de Atibaia…

    Esqueçam. A extrema-direita está no comando e ela não vai deixar Lula ficar livre. Resta a Lula apenas a esperança de ser libertado. E aqui temos uma questão semântica importante. Ficar livre significa ter a proeza de sair vitorioso em um processo judicial moroso e viciado. Ser libertado significa justamente romper o processo judicial pela força e nas ruas.

    A grande problemática dessa guerra civil é que não temos setores autóctones que poderão vir a se tornar beneficiados pela vitória da direita, ou seja, a direita vence e o Brasil acaba.

    A defesa do Brasil e de sua soberania está em jogo, isso sempre soubemos. Porém, a falta de clareza das lideranças políticas progressistas e sua torpe esperança de que “caso sejamos comportados os donos do poder nos permitirão voltar a governar” envenenam a luta política e pode levar o país e os movimentos sociais a um processo de profunda crise de esperança e perspectiva.

    A morte da esperança e da perspectiva é a ante-sala da vitória da direita. Urge a necessidade da radical defesa do Estado de Direito e da denúncia forte e beligerante contra a direita e os seus entreguistas. A esquerda não pode mais gritar em falsete no parlamento. A voz tem que ser forte o suficiente para levantar as ruas.

    O tempo é de guerra. Saber disso é fundamental. Devemos lembrar, inclusive daqueles que souberam do seu significado. E não precisamos de tanto. São Tomás de Aquino afirmou em suas “Confissões” que “em uma fortaleza assediada, qualquer dissidência é traição”. E a traição hoje é não partir para a guerra, pelo Brasil, pela República, pela Democracia e pela Constituição.

  • Mapa criativo dos rios do Brasil

    Com uma das redes fluviais mais extensa e diversificada do mundo, o Brasil vê suas bacias fluviais ganharem vida em tons de azul, vermelho e amarelo. Trabalho feito por um cartógrafo húngaro Robert Szucs, de 33 anos, que pintou o Brasil e vários países para mostrar sua visão artística de “centenas de milhares de córregos e rios”.

    O projeto River Maps, ou “Mapas de Rios” em português, vem sendo desenvolvido por ele há três anos e mostra cada bacia representada por uma cor.

    “Eu amo a natureza e cresci perto de dois rios”, disse o cartógrafo-artista à BBC News Brasil, “mas a maioria dos mapas hidrográficos que eu via nos livros, online e por toda a parte era pouco inspiradora para mim. Eles traziam todos os rios azuis e todas as linhas iguais. Foi aí que eu quis tentar criar mapas precisos e científicos, mas também bonitos – a ponto de levar as pessoas a quererem colocá-los na parede”.

    Com uma das redes fluviais mais extensas e diversificadas do mundo, o Brasil vê suas bacias ganharem vida no trabalho dele em tons de azul, vermelho, roxo e rosa, por exemplo.

    O criador de mapas Robert Szucs pintou o mundo e várias regiões dele separadamente, incluindo o Brasil.

    O retrato é de “um dos países mais bonitos do mundo e sem dúvida o que tem o rio mais famoso”, diz Szucs, se referindo à Bacia Amazônica, a rede hidrográfica mais extensa do planeta.

    Ao todo, a galeria online exibe cerca de 160 mapas, incluindo um dos Estados Unidos que cita como “o favorito, por ter sido um dos primeiros” que criou e aquele que tornou seu trabalho “conhecido internacionalmente”.

    A maioria dos mapas é criada a partir de dados de satélite e modelos digitais de elevação – que na prática, são modelos digitais que representam as altitudes da superfície topográfica agregadas a elementos como cobertura vegetal e edificações. A construção da galeria, segundo ele, é contínua. Novas partes do mundo vão, aos poucos, sendo acrescentadas.

    Szucs se apresenta como uma mistura de geógrafo, cartógrafo digital e artista.

    Ele é analista de Sistemas de Informações Geográficas e vem viajando o mundo em trabalhos voluntários de criação de mapas para Organizações Não Governamentais com atuação em áreas como arqueologia, biologia e conservação ambiental.

    Bacia amazônica é destaque em mapa da América do Sul.

    Essas experiências, afirma, têm refletido diretamente no seu trabalho e uma delas em especial inspira outra galeria que fez incluindo o Brasil: são mapas de cobertura florestal, de cerca 40 países.

    “Os mapas de florestas vieram depois dos mapas de rios. Eles foram inspirados pelo tempo que passei na Indonésia e vivi em uma floresta tropical por 6 meses, voluntariando e fazendo mapas em um centro de proteção de orangotangos”, explica.

    O Brasil também aparece em galeria sobre coberturas florestais, inspirada em viagem que ele fez à Indonésia.

    O Brasil, segundo ele, “com certeza” deverá aparecer em futuras séries, mais uma vez colorido.

    Agora, o plano do geógrafo é fazer uma residência artística para se concentrar na criação de novas artes e mapas.

    “Depois disso, eu gostaria de criar um livro com esses mapas, mostrando às pessoas a importância da conservação da natureza e tratando de questões ambientais, como perda de biodiversidade e crise do plástico”.

    Mapas de elevação e de cidades também deverão surgir, mas a natureza está no centro dos trabalhos.

  • A onda pentecostal na política brasileira

    Às vésperas de um novo Censo e de nova eleição a atuação dos pentecostais na política brasileira é um tema que move religiosos, analistas e políticos dos mais diversos matizes ideológicos. Este artigo, de Otávio Dias, é uma síntese do seminário “Os evangélicos na sociedade e na política: causas, efeitos e significados de uma influência crescente”, realizado na Fundação F H C com participação de dois pesquisadores:
    Ricardo Mariano, professor do Departamento de Sociologia da USP e pesquisador do CNPq e
    Ronaldo de Almeida, professor do Departamento de Antropologia da Unicamp e diretor científico do CEBRAP.

    Uma publicação de referência sobre os dados de Religião do Censo 2010 é Religiões em Movimento organizada pelo Iser Assessoria, por Faustino Teixeira e Renata Menezes e publicada pela Vozes, 2013, 352p.

    Segue o artigo

    No censo do IBGE de 2010, os evangélicos e protestantes representavam 22% da população brasileira e hoje já devem estar perto de um terço, sendo que os pentecostais protagonizam a expansão em curso. Ao mesmo tempo, há diminuição do número de brasileiros que se dizem católicos: em 2010, eram 65%, mas esse percentual deve apresentar nova queda no censo programado para 2020.

    À medida que se tornam mais numerosos nas periferias das capitais e regiões metropolitanas, em cidades de pequeno e médio porte do interior e nas novas fronteiras agrícolas das regiões Norte e Centro-Oeste, os evangélicos estão mais ativos politicamente, não somente na disputa de cargos legislativos e executivos nos três níveis de governo, mas também na busca por influenciar a pauta político-social em temas morais, comportamentais e até mesmo econômicos.

     “Hoje em dia não é possível refletir sobre a democracia brasileira sem levar em conta o ativismo político evangélico. Foi-se o tempo em que eles eram ‘outsiders’ na política” (Ricardo Mariano).

    “Em que momento as duas curvas (acima) vão se encontrar? Alguns demógrafos preveem que isso ocorra em meados da década de 2030, ou seja, dentro de uns 15 anos” (Ronaldo de Almeida).

    Segundo Ronaldo, autor de “A Igreja Universal e seus demônios” (Edit. Terceiro Nome, 2009), no início dos anos 2000 imaginava-se que o crescimento dos evangélicos bateria num teto, mas essa tendência se manteve e tem se dado em várias camadas e em todo o país, com predominância entre os mais pobres, menos escolarizados e não brancos.

    “Existe uma percepção de aceleração desse movimento de tal forma que é de se esperar que no censo de 2020 haja uma aproximação ainda maior das duas linhas. No anel metropolitano do Rio de Janeiro já há equilíbrio entre as populações evangélica e católica e naquele estado, assim como em Rondônia, os católicos já são menos de 50%”, disse.

    Mulheres ‘puxam’ conversões

    A expansão contínua desde os anos 1960 se deve a um “incansável, eficiente e vigoroso proselitismo, levado a cabo também por leigos, especialmente as mulheres”, afirmou Ricardo, autor de “Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil” (Edições Loyola, 2018). “São elas que recrutam e convertem seus maridos, filhos, vizinhos e colegas de trabalho”, contou.

    A relativa fragilidade institucional do catolicismo, devida à elevada proporção de católicos não praticantes e ao número insuficiente de sacerdotes no Brasil, facilitou o sucesso dos concorrentes: 44% dos evangélicos têm origem no catolicismo, enquanto 90% dos católicos nasceram na própria igreja.

    Além disso, segundo os palestrantes, as igrejas pentecostais são hábeis em lidar com as necessidades e os anseios das camadas mais pobres da população:  adaptam o chamado religioso à sua realidade material e cultural, oferecem apoio espiritual, emocional, terapêutico e assistencial aos fiéis, formam redes comunitárias de apoio e sociabilidade e, ao estabelecer padrões morais e comportamentais bem definidos, contribuem para melhorar a qualidade e o nível de vida dos membros e de suas famílias.

    Nova paisagem visual e auditiva’

    “Ao andar pelas ruas das periferias e cidades do interior, vemos grande número de pequenas igrejas, versículos pintados nos muros, grupos de fiéis com a Bíblia embaixo do braço e ouvimos música gospel por toda parte”, falou Ronaldo de Almeida.

    Segundo o organizador da coletânea “Conservadorismos, fascismos e fundamentalismos: análises conjunturais” (Edit. Unicamp, 2018, em parceria com Rodrigo Toniol), o crescimento do pentecostalismo está relacionado à percepção de aumento da violência nas regiões periféricas e à presença do crime organizado, principalmente o tráfico de drogas.

    “O dinamismo evangélico tira proveito da criminalidade cada vez mais espalhada pelo país, pois muitas pessoas, para se sentirem mais seguras ou até mesmo para se afastar do crime, buscam refúgio nas igrejas evangélicas, onde encontram um sentido e uma identidade para suas vidas ou até mesmo uma espécie de salvo conduto”, explicou o antropólogo com pós-doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris).

     Domesticação religiosa

    Embora não haja dados empíricos que comprovem que a adesão ao pentecostalismo resulte em melhoria de renda e qualidade de vida dos fiéis, os dois palestrantes concordaram que a conversão melhora a autoestima e dá uma nova perspectiva de vida e de futuro.

    Os jovens tendem a se casar mais cedo, devido às restrições sexuais antes do casamento, e, embora nem sempre tenham escolaridade ou renda suficiente para formar uma família, evitam se envolver com problemas nas ruas. “Existe uma virtuosidade nos vínculos que se criam entre os irmãos de fé, pois uns ajudam os outros prioritariamente, trocam informações de trabalho e há um fortalecimento dos laços sociais”, disse.

    Onda conservadora

    Apesar de existir diversidade de opiniões também no universo evangélico, com igrejas e pastores que se posicionam claramente em defesa dos direitos humanos e das minorias, em parceria com entidades não religiosas da sociedade civil, quem tem dado o tom na arena política é o núcleo evangélico mais conservador.

    “Há diversidade no mundo evangélico, com segmentos mais à esquerda ou progressistas, mas os setores mais moralistas ou conservadores são hegemônicos e têm sido bem mais atuantes do ponto de vista eleitoral. Participam ativamente da atual onda conservadora, sendo constituintes e constituídos por ela, às vezes como pano de fundo, outras vezes como protagonista desse conservadorismo”, disse Ronaldo.

    Ricardo lembrou que, na Assembleia Constituinte que elaborou a Constituição de 1988, os evangélicos já se faziam presentes, com uma bancada de 32 integrantes. Desde então, buscaram aumentar sua influência política com base em uma bancada crescente de parlamentares e na obtenção de novas concessões de rádio e TV. Nesses processos, assumiram o controle ou criaram novos partidos, passaram a presidir comissões parlamentares e a ocupar ministérios e secretarias. Atualmente, a bancada evangélica soma 90 deputados federais e 9 senadores, além de deputados estaduais, vereadores, prefeitos e governadores.

    Apoio decisivo

    Em 2018, os evangélicos deram apoio decisivo à eleição de Jair Bolsonaro à Presidência da República. Entre os evangélicos, o candidato do PSL obteve 11,5 milhões a mais do que Fernando Haddad (PT). A diferença entre os dois candidatos no segundo turno foi de quase 11 milhões de votos. Veja abaixo tabela que mostra em quem votaram os adeptos de diferentes religiões nas eleições do ano passado.

    “A polarização política que se deu nos últimos anos colaborou para consolidar uma direita política cristã, fenômeno muito conhecido nos Estados Unidos, mas que demorou décadas para se constituir no Brasil”, falou Ricardo Mariano.

    Segundo o sociólogo, o núcleo duro do conservadorismo evangélico, anti-aborto, pró-família tradicional, antifeminista e anti-LGBT, expandiu seus interesses a outras áreas, transformando a escola pública e o material didático em campo de batalha. “Os parlamentares evangélicos são os principais proponentes dos diversos projetos do tipo ‘escola sem partido’ nos legislativos federal, estadual e municipal”, disse.

    Teologia da prosperidade’

    As lideranças evangélicas também passaram a defender proposições “de direita” no campo penal e ideias mais liberais na economia, estimulando por exemplo o empreendedorismo por parte de seus membros, em substituição a um assistencialismo que caracterizou a ação da Igreja Católica por muitas décadas.

    “Essa ‘teologia da prosperidade’ abandona a crítica à desigualdade social e a confiança na providência de Deus e passa a valorizar a ascensão individual, ao defender que melhorar de vida é desejável do ponto de vista religioso”, disse Ronaldo de Almeida.

    Segundo o antropólogo, as igrejas têm sido competentes não apenas em elevar a auto-estima e a disposição de seus membros de tomarem as rédeas de suas próprias vidas, mas têm organizado cursos sobre como gerir um negócio, ainda que informal, e “enfim se tornarem patrão nas relações de trabalho”.

    Ainda segundo o professor da Unicamp, o atual discurso desse núcleo evangélico mais conservador se baseia em quatro “linhas de força”:

    1. Defesa da moralidade e de princípios éticos e comportamentais: segundo o pesquisador, esse seria o campo em que os evangélicos são protagonistas, na defesa da proibição do aborto mesmo nos casos hoje permitidos por lei, na crítica à educação sexual nas escolas e na oposição à ‘ideologia de gênero’, ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e à adoção de crianças por casais homoafetivos, entre outros temas que dividem a sociedade ;
    2. Discurso de valorização da ordem: apoio a medidas mais duras contra a criminalidade, como endurecimento de penas, redução da idade de maioridade penal, flexibilização da posse de armas etc;
    3. Dimensão econômica: defesa de um Estado menos interventor nas relações sociais e econômicas e menos ‘assistencialista’, com valorização da ideia de ascensão social a partir do próprio trabalho e do estímulo ao empreendedorismo individual e familiar;
    4. Aposta na demonização religiosa e na polarização ideológica e política:exacerbação das críticas a outras religiões, em especial aquelas fora da tradição judaico-cristã, e a partidos e movimentos de esquerda.

    Nova maioria cristã’

    Ronaldo alertou para a tentativa de imposição de uma moralidade pública baseada na ideia de uma “nova maioria cristã”. “Apesar de uma maioria evangélica-protestante ainda não ser uma realidade no Brasil, pouco a pouco os líderes pentecostais mais conservadores e combativos começam a bater na tecla da supremacia de uma maioria judaico-cristã, que incluiria os católicos. Quem não estiver de acordo que se sujeite ao desejo da maioria”, disse, alertando para o risco de essa visão se tornar hegemônica.

    “Até recentemente, a efetividade dessa vasta pauta evangélica-conservadora tem sido relativamente limitada, mas o impacto dela já é grande na sociedade e deve aumentar, eventualmente obtendo vitórias importantes na definição da normatividade jurídica e de políticas públicas”, concluiu Ricardo Mariano.

    Publicação de Otávio Dias / Fundação FHC – 09 de maio de 2019
    Imagens do site da Fundação FHC

    Veja o Vídeo Resumo do debate (5 min):
    https://www.facebook.com/fundacaoFHC/videos/465093537558480/

  • Sobre a Lava Jato como operação política

    Nós pensávamos que a operação Lava Jato era um vasto empreendimento contra a corrupção no Brasil.
    Mas, pouco a pouco – muito antes das revelações do The Intercept Brasil -, fomos surpreendidos por várias irregularidades e ilegalidades cometidas pelos procuradores de Curitiba, chefiados por Deltan Dallagnol, e pelo juiz Sérgio Moro. Tais irregularidades foram denunciadas pelas vítimas, por seus advogados e por setores da sociedade civil defensores dos direitos humanos, mas foram ignoradas por juiz e procuradores e por outras instâncias da Justiça.

    1. A prisão preventiva de vários suspeitos, antes mesmo de haver provas de seu envolvimento com atividades criminosas. A prisão foi utilizada como um meio de pressão sobre os acusados para obter delações. Se o acusado recusava a delatar, a prisão era estendida – com a ameaça de tornar-se duradoura – para levá-lo a ceder.
    2. A condução coercitiva dos suspeitos. Os suspeitos eram alvo de condução coercitiva, com forte presença policial, antes de haver qualquer intimação – que é o procedimento legal. Pela lei, primeiro a pessoa é intimada a comparecer para depoimento; não comparecendo, sem justificativa, a pessoa pode ser levada através de condução coercitiva. Foram feitas mais de 200 conduções coercitivas. A condução coercitiva foi feita como uma forma de intimidar a pessoa e, ao mesmo tempo, graças à presença da mídia – avisada com antecedência -, como uma forma de humilhá-la publicamente, para manipular a opinião pública contra a pessoa.
    3. O papel da grande mídia: a operação Lava Jato articulou-se com a grande mídia, vazando depoimentos, vazando delações sistematicamente, como forma de colocar a opinião pública em favor de suas iniciativas. As delações não eram vazadas na íntegra, apenas naqueles trechos que interessava divulgar para obter a indignação da opinião pública contra os suspeitos designados pela Lava Jato.
    4. A parcialidade da operação foi denunciada inúmeras vezes pela defesa das vítimas, mas foi sistematicamente negada: o principal partido acusado pela Lava Jato foi o PT e suas lideranças, a presidente da República, Dilma Rousseff e Lula, ex-presidente; outros partidos foram acusados, outras lideranças foram denunciadas, mas rapidamente saíram do noticiário ou foram poupados pela operação. O partido mais favorecido por esta proteção foi o PSDB. A grande mídia transformava os fatos denunciados em relação a políticos do PT como a “maior história da corrupção na história do Brasil”. Criou-se na opinião pública a ideia de que a corrupção começou no Brasil com o PT e que seus membros eram uma espécie diferente de todos os demais políticos.
    5. As delações foram o principal instrumento da operação Lava Jato: eram oferecidas como único meio de a pessoa recuperar a liberdade (ou obter prisão domiciliar). Os envolvidos ou suspeitos eram pressionados até incriminarem alguém do PT (ou o alvo designado na ocasião). O caso emblemático foi o diretor da OAS, que teve a delação negada até incluir o nome de Lula: só então, a delação foi aceita.
      No decorrer do tempo, inúmeros suspeitos denunciados e/ou presos foram inocentados ou absolvidos em segunda instância. Mas sua reputação já estava manchada definitivamente. A grande mídia, que contribuiu para condená-los, jamais contribuiu para limpar seu nome. Nunca os operadores da Lava Jato fizeram autocrítica ou pediram desculpas publicamente pelo erro de acusarem pessoas inocentes. A opinião pública, já convencida de sua culpabilidade, ajudou a “lavar” estes “efeitos colaterais”, considerado o “preço a pagar” para acabar com a corrupção.
      Aqui a regra da presunção de inocência nunca funcionou e o direito dos acusados à defesa foi atropelado sistematicamente.
    1. As delações foram tratadas pela operação Lava Jato e pela grande mídia não como indícios, passíveis de serem comprovados ou não, mas como provas. O que aparecia numa delação era apresentado como verdade definitiva e os citados numa delação eram condenados pela mídia antes de qualquer julgamento.

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    As trocas de mensagens reveladas agora pelo The Intercept Brasil confirmam o fundamental das denúncias que foram feitas durante anos e que foram ignoradas tanto por outras instâncias ou pela maioria dos membros de órgãos superiores da Justiça como pela grande mídia.

    O grande objetivo desta operação foi a destruição do PT – o afastamento da presidente Dilma do poder, a condenação do ex-presidente Lula e sua prisão, com o consequente impedimento de sua candidatura (para impedir a volta do PT ao poder).

    As mensagens trocadas entre o juiz Sérgio Moro e os procuradores confirmam a parcialidade do juiz e dos procuradores, que não tinham como objetivo acabar com a corrupção no Brasil, mas fundamentalmente aquela que podia ser ligada ao PT. Uma troca de mensagens mostra que o juiz interfere diretamente para impedir que o ex-presidente FHC, líder do PSDB, fosse investigado, de modo a não prejudicar a condenação do PT. Era preciso que não se percebesse a semelhança entre a forma de financiamento do Instituto Lula e a do Instituto FHC.

    O processo contra Lula é eivado de irregularidades. As mensagens reveladas confirmam que os procuradores não tinham provas contra o ex-presidente, tinham apenas “convicções”, e que tiveram de fazer malabarismos – como o famoso power point de Deltan Dallagnol – para vincular o processo do tríplex ao processo sobre a Petrobras, como forma de transferir o processo de São Paulo para Curitiba (juiz Moro). Aumentaram artificialmente as denúncias para convencer a opinião pública da culpa de Lula. Em outras palavras, juiz e procuradores mentiram.

    Ao condenar Lula e levá-lo à prisão, a operação Lava Jato foi elemento determinante para viabilizar a vitória de Bolsonaro nas eleições presidenciais. Isto fica claro nas medidas tomadas para impedir que Lula fosse entrevistado durante a campanha eleitoral: juiz e procuradores explicitam que queriam evitar que isto pudesse ajudar a vitória do candidato do PT. A medida proibitiva não tinha fundamento jurídico, mas político-partidário.

    E, graças à eleição de Bolsonaro, o juiz Sérgio Moro – aquele mesmo que tirou Lula da disputa eleitoral – foi elevado ao Ministério da Justiça.

    O que ocorreu foi uma aliança entre procurador e juiz para praticar um crime, a condenação de alguém de quem se sabe que não há provas. Os sucessivos vazamentos realizados pela operação Lava Jato para a grande mídia, especialmente para a Globo, antes de haver investigação para verificar a veracidade das delações, criaram um clima de execração pública de pessoas, de um governo e de um partido (da presidente Dilma, de Lula, do PT). O ódio ao PT, o antipetismo, tem sua raiz nesta campanha.

    Este mesmo método, usado por Moro, nós vimos ocorrer na investigação ocorrida na UFSC, onde Reitor e vários diretores foram denunciados e presos por ordem de uma delegada, por um suposto crime de improbidade administrativa (o qual não foi provado até hoje). Mas Reitor e diretores foram expostos à condenação pública sem processo prévio. O resultado da humilhação pública foi o suicídio do Reitor. Até hoje ninguém foi processado e responsabilizado por esta morte. É como se qualquer iniciativa fosse justificável quando se trata de combate à corrupção.

    Toda a operação Lava Jato foi exaltada como um empreendimento de justiça e de direito, mas foi realizada com sistemática parcialidade e sistemática violação de direitos das pessoas consideradas suspeitas (prisões preventivas sem justificativa, conduções coercitivas, vazamentos, divulgação de conversa com presidente em exercício, monitoramento de escritórios de advocacia), com evidentes fins políticos.

    A partir das denúncias da Lava Jato, a mídia apoiou com todo o seu poder uma campanha para derrubar a presidente eleita. E conseguiu. O principal líder do PT, Lula, foi processado, condenado e preso. Em consequência deste impedimento, um candidato antidemocrático, defensor da tortura e da ditadura, foi eleito. É preciso dizer que as instâncias superiores da Justiça, em particular o STF – não todos os ministros, mas a maioria – se omitiram frente às ilegalidades cometidas pelo juiz Sérgio Moro ou mesmo contribuíram ativamente para proteger as irregularidades e ilegalidades da Lava Jato.

    Não se trata de negar que tenha havido falhas nos governos do PT, que devem ser investigadas como aquelas de qualquer governo. Mas o antipetismo que existe hoje em parte da sociedade é resultado direto da associação das denúncias da Lava Jato com a divulgação de vazamentos seletivos e pela interpretação sistemática dada pela grande mídia de que se tratava da “maior história de corrupção da história do Brasil”. Dilma que, ao ser derrubada, era considerada a maior corrupta, até hoje não foi condenada em nenhum processo. Lula foi condenado em primeira e segunda instância num processo em que – segundo inúmeros juristas brasileiros e do exterior que o examinaram – não aparecem provas.

    É preciso que se faça Justiça no Brasil, que os erros cometidos por setores do poder Judiciário sejam investigados e corrigidos. Que os julgamentos presididos por um juiz parcial sejam anulados. Que as atividades ilegais deste juiz e destes procuradores sejam condenadas. E que o sofrimento infligido a inúmeras vítimas de difamação pública seja reparado.

  • A Igreja é contra essa Reforma da Previdência

    O bispo de Londrina, Dom Geremias, tem recebido inúmeros ataques por ter publicado uma Cartilha, elaborada por um corpo técnico da diocese, de Orientação Contra essa Reforma da Previdência.

    A Arquidiocese de Londrina, através de uma equipe composta por agentes das pastorais sociais e de advogados, constituiu uma Cartilha de orientação sobre a Reforma da Previdência. Por causa disso tem recebido inúmeros ataques à postura evangélica da arquidiocese, e principalmente, ao seu pastor Dom Geremias, legítimo sucessor dos apóstolos, por oportunismo e falta de conhecimento da missão da Igreja no mundo, que é defender os mais pobres.

    A Igreja, quando fala em distribuição justa de bens econômicos, materiais, financeiros e também da garantia dos direitos sociais, conquistados a duras penas, ela é acusada, por algumas pessoas desinformadas e mal intencionadas, de pregar o comunismo e o socialismo.

    Como dizia Dom Helder Câmara: “Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto porque eles são pobres, chamam-me de comunista”.

    Publicamos a seguir artigo de José Cristiano Bento dos Santos, padre da Arquidiocese de Londrina, publicado hoje por IHU, que esclarece o posicionamento da Igreja contra a proposta de Reforma da Previdência.

    Segue o artigo.

     

    Estamos passando por momentos de debates sobre a Reforma da Previdência que tramita no Congresso Nacional e de ataques violentos à Igreja, porque a mesma é contra essa reforma que ameaça destruir direitos sociais dos pobres, conquistados em 1988 com a promulgação da Constituição Federal.

    A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), no dia 28 de março de 2019, divulgou uma nota sobre a Reforma da Previdência, na qual os bispos elencam alguns pontos da Proposta de Emenda à Constituição, PEC 06/2019, considerando que a mesma escolhe o caminho da exclusão social e, diante desta constatação, convocam os cristãos e pessoas de boa vontade “a participarem ativamente desse debate para que, no diálogo, defendam os direitos constitucionais que garantem a cidadania para todos”.

    Ainda, durante a 57ª Assembleia Geral da CNBB, em maio de 2019, (acesse o link aqui), conscientes dos possíveis danos sociais que a Reforma poderá causar aos pobres, profetizam os bispos: “Nenhuma reforma será eticamente aceitável se lesar os mais pobres. Daí a importância de se constituírem em autênticas sentinelas do povo as Igrejas, os movimentos sociais, as organizações populares e demais instituições e grupos comprometidos com a defesa dos direitos humanos e do Estado Democrático de Direito.”

    Em comunhão com a CNBB, a Arquidiocese de Londrina, através de uma equipe composta por agentes das pastorais sociais e de advogados, constituiu uma cartilha de orientação sobre a Reforma da Previdência. Mas, infelizmente, há inúmeros ataques injustos, violentos à postura evangélica da arquidiocese, e principalmente, ao seu pastor Dom Geremias, legítimo sucessor dos apóstolos, por oportunismo e falta de conhecimento da missão da Igreja no mundo, que é defender os mais pobres.

    A Igreja, quando fala em distribuição justa de bens econômicos, materiais, financeiros e também da garantia dos direitos sociais, conquistados a duras penas, ela é acusada, por algumas pessoas, de pregar o comunismo e o socialismo. Isso, sem a Igreja anunciar com radicalidade o comportamento do cristianismo primitivo: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles era comum. Nem havia entre eles nenhum necessitado, porque todos os que possuíam terras e casas” (At 4, 32-34). Todavia, isso revela a falta de conhecimento e indiferentismo, sobre os princípios da Instituição católica, que estão fundamentados na Doutrina Social da Igreja: “com o seu ensinamento social a Igreja entende anunciar e atualizar o Evangelho na complexa rede de relações sociais” […] “A doutrina social tem o seu fundamento essencial na Revelação bíblica e na Tradição da Igreja” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, números 62 e 74).

    Há sempre aquela justificativa que “padre e bispo, os pastores do povo, têm que cuidar da alma das ovelhas”. No entanto, o próprio Catecismo, compêndio da doutrina católica afirma: “A Igreja emite um juízo moral, em matéria econômica e social, quando o exigem os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas. A Igreja se preocupa com aspectos temporais do bem comum em razão de sua ordenação ao Sumo Bem, nosso fim último. Procura inspirar as atitudes justas na relação com os bens terrenos e nas relações socioeconômicas” (Catecismo da Igreja Católica, nº 2420).

    O Brasil é um país considerado cristão, por causa dos 75.000 milhões de católicos e evangélicos, que supostamente aderiram essa profissão de fé tradicional. No entanto, é um país contraditório: com uma grande riqueza, ao mesmo tempo abriga dezenas de milhões de pessoas pobres e mesmo famintas, sem casa, sem terra, sem renda justa e sem trabalho. Percebe-se, assim, que é um Brasil de cristãos sem Cristo.

    Para o economista Celso Furtado, o Estado é o instrumento privilegiado para enfrentar os problemas estruturais como, concentração de terra, concentração de poder, concentração de renda, exclusão social e desigualdades abissais. E segundo ainda, a CNBB (57ª Assembleia Geral): “A opção por um liberalismo exacerbado e perverso, que desidrata o Estado quase ao ponto de eliminá-lo, ignorando as políticas sociais de vital importância para a maioria da população, favorece o aumento das desigualdades e a concentração de renda em níveis intoleráveis, tornando os ricos mais ricos à custa dos pobres cada vez mais pobres, conforme já lembrava o Papa João Paulo II na Conferência de Puebla” (1979).

    Nas palavras evangélicas do Papa Francisco, “Este sistema é insuportável: exclui, degrada, mata”, e seus efeitos são sentidos por nós brasileiros nesta atual conjuntura do país e serão agravados com a possível aprovação da Reforma da Previdência.

    Neste momento, em que o Brasil atravessa uma fase tão complexa de ameaça da retirada dos direitos sociais, faz-se necessário intensificar e consolidar o diálogo entre a sociedade civil e seus representantes, ao mesmo tempo alinhar os interesses e o comprometimento com os direitos dos pobres, que são os mais prejudicados com a aprovação da Previdência. A reposta da Igreja para este impasse nacional encontra-se na abertura de canais de reflexão e participação popular, valorizando as formas de organização do povo, daí a importância e a necessidade dos cristãos se posicionarem em defesa da vida.

    Portanto, a Igreja como sinal do Reino aqui na terra e fiel esposa de Cristo, morto pelo sistema religioso, político e econômico, por ter defendido os direitos dos empobrecidos, deixa bem claro em sua prática cristã: nenhum direito a menos, não à Reforma da Previdência. Acesse aqui a Cartilha.

     

  • Instrumentum Laboris do Sínodo para a Amazônia, um novo passo de “um kairos para a Igreja e o mundo”

     

    Um fruto de uma longo percurso, isso poderia definir o Instrumentum Laboris do Sínodo para a Amazônia que esta segunda-feira, 17 de junho, foi apresentado no Vaticano. Nele, como indicado na conclusão do documento, “tem se escutado a voz da Amazônia à luz da fé (Parte I) e tem se tentado responder ao clamor do povo e do território amazônico por uma ecologia integral (Parte II) e pelos novos caminhos para uma profética na Amazônia (III Parte)”.
    Acesse o Documento de Trabalho.

    A partir deste momento, a Igreja, especialmente os Padres Sinodais, são desafiados “a dar uma nova resposta às diferentes situações e a buscar novos caminhos que possibilitem um kairós para a Igreja e para o mundo”. Temos um pouco menos de quatro meses para o início da assembleia sinodal, que se reunirá no Vaticano de 6 a 27 de outubro. Neste momento, cabe aos Padres sinodais, especialmente os bispos das jurisdições eclesiásticas da Pan Amazônia, sempre chamados a conhecer a realidade local e a vida das pessoas que lhes são confiadas, a sentir o cheiro das ovelhas, para ver até onde o documento recolhe as necessidades de sua Igreja local.

    Não podemos esquecer que este documento, que segue o método da Igreja latino-americana, ver / escutar, julgar, agir, ainda é um instrumento a serviço de um processo mais amplo, que dará passos sucessivos nos próximos meses. Nesta perspectiva, devemos entender que, no Instrumentum Laboris, não encontraremos todos e cada um dos anseios pessoais. Como disse algumas semanas atrás Dom Mário Antônio da Silva, Bispo de Roraima e vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil segunda – CNBB, “que o Sínodo possa vir ao encontro, não de expectativas, mas de necessidades das comunidades da Amazônia”, algo que também pode ser dito sobre o Instrumento de Trabalho.

    Dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho – RO, e membro do Conselho Presinodal, afirma que o Instrumentum Laboris, “ele vai nos dando algumas possibilidades para também nos prepararmos com nossos grupos de sacerdotes, religiosos, religiosas, catequistas, ministros, e o Povo de Deus em geral, para algumas perspectivas”. Ele reconhece que “evidentemente que o documento, ele vai nos provocar para passos possíveis de concretiza-los logo com a conclusão do Sínodo, outros passos que vamos fazer processos e coisas que serão um horizonte para onde nós queremos caminhar como Igreja, Povo de Deus, como Igreja Pan-Amazônica”.

    Segundo o arcebispo de Porto Velho, “evidentemente que o Sínodo não vai atrás de curiosidades, mas tenta responder coisas concretas que nós precisamos enfrentar aqui na nossa região”. Desde sua condição de presidente do Conselho Indigenista Missionário – CIMI, ele diz que “o Sínodo, desde a sua convocação, o Papa nos interpela por uma relação diferenciada com os povos indígenas, com os povos originários”. É por isso que “nós temos que nos perguntar que passos nós estamos dando em nossas Igrejas para que verdadeiramente, os primeiros habitantes destas terras, sejam ouvidos, respeitados e acompanhados na sua luta por dignidade, por justiça e, sobretudo, respeito a suas culturas, a suas espiritualidades, a seus ritos, a suas línguas. Há o direito deles ser indígenas em sua integridade”, afirma Dom Roque.

    Dom Rafael Cob, também membro do Conselho Presinodal, e bispo do Vicariato Apostólico de Puyo, Equador, destaca no documento quatro eixos estruturais: escuta, diálogo, inculturação e profecia, em torno do eixo central, que é o rosto amazônico e mergulhado na ecologia integral. O bispo de Puyo destaca no Instrumentum Laboris o pano de fundo da Evangelii Gaudium, que nos chama a uma conversão pastoral, da Laudato Sí, que nos convida a uma conversão ecológica, e da Episcopalis Conmunio, fazendo uma Igreja samaritana com seus desafios e esperanças.

    Cada uma das partes é dividida em capítulos, quatro na primeira, que apresenta “a realidade do território e de seus povos”, nove na segunda, que inclui “a problemática ecológica e pastoral”, e oito na terceira parte, que aborda “a problemática eclesiológica e pastoral”. Na segunda e terceira partes, ao final de cada um dos capítulos, são oferecidas sugestões, todas colhidas da escuta do território e do povo de Deus, chamadas a influenciar não só a vida da Igreja, mas também a própria sociedade amazônica, tendo sempre como atitude fundamental a defesa profética da Amazônia e de seus povos.

    O Instrumentum Laboris tem como ponto de partida a necessidade da Igreja ser ouvinte, que escute, algo que “não é fácil”, mas que deve gerar “uma resposta concreta e reconciliadora”, que a Amazônia implora. Não nos esqueçamos de que esta é uma “realidade contrastante” que é “cheia de vida e sabedoria”, mas que sofre as consequências do “desmatamento e destruição extrativa que exige uma conversão ecológica integral”. Tudo isto deve levar a um “encontro com as culturas que inspiram os novos caminhos, desafios e esperanças de uma Igreja que quer ser samaritana e profética através de uma conversão pastoral”.

    A vida é a base do Sínodo para a Amazônia, que nesta região é identificada com a água. Uma vida em abundância, expressa no “bem viver”, mas que “está ameaçada pela destruição e exploração ambiental, pela violação sistemática dos direitos humanos”, que exige uma defesa e um cuidado, que “se opõe à cultura do descarte, da mentira, da exploração e da opressão”. Não se pode esquecer que “na Amazônia, a vida está inserida, ligada e integrada ao território”, onde tudo está interligado e se descobre “a obra-prima da criação do Deus da Vida”.

    O Sínodo é um tempo de graça, de inculturação e interculturalidade, de desafios sérios e urgentes, mas também de esperança. Ao mesmo tempo, esse evento eclesial quer gerar espaços de diálogo “que nos ajudem a sair do caminho da autodestruição da atual crise socioambiental”. Um diálogo que seja um ponto de partida para a missão e que tenha como interlocutores os povos amazônicos, que provoque uma dinâmica de aprendizado e resistência.

    O clamor da Terra é o clamor dos pobres, que são os que sofrem as consequências da destruição extrativista. Um clamor que vem dos povos da Amazônia, que não são reconhecidos seus territórios e são afetados pelos projetos de “desenvolvimento” e a poluição, que exige urgentemente uma ecologia integral que paralise a destruição da Amazônia, algo que afeta especialmente os povos em isolamento voluntário.

    Na Amazônia, o fenômeno global da migração também está muito presente, o que “tem contribuído para a desestabilização social nas comunidades amazônicas”. Isso fez com que a população amazônica se reunisse nas cidades, onde vive entre 70 e 80%, o que requer cuidados eclesiais, também das famílias e comunidades, cada vez mais vulneráveis. Em muitos casos, esse é o resultado da corrupção que está presente na região, “a que existe fora da lei e a que se protege numa legislação que trai o bem comum”, a tal ponto que “grandes empresas e os governos organizaram sistemas de corrupção”. Tudo isso afeta a “saúde integral” dos povos, “que supõe uma harmonia com o que a Mãe Terra nos oferece”, fonte da medicina tradicional. São conhecimentos que devem ser abordados por uma educação integral, que gera um encontro e aborda um maior conhecimento sobre o que é a ecologia integral, para a qual é necessária uma conversão ecológica.

    A terceira parte do documento de trabalho aborda os desafios e as esperanças de uma Igreja profética na Amazônia, chamada a ter um rosto amazônico e missionário, “que saiba discernir e assumir sem medo as diversas manifestações culturais dos povos”, uma Igreja participativa, acolhedora, criativa e harmoniosa, com rosto amazônico e indígena, que reconhece as “sementes do Verbo” e busca “um enriquecimento mútuo das culturas em diálogo”. Que se expressa em uma liturgia inculturada, que assume no ritual litúrgico e sacramental “os ritos, símbolos e estilos celebrativos das culturas indígenas”, tornando possível para os sacramentos serem “fonte de vida e remédio acessível a todos (cf. EG 47), especialmente os pobres (cf. EG 200)”.

    Para isso, ele sugere que “em vez de deixar as comunidades sem a Eucaristia, sejam alterados os critérios para selecionar e preparar os ministros autorizados para celebrá-la”. O documento, sem questionar o celibato a qualquer momento, argumenta que “para as áreas mais remotas da região, estude-se a possibilidade de ordenação sacerdotal de pessoas idosas, preferencialmente indígenas, respeitados e aceitos por sua comunidade, mesmo que já tenham família constituída e estável, a fim de garantir os sacramentos que acompanhem e sustentem a vida cristã”. Ao mesmo tempo, é necessário” identificar o tipo de ministério oficial que pode ser conferido às mulheres, tendo em conta o papel central que desempenham hoje na Igreja Amazônica”, aspectos que realmente abrem a possibilidade de encontrar novos caminhos para a Igreja.

    Ao abordar a questão da organização das comunidades, o documento questiona que “seria oportuno reconsiderar a ideia de que o exercício da jurisdição (poder do governo) deve estar vinculado em todos os âmbitos (sacramental, judicial, administrativo) e de maneira permanente ao sacramento da ordem”, elemento decisivo que permite superar o clericalismo como instrumento de poder. Por isso, apela a “promover vocações autóctones de varões e mulheres” buscando “indígenas que preguem aos indígenas a partir de um profundo conhecimento de sua cultura e sua língua, capaz de comunicar a mensagem do evangelho com a força ea eficácia de quem tem seu bagagem cultural”. Ao mesmo tempo, ele insiste em passar de uma “Igreja que visita” para uma “Igreja que permanece”.

    Os últimos capítulos abordam o tema da evangelização nas cidades, procurando incluir nela os indígenas urbanos, fomentando o diálogo ecumênico e inter-religioso. Como em qualquer outro lugar, o papel da mídia na Amazônia é fundamental. Portanto, “é importante que o empoderamento da mídia atinja os mesmos nativos”, criando uma ressonância que ajuda “a conversão ecológica da Igreja e do planeta”, que “a realidade amazônica supere a Amazônia e tenha repercussão planetária”, a amazonizar o mundo e a Igreja. O Sínodo pode ajudar a aumentar o papel profético da Igreja, que gera uma promoção humana integral. Por essa razão, é proposta uma Igreja em saída, na escuta, que se coloca a serviço daqueles que questionam o poder, mesmo que isso leve seus membros a arriscarem suas vidas, ao martírio.

    Não nos esqueçamos de que o que deve mover o Sínodo para a Amazónia é ser “uma expressão concreta da sinodalidade de uma Igreja em saída, para que a vida plena que Jesus veio trazer ao mundo (cf. Jo 10, 10) chegue a todos, especialmente aos pobres”. Ao mesmo tempo, não podemos deixar de lembrar o que já disse o Documento Preparatório, onde ele insistiu que “as reflexões do Sínodo Especial superam o âmbito estritamente eclesial amazônico, por serem relevantes para a Igreja universal e para o futuro de todo o planeta”. Estamos diante de um evento universal, que muitos consideram decisivo no futuro da Igreja e da humanidade.

    Como afirma Dom Roque Paloschi, “vamos pedir que o Espírito Santo nos conduza e que a nossa Igreja viva a alegria de buscar esses novos caminhos e que nós possamos, no final desse Sínodo, concluir como os seguidores e seguidoras de Jesus naquele concilio de Jerusalém, o Espírito Santo e nós decidimos. Que seja o Espírito Santo que conduza e que nossas respostas e nossos empenhos sejam verdadeiramente voltados para responder aos desafios da evangelização desta porção do Povo de Deus”.

     

  • A Amazônia pede que a Igreja seja sua aliada

    Foi apresentado nesta segunda-feira, 17 de junho, o Documento de Trabalho do Sínodo para a Amazônia. O desafio proposto é passar de uma “Igreja que visita” para uma “Igreja que permanece”, que possa oferecer a Eucaristia para suas comunidades. A matéria é de Cristiane Murray, publicada no Vatican News.
    Acesse o Documento de Trabalho

    O mundo amazônico pede à Igreja que seja sua aliada: esta é a alma do Documento publicado na manhã desta segunda-feira (17 de junho) pela Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos e apresentado à imprensa.

    O Documento é fruto de um processo de escuta que teve início com a visita do Papa Francisco a Puerto Maldonado (Peru) em janeiro de 2018, prosseguiu com a consulta ao Povo de Deus em toda a Região Amazônica por todo o ano e se concluiu com a II Reunião do Conselho Pré-Sinodal, em maio passado.

    Ouvir com Deus o grito do povo; até respirar nele a vontade a que Deus nos chama

    O território da Amazônia abrange uma parte do Brasil, da Bolívia, do Peru, do Equador, da Colômbia, da Venezuela, da Guiana, do Suriname e da Guiana Francesa, em uma extensão de 7,8 milhões de quilômetros quadrados, no coração da América do Sul. Suas florestas cobrem aproximadamente 5,3 milhões de km2, o que representa 40% da área de florestas tropicais do globo.
    A primeira parte do Documento, “A voz da Amazônia”, apresenta a realidade do território e de seus povos. E começa pela vida e sua relação com a água e os grandes rios, que fluem como veias da flora e fauna do território, como manancial de seus povos, de suas culturas e de suas expressões espirituais, alimentando a natureza, a vida e as culturas das comunidades indígenas, camponesas, afrodescendentes, ribeirinhas e urbanas.

    Vida ameaçada, ameaça integral

    A vida na Amazônia está ameaçada pela destruição e exploração ambiental, pela violação sistemática dos direitos humanos elementares de sua população. De modo especial a violação dos direitos dos povos originários, como o direito ao território, à autodeterminação, à demarcação dos territórios e à consulta e ao consentimento prévios.

    Rios, manancial de povos, culturas e expressões espirituais na Amazônia

    Segundo as comunidades participantes nesta escuta sinodal, a ameaça à vida deriva de interesses econômicos e políticos dos setores dominantes da sociedade atual, de maneira especial de empresas extrativistas. Atualmente, a mudança climática e o aumento da intervenção humana (desmatamento, incêndios e alteração no uso do solo) estão levando a Amazônia rumo a um ponto de não-retorno, com altas taxas de desflorestação, deslocamento forçado da população e contaminação, pondo em perigo seus ecossistemas e exercendo pressão sobre as culturas locais.

    O clamor da terra e dos pobres

    Na segunda parte, o Documento examina e oferece sugestões às questões relativas à ecologia integral. Hoje, a Amazônia constitui uma formosura ferida e deformada, um lugar de dor e violência, como o indicam de maneira eloquente os relatórios das Igrejas locais recebidos pela Secretaria Geral do Sínodo. Reinam a violência, o caos e a corrupção.

    “ O território se transformou em um espaço de desencontros e de extermínio de povos, culturas e gerações. ”

    Há quem se sente forçado a sair de sua terra; muitas vezes cai nas redes das máfias, do narcotráfico e do tráfico de pessoas (em sua maioria mulheres), do trabalho e da prostituição infantil. Trata-se de uma realidade trágica e complexa, que se encontra à margem da lei e do direito.

    Território de esperança e do “bem viver”

    Os povos amazônicos originários têm muito a ensinar-nos. Reconhecemos que desde há milhares de anos eles cuidam de sua terra, da água e da floresta, e conseguiram preservá-las até hoje a fim de que a humanidade possa beneficiar-se do usufruto dos dons gratuitos da criação de Deus. Os novos caminhos de evangelização devem ser construídos em diálogo com estas sabedorias ancestrais em que se manifestam as sementes do Verbo.

    Povos nas periferias

    O Documento de Trabalho analisa também a situação dos Povos Indígenas em Isolamento Voluntário (PIAV). Segundo dados de instituições especializadas da Igreja (por ex., CIMI) e outras, no território da Amazônia existem de 110 a 130 diferentes “povos livres”, que vivem à margem da sociedade, ou em contato esporádico com ela. São vulneráveis perante as ameaças… do narcotráfico, de megaprojetos de infraestrutura, e de atividades ilegais vinculadas ao modelo de desenvolvimento extrativista.

    Pará, comunidade ribeirinha do Rio Tapajós
    Pará, comunidade ribeirinha do Rio Tapajós

    Povos amazônicos em saída

    A Amazônia se encontra entre as regiões com maior mobilidade interna e internacional na América Latina. De acordo com as estatísticas, a população urbana da Amazônia aumentou de modo exponencial; atualmente, de 70 a 80% da população reside nas cidades, que recebem permanentemente um elevado número de pessoas e não conseguem proporcionar os serviços básicos dos quais os migrantes necessitam. Não obstante tenha acompanhado este fluxo migratório, a Igreja deixou no interior da Amazônia vazios pastorais que devem ser preenchidos.

    Igreja profética na Amazônia: desafios e esperanças

    Enfim, a última parte do Documento de Trabalho chama os Padres Sinodais da Pan-amazônia a discutirem o segundo binário do tema proposto pelo Papa: os novos caminhos para a Igreja na região.

    Para ouvir e compartilhar:

    Por falta de sacerdotes, as comunidades têm dificuldade de celebrar com frequência a Eucaristia. “A Igreja vive da Eucaristia” e a Eucaristia edifica a Igreja. Por isso, pede-se que, em vez de deixar as comunidades sem a Eucaristia, se alterem os critérios para selecionar e preparar os ministros autorizados para celebrá-la. As comunidades pedem ainda maiores apreciação, acompanhamento e promoção da piedade com a qual o povo pobre e simples expressa sua fé, mediante imagens, símbolos, tradições, ritos e outros sacramentais. Trata-se da manifestação de uma sabedoria e espiritualidade que constitui um autêntico lugar teológico, dotado de um enorme potencial evangelizador. Seria oportuno voltar a considerar a ideia de que o exercício da jurisdição (poder de governo) deve estar vinculado em todos os âmbitos (sacramental, judicial e administrativo) e de maneira permanente ao sacramento da ordem.

    Novos ministérios

    Para além da pluralidade de culturas no interior da Amazônia, as distâncias causam um problema pastoral grave, que não se pode resolver unicamente com instrumentos mecânicos e tecnológicos. É necessário promover vocações autóctones de homens e mulheres, como resposta às necessidades de atenção pastoral-sacramental. Trata-se de indígenas que apregoem a indígenas a partir de um profundo conhecimento de sua cultura e de sua língua, capazes de comunicar a mensagem do Evangelho com a força e a eficácia de quem dispõe de uma bagagem cultural.

    “ É necessário passar de uma “Igreja que visita” para uma “Igreja que permanece”, acompanha e está presente através de ministros provenientes de seus próprios habitantes. ”

    Afirmando que o celibato é uma dádiva para a Igreja, pede-se que, para as áreas mais remotas da região, se estude a possibilidade da ordenação sacerdotal de pessoas idosas, de preferência indígenas, respeitadas e reconhecidas por sua comunidade, mesmo que já tenham uma família constituída e estável, com a finalidade de assegurar os Sacramentos que acompanhem e sustentem a vida cristã.

    Papel da mulher

    É pedido que se identifique o tipo de ministério oficial que pode ser conferido à mulher, tendo em consideração o papel central que hoje ela desempenha na Igreja amazônica. Reclama-se o reconhecimento das mulheres a partir de seus carismas e talentos. Elas pedem para recuperar o espaço que Jesus reservou às mulheres, “onde todos/todas cabemos”. Propõe-se inclusive que às mulheres seja garantido sua liderança, assim como espaços cada vez mais abrangentes e relevantes na área da formação: teologia, catequese, liturgia e escolas de fé e de política.

    A vida consagrada

    Propõe-se promover uma vida consagrada alternativa e profética, intercongregacional, interinstitucional, com um sentido de disposição para estar onde ninguém quer estar e com quantos ninguém quer estar. Aconselha-se que a formação para a vida religiosa inclua processos formativos focados a partir da interculturalidade, inculturação e diálogo entre espiritualidades e cosmovisões amazônicas.

    Ecumenismo

    O Documento não deixa de relevar o importante fenômeno importante a ter em consideração é o vertiginoso crescimento das recentes Igrejas evangélicas de origem pentecostal, especialmente nas periferias: “Elas nos mostram outro modo de ser Igreja, onde o povo se sente protagonista, onde os fiéis podem expressar-se livremente, sem censuras, dogmatismos, nem disciplinas rituais”.

    Igreja e poder: caminho de cruz e martírio de muitos

    Ser Igreja na Amazônia de maneira realista significa levantar profeticamente o problema do poder, porque nesta região o povo não tem possibilidade de fazer valer seus direitos face às grandes corporações econômicas e instituições políticas. Atualmente, questionar o poder na defesa do território e dos direitos humanos significa arriscar a vida, abrindo um caminho de cruz e martírio. O número de mártires na Amazônia é alarmante (por ex., somente no Brasil, de 2003 a 2017, foram assassinados 1.119 indígenas por terem defendido seus territórios).

    “ A Igreja não pode permanecer indiferente mas, pelo contrário, deve contribuir para a proteção das/dos defensores de direitos humanos, e fazer memória de seus mártires, entre elas mulheres líderes como a Irmã Dorothy Stang. ”

    Durante o percurso de construção do Instrumentum Laboris, ouviu-se a voz da Amazônia à luz da fé com a intenção de responder ao clamor do povo e do território amazônico por uma ecologia integral e por novos caminhos para uma Igreja profética na Amazônia. Estas vozes amazônicas exortam o Sínodo dos Bispos a dar uma resposta renovada às diferentes situações e a procurar novos caminhos que possibilitam um kairós para a Igreja e o mundo.

  • Paulo Guedes: quebrando o país, para aprovar a sua Reforma da Previdência

    Nós percebíamos que a economia estava mal, agora está confirmado pelo IBGE. Também ficamos sabendo que o principal responsável pela queda da atividade econômica é o governo, que reduziu o investimento. Sem investimento, não há como gerar emprego. Traduzindo: não é apenas que o governo nada fez, o governo está produzindo a queda, está, conscientemente, promovendo o desemprego.

    Com que objetivo? Só para conseguir a aprovação da sua Reforma da Previdência. O Ministro da Economia explicita publicamente de que se trata de uma chantagem: o governo tem meios de ativar a economia – com a liberação do FGTS -, mas só vai fazê-lo depois de aprovada a reforma!

    Traduzindo: “Nós podemos melhorar a vida de vocês, caríssimo povo brasileiro, mas não vamos fazer nada enquanto vocês não aprovarem a minha reforma, talkey?”

    A reportagem do jornal O Globo é clara: “O ajuste fiscal ainda em curso impede o aumento do gasto público para estimular a economia” (31/05/2019). Quem decidiu continuar com o ajuste fiscal, apesar de a economia estar mal das pernas? O governo.

    Todo mundo sabe que, com ajuste fiscal, não há crescimento. Portanto, estamos indo para o “fundo do poço” por decisão de cima, das principais autoridades do país. Autoridades – que foram eleitas para tirar o país da crise e melhorar as condições de vida – estão quebrando o país.

    Em segundo lugar, é verdade que a reforma da previdência de Paulo Guedes vai alavancar a economia? Mesmo que seja aprovada rapidamente e implementada a partir de 2020, os gastos na previdência continuarão os mesmos por três anos. Só então começará a aparecer alguma mudança, mas para pior. Se for aprovada como foi proposta, significará redução de aposentadorias e pensões para a maioria. Portanto, menos dinheiro nas mãos das pessoas, isto é, menos mercado interno e, consequentemente, menos emprego.

    Além disso, há algo mais grave. A tal reforma pretende nos tirar do regime de repartição (que tem financiamento garantido, trabalhadores, empregadores e Estado) para o regime de capitalização (onde só o trabalhador contribui). Ela terá um altíssimo custo de transição: segundo cálculos do próprio governo, gastos de 1 trilhão nos próximos 20 anos (na maioria dos países que adotaram a capitalização, estes custos foram duas a três vezes o que havia sido previsto). Então, ganharemos 1 trilhão em 10 anos e perderemos 1 trilhão em 20 anos. Sobrará algum ganho, mas não é nada significativo como quiseram nos fazer crer.

    A quem beneficiará tal reforma? Já sabemos, pela experiência do Chile: aos bancos, às administradoras de fundos de pensão, que ganharão bilhões, enquanto os aposentados perderão.

    E, finalmente, pergunta que não quer calar: por que uma reforma que muda a Constituição e mexe com a vida de todos os 210 milhões de brasileiros tem de ser aprovada a toque de caixa (inclusive com compra de votos de parlamentares), sem debate amplo com a sociedade?

    Por que não temos acesso aos cálculos utilizados pelo governo para propor esta reforma?

    Por que não podemos ouvir o(s) outro(s) lado(s) para poder comparar com a reforma proposta?

    Quem sabe não haveria proposta(s) muito melhor(es) do que aquela que o governo apresentou?


     

  • Na Terra santa da Baixada

    Na Terra Santa da Baixada
    7º Intereclesial – Duque de Caxias (Rio de Janeiro), 1989. 
    Tema: Povo de Deus na América Latina a caminho da Libertação.
    Por Iser Assessoria
    Parte 1
  • Desemprego: o governo Bolsonaro nada fez

    Quando o governo começou, o desemprego já era alto: 12,2 milhões de desempregados. Os subutilizados, isto é, o conjunto dos desempregados, subocupados e desalentados (que desistiram de procurar emprego), eram 27 milhões (IBGE).

    Tínhamos, portanto, uma situação social grave, que deveria ser uma prioridade.

    O que fez o governo para gerar emprego? Nada.

    O Congresso atravancou o governo? Não, porque nem recebeu proposta neste sentido.

    Como primeiro projeto econômico importante, o ministro da Fazenda propôs uma Reforma da Previdência, apresentada como condição absolutamente necessária para resolver a crise e deslanchar a economia e que deveria ser a base para haver mais emprego.

    Como os debates posteriores revelaram, e vários economistas ortodoxos confirmaram, esta reforma não é a única nem a primeira possibilidade para conseguir recursos, nem tampouco gerará emprego. Ao contrário, se aprovada como está, reduzirá os ganhos das pessoas mais pobres, portanto, reduzirá o mercado interno (menos consumo = menos emprego).

    Não cansamos de repetir que há outras fontes de recursos (economista Eduardo Fagnani) – mas o governo não quer usar:

    O pagamento de juros da dívida pública: 300 a 500 bilhões por ano;

    As isenções fiscais (para empresas, etc.): 350 a 400 bilhões por ano;

    A sonegação fiscal: cerca de 500 bilhões por ano.

    São, portanto, no mínimo, 1 trilhão e 150 bilhões por ano, que poderiam ser recolhidos se o governo tomasse providências nestas três áreas. Em um ano, não em 10 anos!

    Neste meio tempo, em cinco meses, em razão da inação do governo para gerar emprego, o desemprego subiu de 12,2 para 13,4 milhões e o número de subutilizados aumentou de 27 para 28,3 milhões.

    Os economistas apontam para o baixo crescimento e o risco de nova recessão no país. Todos sabem que a economia vai mal e que as perspectivas não são boas. Não por causa do Congresso ou do STF e, sim, porque o governo não enfrenta a questão.

    Os relatórios sobre desigualdade social produzidos pela OXFAM do Brasil (2017 e 2018) revelam que, desde 2015, o processo de redução das desigualdades – que vinha ocorrendo nos últimos 20 anos – estagnou ou regrediu. As medidas de ajuste fiscal (iniciado no 2º governo Dilma e aprofundado por Temer), sobretudo a Emenda Constitucional do Teto dos Gastos e a Reforma Trabalhista (ambas produto do governo Temer), significaram uma enorme perda para os pobres. O investimento em saúde e educação públicas representa um aumento indireto da renda das famílias mais pobres: a redução progressiva destes investimentos está fazendo com que elas se tornem ainda mais pobres.

    O governo Bolsonaro manteve o ajuste fiscal e as medidas que tomou foram no sentido de redução de direitos, de corte de gastos sociais, de redução de verbas para a educação, de reajuste do salário mínimo inferior ao que era feito anteriormente, de privatização de empresas estatais ou de setores destas empresas, de entrega de nosso petróleo para empresas estrangeiras. Estas últimas medidas interrompem a receita anual de lucros produzidos por estas empresas para o Brasil.

    Se os trabalhadores ganham menos, se a maioria dos que conseguem emprego ficam na informalidade, se muitos não conseguem emprego nenhum – nem mesmo precário -, se os gastos sociais estão diminuindo (educação, saúde, assistência…), é inevitável um forte empobrecimento da população (visível inclusive a olho nu). A economia está em câmara lenta e o Brasil está mais pobre. E o governo, que nada fez quanto a isso, acusa os outros.

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