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As críticas e ataques ao Papa Francisco têm fundamento?

Publicamos Artigo de Dom Amilton Manoel da Silva, CP, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Curitiba – PR, publicado no site da arquidiocese de Curitiba, dia 04 de novembro de 2019.

As críticas e ataques ao Papa Francisco têm fundamento?

Nos últimos tempos têm circulado, nas redes sociais, inúmeras críticas e ataques maldosos ao Papa Francisco. Isso tem me incomodado, por isso escrevo este artigo sem muitas pretensões, apenas com o objetivo de afirmar a unidade da Igreja, no momento vacilante, e discutir alguns pontos que não estão sendo levados em consideração.

Defendo que essas críticas são infundadas e quase sempre elas partem de pessoas ou de grupos do interior da própria Igreja, dizimando a unidade e fomentando a rejeição ao Sumo Pontífice. Para início de conversa, é bom lembrar nossa fé católica de que Jesus Cristo edificou a sua Igreja sobre Pedro (cf. Mt 16,18) e este “ofício pastoral de Pedro e dos outros Apóstolos faz parte dos fundamentos da Igreja e é continuado pelos Bispos sob o primado do Papa” (CIC n. 881).

O teólogo Victor Codina, no seu artigo “Francisco, um Papa que incomoda”, situa essas críticas em duas vertentes (na primeira vertente, exponho uma síntese do pensamento do autor; na segunda vertente, tomo a liberdade de discorrer sobre a acusação ao Papa Francisco de ser comunista), a saber:

  • Teológica: Onde se afirma que Francisco não é um teólogo, por isso comete “erros doutrinais” nos seus documentos e discursos.Nesse sentido vale a afirmação de Santo Tomás de Aquino, quando distingue entre a cátedra magisterial (dos teólogos professores das universidades), da cátedra pastoral correspondente aos Bispos e ao Papa; embora em muitos momentos ambas aparecem juntas. Não é preciso muito esforço, para perceber que Francisco é um teólogo que parte da realidade: da injustiça, da pobreza, da destruição da natureza e do clericalismo eclesial.
  • Sociopolítica: Neste aspecto, as acusações são de que Francisco é “comunista”, pela insistência numa Igreja pobre para os pobres em busca de uma sociedade justa e solidária.Fico a pensar se as pessoas ou grupos que fazem tal acusação, têm lido os documentos e exortações do Papa, escutado seus pronunciamentos, prestado atenção nos seus gestos e na sua maneira de ser. Indago-me se conhecem o manifesto de Karl Marx e Friedrich Engels e o pensamento comunista… E mais ainda, se têm lido e rezado a Palavra de Deus, “mantido os olhos fixos em Jesus” (Hb 12,2), nas suas ações (Mt 9,35) e mandamentos (Mt 25, 35-45). Creio que não, pois se assim fosse, nos poupariam de tais aberrações e calúnias.

Sobre a segunda vertente é importante um aprofundamento:

  • O Marxismo defende uma Sociedade igualitária – ateísta – materialista. O Papa Francisco, em muitos pronunciamentos, tem se manifestado contrário a essa concepção, como no capítulo IV da Exortação Apostólica Evangelli Gaudium, onde destaca que a construção de uma sociedade justa exige, em primeiro lugar, uma confissão de fé. A sociedade nova é a instauração do Reino de Deus, que está no coração do Evangelho e que significa um espaço de fraternidade, de justiça, de paz e dignidade para todos. Porém, isto só é possível com uma relação pessoal com Deus, de amor, uma vez que Ele reina no mundo (cf. n. 177 a n. 258). “Sem amor e sem Deus, nenhum homem pode viver sobre a terra” (Encontro com os jovens, na Romênia, 01/06/2019).
  • O Marxismo privilegia a sociedade (coletivo) e não a pessoa humana, sua liberdade e seus direitos. O Papa Francisco defende a pessoa em vista de uma Igreja nova e uma sociedade mais humana, como nesta afirmação: “Cada ser humano é objeto da ternura infinita do Senhor e, Ele mesmo, habita na sua vida. Na cruz, Jesus Cristo deu o seu sangue precioso por essa pessoa. Independentemente da aparência, cada um é imensamente sagrado e merece o nosso afeto e a nossa dedicação. Por isso, se consigo ajudar uma só pessoa a viver melhor, isso já justifica o dom da minha vida” (EG, n. 274).

Algumas declarações suas estão na mesma linha: “Para mim, o âmago do Evangelho pertence aos pobres. Há dois meses ouvi uma pessoa dizer ‘Este Papa é comunista’. Não! Esta é uma bandeira do Evangelho, não do comunismo. A pobreza sem ideologia… E por isso creio que os pobres estão no centro do anúncio de Jesus. É suficiente lê-lo! O problema é que esta atitude em relação aos pobres, às vezes, na história, foi ideologizada. No Evangelho não há ideologia, a ideologia é algo diferente…” (Resposta do Papa Francisco a um grupo de jovens da Bélgica, 2014).

Perguntado se gostaria de uma sociedade de inspiração marxista, respondeu: “Isso me foi perguntado muitas vezes e minha resposta sempre foi essa: se há alguma semelhança, na busca de cuidar dos pobres, então são os comunistas que pensam como os cristãos. Cristo falava de uma sociedade onde os pobres, os fracos e os marginalizados tinham direito de decidir. Não os demagogos, nem Barrabás, mas o povo, os pobres, tendo eles fé em um Deus transcendente ou não. São eles (os pobres) que precisam ajudar para alcançar a igualdade e a liberdade (…)” (Entrevista ao jornal italiano La Repubblica, 2014). Durante a Missa celebrada na Casa Santa Marta, na manhã do dia 24/05/2018, o Papa Francisco lamentou que se identifique como comunistas os que pregam a “pobreza”, uma vez que a pobreza está no centro do Evangelho.

Sobre a caridade: “A caridade nunca é ideológica, dado que não se servem ‘ideias’, mas ‘pessoas’, e nesse sentido, amar não se reduz a uma atitude de servilismo, mas fixa sempre o rosto do irmão, toca a sua carne, como a carne de Cristo, sente a sua proximidade” (Homilia em Cuba, 2015).

Diante disso pergunto: As críticas e ataques ao Papa Francisco, têm fundamento? Não! Desde que assumiu o ministério petrino, em março de 2013, Francisco tem buscado dar à Igreja um rosto mais simples, serviçal e misericordioso. Estas características se fundamentam na pessoa de Jesus que “veio para servir e não para ser servido” (Mt 20,28), nas exigências do Evangelho e na vivência cristã das comunidades primitivas. Suas mensagens confirmam as decisões do Concílio Vaticano II e a doutrina social da Igreja. Onde o Papa está errando?

Permaneçamos em comunhão com o “Vigário de Cristo” (LG, n.22), zelemos pelo respeito e obediência ao Pastor, eleito num conclave, sob a condução do Espírito Santo, para guiar a Igreja Católica Apostólica Romana e descartemos toda forma de agressão que não gera a unidade.

Deus abençoe a todos (as)!

Dom Amilton Manoel da Silva, CP
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Curitiba – PR

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