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Artigo

  • “Louvado Seja”, Papa Francisco

    A encíclica ecológica do Papa começa na dose mais vasta e profunda que poderia ter: “Nós somos terra. Todo nosso corpo é constituído de elementos do planeta, seu ar é aquele que nos dá a respiração e sua água vivifica e restaura” (Tradução pessoal do texto italiano, número 2).

    Esse é ponto de partida exato de qualquer reflexão sobre a vida na Terra. Do ponto de vista biológico, somos qualquer animal, parte da terra, dependentes dela e, sem água, sem comida, sem ar, sem um ambiente próprio para a vida, morremos como todos os outros animais.

    Lembrando São Francisco, o Papa diz que a Terra é “mãe e irmã”. Portanto, toda a comunidade da vida só pode ser entendida nessa irmanação universal.

    O Papa não esquece, desde o início da encíclica, de lembrar que a Terra está “oprimida e devastada” e, retomando Paulo em Romanos 8, reafirma que ela “geme em dores de parto”. Retoma Paulo VI no número 5 e recorda que os avanços técnicos, científicos, se sozinhos, podem conduzir a Terra e a humanidade a uma catástrofe, se não forem acompanhados de um autêntico desenvolvimento “social e moral”. Portanto, retoma a questão ética colada à técnica.

    E propõe como saída a mudança do estilo de vida, também no modo de produção e consumo. Ele retoma Bento XVI para reafirmar que o problema é “estrutural”. Ainda como fundamento da reflexão, Francisco lembra que a destruição do ambiente está vinculada à uma cultura de morte, que agride também o ser humano. Essa realidade a Pastoral da Terra experimenta e reflete há anos: “aqueles que destroem as florestas e rios, são os mesmos que mataram Chico Mendes e Irmã Dorothy”. O Papa segue a partir daí com fatos já sobejamente conhecidos: consumismo, deflorestação, lixo, mudanças climáticas e todas suas causas e efeitos, etc., fazendo do planeta um “lugar de imundícies” (número 24).

    Destaca a questão da água e da biodiversidade, inclusive da invisível, fundamental para os solos, plantas e reprodução da vida (número 34).

    Francisco ainda chama a atenção que “o grito da Terra é o grito dos pobres” (49), realçando que a questão é socioambiental.

    Foto de: Arte/Santuário Nacional

    Arte da Cúpula Central do Santuário Nacional será contemplada com a representação da fauna brasileira unida à fé do povo. 

    No número 41 o Papa toca o dedo na ferida, afirmando que a responsabilidade fundamental por essa crise vem do Norte, dos países desenvolvidos, que exploram os países do sul, inclusive transferindo para esses a produção suja que não querem ter em seus próprios territórios. Aquilo que chamamos de “injustiças socioambientais”.

    Na parte do “julgar” – não está com esse nome, mas o documento segue a lógica do Ver, Julgar e Agir – a ênfase será no texto bíblico do “cultivar e guardar” (Gen. 2,15), no Cristo Cósmico e na redenção da criação (Rom. 8).

    No “agir”, assume praticamente todas as boas lutas socioambientais que fazemos – agroecológica, energia, transportes, preservação das florestas, cidades dignas do ser humano, mecanismos globais para controle do efeito estufa, mudanças climáticas, etc. -, portanto, nada de novo. Por fim, a necessidade de mudar o “modelo global de desenvolvimento”(194). Essa é a grande síntese.

    Para nós, cristãos, aponta a necessidade de uma “Espiritualidade Ecológica” (Capítulo Sexto, 202). Implica a mudança do “estilo de vida”, “uma educação para o respeito ao ambiente”, que começa nas atitudes do cotidiano e se amplia para a globalidade, enfim, a “conversão ecológica” (216), que é alegre, contemplativa, cuidadora, sóbria, que gosta de arte, de música, celebrações (inclusive eucaristia), enfim, sem o consumismo crasso da sociedade contemporânea.

    O texto conclui com uma bela oração sobre a criação.

    O novo desse texto para nós, aqueles que fazemos esse caminho há tantas décadas, é que agora nos vejamos plenamente contemplados num documento oficial do Vaticano.

    Que o documento produza os frutos semeados.

    Sem dúvida, sinal dos tempos.

    Fonte: A12

  • Cartilha Entrevista Sobre Ecologia Com o Papa Francisco

    Acaba de ser lançada a cartilha Entrevista Sobre Ecologia Com o Papa Francisco. Mas, antes que alguém se engane, é apenas a divulgação da Laudato si’ em forma de encontros reflexivos e oracionais para os grupos de base, sejam eles de Igrejas, ou não.

    O livreto tem 18 encontros.

    A proposta veio de um grupo formado na CNBB a partir das Pastorais Sociais, com o propósito de tornar a Laudato si’ acessível a todos os cristãos e pessoas de boa vontade. Então, se decidiu fazer alguns materiais didáticos, como vídeos, exposições fotográficas, seminários, programas de rádio e a cartilha.

    Coube a mim fazer a cartilha. Então, relendo várias vezes, cheguei à conclusão que não dava para mexer numa única palavra do Papa, por sua beleza, sua precisão, sua profundidade e extensão. Então, veio a ideia de fazer em forma de encontros, como se fossem partes de uma longa entrevista. O grupo e o secretário da presidência, D. Leonardo, concordaram. Foram criadas perguntas que são respondidas textualmente pelo que está escrito na Laudato si’. Claro, são textos selecionados, ficando bem mais curta que a carta original.

    É consenso no grupo que essa carta introduziu a Igreja no século XXI, tem fôlego histórico e voltaremos a ele cada vez que a crise socioambiental se aprofundar. Então, não pode ficar nas gavetas, ou ser vetado ao povo das bases por questões técnicas e desinteresse de muita gente. É como esse objetivo que o material foi feito.

    Quem quiser o material:
    http://www.edicoescnbb.com.br/

    Fonte: Roberto Malvezzi (Gogó)

  • Por uma revolução verde, de viés biônico

    Frugalidade e autocontenção não podem ser o eixo estratégico do desenvolvimento sustentável Que o mundo atual é marcado por imenso desperdício e que os padrões de consumo contemporâneos ameaçam a oferta dos serviços ecossistêmicos de que todos dependemos, disso não há dúvida. Mas é ilusório o caminho que preconiza fundamentalmente limites no consumo e na produção como premissa para que as atividades econômicas deixem de destruir as bases biofísicas de sua própria existência. O que as sociedades de hoje precisam (mesmo nos países mais ricos do mundo) não é de decrescimento: é de ciência, tecnologia e democracia. Nestas três palavras encontra-se a essência de uma revolução verde já em curso, que orienta o essencial da inovação dos dias de hoje, atingindo a energia, a infraestrutura, a gestão dos resíduos, a agricultura, a mobilidade, a construção civil, e o próprio desenho das cidades. O que está em jogo não é a quantidade e sim a qualidade do crescimento. Ou como diz Ralf Fücks em seu livro recém traduzido para o inglês e prefaciado por Anthony Giddens: “a questão não é se a economia global vai continuar a crescer mas como ela vai crescer”.

    Ralf Fücks, dirigente do Partido Verde alemão, ex-deputado pelo Estado de Bremen e protagonista de várias das iniciativas que colocaram seu país na vanguarda global das energias renováveis, parte de uma premissa hoje cada vez mais aceita tanto nos estudos de psicologia climática como em segmentos importantes da filosofia que se voltam à formulação de uma ética do antropoceno: em vez de procurar incutir nas pessoas medo e culpa por seu consumo, é preciso encontrar soluções para as aspirações das centenas de milhões de indivíduos que estão ingressando em novos mercados e dos bilhões que ainda estão por vir. Claro que isso não significa e não pode significar mais carros nas ruas, maior ingestão daquilo que está provocando a epidemia global de obesidade, mais obsolescência planejada e maior fragmentação urbana. O crescimento inteligente e verde de Ralf Fücks não é uma dócil adaptação às mudanças graduais pelas quais as sociedades estão passando. Ele supõe duas rupturas fundamentais.

    A primeira delas é de natureza político-cultura e está nos três capítulos iniciais dos oito que compõem o livro. Da Torre de Babel ao Fausto de Goethe, passando pelo título da novela de Mary Shelley (Frankenstein: o Prometeu Moderno), Fücks mostra a forma ambivalente como a cultura ocidental, desde os gregos, enxerga a capacidade humana de transformar a natureza. “Ao final, virá a aniquilação”, afirma Mefistófeles, o herói de Goethe que encara as finanças, a indústria e a domesticação da natureza como formas de progresso que conduzem inelutavelmente à catástrofe. Da mesma maneira, o que marca o gênio de Frankenstein é que a criatura escapa ao controle do criador, uma alusão à perigosa separação entre progresso técnico e imperativos morais . Diógenes em seu barril, fazendo da riqueza sinônimo de escravidão e Ulisses resistindo ao canto das sereias são outros exemplos, vindos dos gregos, dos fundamentos culturais que deram origem, sobretudo ao final dos anos 1960, ao movimento que passa a ver o consumo e a incessante expansão produtiva em que ele se assenta como antecâmaras da destruição.

    No segundo capítulo do livro, Fücks mostra como esta cultura se liga ao ceticismo com a democracia e ao flerte intelectual com soluções autoritárias por parte de importantes figuras ligadas à tese do decrescimento, nomeadamente o casal Dennis e Donnella Meadow e Jørgen Randers, autores do célebre informe do Clube de Roma (Limites ao Crescimento) de 1972.

    A segunda ruptura a que leva a ideia de crescimento verde consiste em transformar o atual modo de produção. Não se trata de suprimir mercados e empresas, mas de acelerar as mudanças capazes de oferecer bens e serviços sobre a base do consumo cada vez menor de energia e materiais. Este desacoplamento, na Grã-Bretanha e na França, só foi possível pela migração destrutiva em direção à China por que passou o setor industrial destes países. Mas não é esse o caso da Alemanha, cuja indústria não cessa de crescer, consumindo, entretanto, em termos absolutos, cada vez menos energia, com menos emissões e menor uso de materiais.

    A essência da revolução industrial verde preconizada por Ralf Fücks está na bioeconomia, no esforço de fazer da luz solar “a fonte primeira de toda a produção e de todo o consumo”. Muito mais do que placas solares, o autor mostra os progressos extraordinários alcançados pela biomimética, pela biorobótica e pela biogenética. Em torno destas diferentes formas de aprendizagem e de uso sustentável da natureza se organiza uma disciplina, a biônica (bionics em inglês), assim definida pela Associação de Engenheiros da Alemanha: “é uma disciplina científica que visa converter as estruturas, os processos e os princípios de desenvolvimento dos sistemas biológicos em tecnologia”. Só na Alemanha, setenta institutos de pesquisa e universidades orientam-se por programas de pesquisa ligados ao tema (http://www.biokon.de/).

    A revolução verde de Fücks não deve ser confundida com uma crença cega e mágica no poder da ciência e da técnica. Sua inspiração filosófica maior está no trabalho de Ernst Bloch para quem a tecnologia operou na natureza, até aqui, como um exército inimigo. O que agora está emergindo, segundo Bloch, é uma relação cooperativa entre sociedade e natureza, que pode dar lugar a uma economia regenerativa, capaz de reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa e o uso de energia e de materiais na oferta de bens e serviços.

    O pilar ético do trabalho de Fücks é o mesmo em que se apoiam os autores ligados ao decrescimento, ou seja, a noção de limites. Ao contrário deles, porém, Fücks procura demonstrar que pode ser promissora uma vida social que, desenvolvendo a ciência, a tecnologia e aprofundando a democracia, faz da cooperação com a natureza a base do crescimento econômico e da prosperidade.

    Fonte: Valor Econômico

    Por Ricardo Abramovay

  • A cultura do capital é anti-vida e anti-felicidade

    A demolição teórica do capistalismo como modo de produção começou com Karl Marx e foi crescendo ao longo de todo o século XX com o surgimento do socialismo e pela escola de Frankfurt. Para realizar seu propósito maior de acumular riqueza de forma ilimitada, o capitalismo agilizou todas as forças produtivas disponíveis. Mas teve como consequência, desde o início, um alto custo: uma perversa desigualdade social. Em termos ético-políticos, signfica injustiça social e produção sistemática de pobreza.

    Nos últimos decênios, a sociedade foi se dando conta também de que não vogora apenas uma injustiça social, mas também uma injustiça ecológica: devastação de inteiros ecossitemas, exaustão dos bens naturais, e, no termo, uma crise geral do sistema-vida e do sistema-Terra. As forças produtivas se transformaram em forças destrutivas. Diretamente, o que se busca msmo é dinheiro. Como advertiu o Papa Francisco em excertos já conhecidos da Exortação Apostólica sobre a Ecologia: ”no capitalimo já não é o homem que comanda, mas o dinheiro e o dinheiro vivo. A ganância é a motivação … Um sistema econômico centrado no deus-dinheiro precisa saquear a natureza para sustentar o ritmo frenético de consumo que lhe é inerente.”

    Agora o capitalismo mostrou sua verdadeira face: temos a ver com um sistema anti-vida humana e anti-vida natural. Ele nos coloca o dilema: ou mudamos ou corremos o risco da nossa própria destruição e parte da biosfera, como alerta a Carta da Terra.

    No entanto, ele persiste como o sistema dominante em todo a Terra sob o nome de macro-economia neoliberal de mercado. Em que reside sua permanência e persistência? No meu modo de ver, reside na cultura do capital. Isso é mais que um modo de produção. Enquanto cultura encarna um modo de viver, de pensar, de imaginar, de produzir, de consumir, de se relacionar com a natureza e com os seres humanos, constituíndo um sistema que consegue continuamente se reproduzir, pouco importa em que cultura vier a se instalar. Ele criou uma mentalidade, uma forma de exercer o poder e um código ético. Como enfatizou Fábio Konder Comparato num livro quer merece ser estudado A civlização capitalista (Saraiva, 2014):”o capitalismo é a primeira civilização mundial da história”(p.19). O capitalismo orgulhosamente afirma:”não há outra alternativa (TINA= There is no Alternative).”

    Vejamos rapidamente algumas se suas características: finalidade da vida: acumular bens materiais; mediante um crescimento ilimitado, produzido pela exploração sem limites de todos os bens naturais; pela mercantilização de todas as coisas e pela especulação financeira; tudo feito com o menor investimento possível, visando a obter pela eficácia o maior lucro possível dentro do tempo mais curto possível; o motor é a concorrência turbinada pela propaganda comercial; o beneficiado final é o indivíduo; a promessa é a felicidade num contexto de materialismo raso.

    Para este propósito se apropia de todo tempo de vida do ser humano, não deixando espaço para a gratuidade, a convivência fraternal entre as pessoas e com a natureza, o amor, a solidariedade, a compaixão e o simples viver como alegria de viver. Como tais realidades não importam para a cultura do capital, como reconheceu o insuspeito mega-especulador George Soros (A crise do Capitalismo, Campus 1999), porque, embora tenham valor, não tem preço nem dão lucro. Mas exatamente são elas que produzem a felicidade possível. Ele destrói as condições daquilo que se propunha: a felicidade. Assim ele não é só como anti-vida mas também anti-felicidade.

    Como se depreende, esses ideais não são propriamente os mais dignos para efêmera e única passagem de nossa vida neste pequeno planeta. O ser humano não possui apenas fome de pão e afã de riqueza; é portador de outras tantas fomes como de comunicação, de encantamento, de paixão amorosa, de beleza e arte e de transcendência, entre outras tantas.

    Mas por que a cultura do capital se mostra assim tão persistente? Sem maiores mediações diria: porque ela realiza uma das dimensões essenciais da existência humana, embora a elabore de forma distorcida: a necessidade de auto-afirmar-se, de reforaçar seu eu, caso contrário não subsiste e é absorvido pelos outros ou desaparece.

    Biólogos e mesmo cosmólogos (citemos apenas um dos maiores deles Brian Swimme) nos ensinam: em todos os seres do universo, especialmente no ser humano, vigoram duas forças que coexistem e se tencionam: a vontade do indivíduo de ser, de persistir e de continuar dentro do processo da vida; para isso tem que se auto-afirmar e fortalecer sua identidade, seu “eu”. A outra força é da integração num todo maior, na espécie, da qual o indivíduvo é um representante, constituido redes e sistemas de relações fora das quais ninguém subsiste.
    A primeira força se constela ao redor do eu e do indivíduo e origina o individualismo. A segunda se articula ao redor da espécie, do nós e dá origem ao comunitário e ao societário. O primeiro está na base do capitalismo, o segundo, do socialismo na sua expressão melhor.

    Onde reside o gênio do capitalismo? Na exacebação do eu até ao máximo possível, do indivíduo e da auto-afirmação, desdenhando o todo maior, a integração na espécie e o nós. Desta forma desequlibriou toda a existência humana, pelo excesso de uma das forças, ignorando a outra.

    Nesse dado natural reside a força de perpetuação da cultura do capital, pois se funda em algo verdadeiro mas concretizado de forma exacerbadamente unilateral e patológica.

    Como superar esta situação secular? Fundamentalmente no regate do equilíbrio destas duas forças naturais que compõem a nossa realidade. Talvez seja a democracia sem fim, aquela instituição que faz jus, simultaneamente, ao indivíduo (eu) mas inserido dentro de um todo maior (nós, a sociedade) do qual é parte. Voltaremos ao tema porque não é suficiente fzer a crítica a esta cultura malvada, como a chamava PauloFreire;   importa contrapor-lhe outro tipo de cultura que cultiva a vida e cria espaços para o amor, a cooperação, a criatividade e a transcendência.

    Fonte: Leonardo Boff

  • Opinião | Laudato Sí em América Latina

    Os Ka’apor do Maranhão levantaram a voz. Por isso querem amordaçá-los.

    Cansados de esperar que o Estado os defenda e garanta proteção para eles e a floresta, organizaram por sua conta“missões” de controle da reserva em que vivem.

    Vigiam sobre os acessos à sua terra e surpreendem os madeireiros que a invadem e saqueiam, protegidos e aliados a políticos e empresários locais. Quando os índios os descobrem, apoderam-se de suas motosserras, incendeiam seus caminhões e os expulsam de suas terras, declaradas Kaar Husak Há, isto é Áreas Protegidas.

    Eusébio Ka’apor
     era um dos defensores da terra indígena. Mataram-no com dois tiros nas costas, no final de abril, pouco distante de sua aldeia. No Brasil as vítimas da violência em terra indígena nesses últimos anos aumentaram com a mesma proporção da arrogante bancada ruralista.

    O que esperariam os Ka’apor da encíclica Laudato Sí de Papa Francisco? Será preciso lê-la do ponto de vista deles e de muitas outras vítimas da violência ambiental.

    Nós missionários combonianos faremos dela instrumento de estudo popular da realidade, com as comunidades cristãs junto às quais vivemos.

    Muitos estão esperando por essa encíclica. Sobretudo as comunidades e igrejas perseguidas por seu empenho emdefesa da Criação e em conflito com os grandes projetos nas regiões amazônicas: mineração, monoculturas, hidrelétricas e barragens, infraestruturas para a exportação de commodities… Chamados “projetos de desenvolvimento”, revelam rapidamente o interesse quase exclusivo de desenvolver os capitais de quem investe nisso, provocando graves violações dos direitos socioambientais às populações locais e criminalização dos líderes populares que a eles se opõem.

    Um dos motivos da criação da rede latinoamericana Iglesias y Minería, por exemplo, foi exatamente evitar o isolamento das comunidades mais empenhadas nessas frentes e demonstrar apoio moral, político e institucional da Igreja a seu lado. Esse talvez será o efeito prático mais imediato e importante de Laudato Sí.
    Esperamos que essa encíclica confirme uma posição clara da Igreja ao lado das vítimas do assim chamado “racismo ambiental”. Desejamos que, ao denunciar os riscos da sobrevivência do Planeta, o documento seja solidário às comunidades mais pobres. Essas são de um lado as vítimas maiormente atingidas por essa violência e, do outro, em muitos casos, indicam-nos caminhos de preservação da vida e de organização de economias a baixo impacto ambiental nos territórios.

    Em muitos países está sendo implicitamente declarada uma guerra de baixa intensidade, disputando territórios e bens naturais. A história se repete no estilo das antigas colônias, como bem demonstra o saudoso Eduardo Galeanoem “As veias abertas da América Latina”, mas com ritmos e tecnologias bem mais impactantes, chegando assim a violar também os direitos das futuras gerações.

    O espírito consumista e o sistema capitalista crescem a uma velocidade exponencial; outros modelos de vida que com dificuldade resistem à agressão deles observam-nos com angústia e incompreensão, definindo-os, lucidamente, “sistemas suicidas”. Desse ponto de vista, a leitura de Laudato Sí poderia ter profundas implicações político-econômicas.

    As comunidades que a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho define “indígenas e tribais” representam ao nosso ver um “baluarte” (Kaar Husak Há). Assim como ao longo da história as fortalezas protegeram inteiros territórios das invasões e frearam o controle inimigo dos territórios, da mesma forma o direito à autodeterminação das populações locais pode ser uma estratégia, hoje, para evitar a entrega indiscriminada dosbens comuns às corporações mineiras ou às multinacionais da comunicação, da água ou das grandes cadeias de produtos alimentares.

    A Igreja deveria apoiar com força o direito à “consulta prévia, livre e informada” das comunidades locais, assim que seja garantido o autocontrole de seus territórios.

    Red Eclesial Panamazónica comprometeu-se nesse sentido em diversos Países da América Latina. Articula comunidades cristãs de base, grupos e instituições religiosas e as conferências episcopais da grande Amazônia, com especial atenção aos direitos dos povos indígenas e com uma interessante proposta de colaboração permanente com a Comissão Interamericana dos Direitos Humanos.

    A visita de Papa Francisco a Washington em setembro, poucos meses depois da publicação da Encíclica, poderá tocar também esses temas delicados e urgentes.

    Em chave de política internacional, a encíclica poderia ser oportunidade para relançar a proposta de criação de umaCorte Penal de Justiça Ambiental. Hoje, de fato, não existem adequados mecanismos de responsabilização em nível internacional por crimes ambientais. Assim, mesmo em caso de graves violações desses direitos, as multinacionais e os governos locais, vinculados entre si por acordos e interesses econômicos, acabam praticamente impunes.

    Sobretudo, esperamos que o documento vaticano sobre ecologia ofereça uma releitura teológica das referências bíblicas que ao longo da história, por interpretações patriarcais e colonizadoras, separaram a Criação do homem, considerando esse último o dominador e controlador da vida.

    Sabemos quanto o sistema capitalista, ecocida e suicida, herdou da cultura religiosa cristã. Por outro lado, temos a inspiração radicalmente evangélica de São Francisco e o testemunho vivo de muitos e muitas mártires que nos relançam em defesa da vida.

    Precisamos igualmente de um profundo e humilde processo de conversão e purificação. Uma nova escuta da Revelação, a partir do encontro fecundo entre a Palavra bíblica, o livro da criação e a sabedoria dos povos e das religiões.

    Fonte: IHU

    Por Dário Bossi

  • Herodes e o menino Kaigang degolado

     

    Nesse dia seis de janeiro, ao celebrar com a Folia de Reis a visita dos Magos ao menino que amedrontou Herodes, me veio o gosto amargo da derrota sofrida em Imbituba, há apenas uma semana: Herodes mandou degolar mais um menino. Com o requinte de crueldade de ser a criança atacada justamente onde nos sentimos maior segurança – o colo materno.

    Se Vitor fosse branco e estivesse com a família em uma praça do Rio ou São Paulo, o crime hediondo estaria em todos os noticiários e provocaria repulsa maior do que as fotos de prisioneiros prestes a serem degolados por terroristas do Estado Islâmico. Mas Vitor é Kaingang e só foi morto porque índio não tem valor para a sociedade capitalista. Não se sabe até o momento de quem é a mão que passou o estilete mortal na garganta do menino. Sabemos, porém, quem são os mandantes do assassinato: grandes proprietários e proprietárias de terra que não respeitam o direito dos Povos Indígenas a terem seu próprio modo de produção e de consumo. Tal como o Herodes bíblico, eliminam até mesmo crianças que possam um dia ameaçar seu poder econômico.

    Em outros tempos a Igreja católica não ficaria em silêncio diante de um crime como esse. A nota do CIMI seria acompanhada de uma nota dos bispos e repercutiria por dezenas de milhares de comunidades de base de todo o Brasil. Celebraríamos os Reis magos, com certeza, mas não deixaríamos em silêncio o crime cometido por Herodes apenas uma semana antes. Pediríamos perdão por não termos evitado, com uma legislação e uma educação corretas, o preconceito contra os povos indígenas e nos comprometeríamos com os Santos Reis a tomar outro rumo nos caminhos da história. O sofrimento daquela pequena família Kaingang ao ver seu filho caçula esvaindo-se em sangue deveria dar um sentido mais realista à celebração da Epífania: aprender com os Santos Reis da bela tradição popular, a ver naquela criança degolada o anúncio da Libertação dos Povos Indígenas.

    Que neste ano da Misericórdia, ao passar pela porta do jubileu e entrarmos numa igreja, sejamos chamados à conversão e saiamos pela mesma porta para assumir a defesa da Vida das crianças Kaingang, Kayová, Mundurucu e de todos os outros povos que há quinhentos anos querem nos ensinar a viver em Paz com eles.

    Fonte: Leonardo Boff

    Por Pedro Ribeiro de Oliveira

  • Ou reagimos agora, com força, ou será tarde demais!

    Gente,

    Ontem, a Câmara aprovou a entrega do Pré-Sal a empresas privadas/estrangeiras, o STF aprovou – por maioria apertada, mas aprovou – a prisão a partir do julgamento em 2ª instância (uma das problemáticas “10 medidas contra a corrupção” propostas por Moro e companhia), nos próximos dias vai ser votada a PEC 241, que será a morte das políticas sociais no país.
    Depois do 1º turno das eleições municipais, a votação de medidas neoliberais está sendo feita numa velocidade impressionante. Antes do 2º turno, é possível que o Brasil tenha sido liquidado.
    Ou reagimos agora, com força, ou será tarde demais!
    Temos, urgentemente, de promover uma campanha de esclarecimento da opinião pública e de denúncia das medidas que estão sendo votadas (e, algumas, aprovadas). Para reverter este processo.
    Seria preciso:

    · a divulgação de notas públicas de entidades as mais diversas: ABONG, CONIC, CNBB, OAB, Reitores de Instituições Federais de Ensino, ANDES, ADUFRJ, artistas, mundo cultural, etc.

    · a publicação de artigos de intelectuais, artistas, personalidades sobre o que está acontecendo, alertando os cidadãos/cidadãs para o risco à democracia e aos direitos humanos, a quebra dos princípios fundamentais da Constituição de 1988.

    · inundar as redes sociais com estes artigos e outros materiais (inclusive alguns artigos que já foram publicados, pequenos vídeos de esclarecimento sobre a PEC 241, por exemplo, que já foram divulgados do DIEESE, da profa. Denise Gentil. Veja http://naoapec241.com.br/ ).

    · fazer números especiais de revistas virtuais (IHU online, por exemplo), sites e blogs ou um conjunto de artigos (dossiês) sobre estes temas.

    · candidatos eleitos deveriam se pronunciar denunciando estas medidas.

    · organizar protestos em Brasília, em frente ao Congresso, dentro do Congresso, articular entidades locais e nacionais para participar destes atos.

    · onde for possível, isto é, onde for viável reunir número considerável de pessoas: organizar manifestações contra estas medidas.

    Bem, foi o que me passou pela cabeça ao ler as notícias ontem à noite e hoje de manhã.

    Um abraço,

    Ivo Lesbaupin
    Iser Assessoria – 06.10.2016

  • Ou reagimos agora, com força, ou será tarde demais!


  • Ou reagimos agora, com força, ou será tarde demais!


    Gente,
    Ontem, a Câmara aprovou a entrega do Pré-Sal a empresas privadas/estrangeiras, o STF aprovou – por maioria apertada, mas aprovou – a prisão a partir do julgamento em 2ª instância (uma das problemáticas “10 medidas contra a corrupção” propostas por Moro e companhia), nos próximos dias vai ser votada a PEC 241, que será a morte das políticas sociais no país.
    Depois do 1º turno das eleições municipais, a votação de medidas neoliberais está sendo feita numa velocidade impressionante. Antes do 2º turno, é possível que o Brasil tenha sido liquidado.
    Ou reagimos agora, com força, ou será tarde demais!
    Temos, urgentemente, de promover uma campanha de esclarecimento da opinião pública e de denúncia das medidas que estão sendo votadas (e, algumas, aprovadas). Para reverter este processo.

    Seria preciso:

    · a divulgação de notas públicas de entidades as mais diversas: ABONG, CONIC, CNBB, OAB, Reitores de Instituições Federais de Ensino, ANDES, ADUFRJ, artistas, mundo cultural, etc.

    · a publicação de artigos de intelectuais, artistas, personalidades sobre o que está acontecendo, alertando os cidadãos/cidadãs para o risco à democracia e aos direitos humanos, a quebra dos princípios fundamentais da Constituição de 1988.

    · inundar as redes sociais com estes artigos e outros materiais (inclusive alguns artigos que já foram publicados, pequenos vídeos de esclarecimento sobre a PEC 241, por exemplo, que já foram divulgados do DIEESE, da profa. Denise Gentil. Veja http://naoapec241.com.br/ ).

    · fazer números especiais de revistas virtuais (IHU online, por exemplo), sites e blogs ou um conjunto de artigos (dossiês) sobre estes temas.

    · candidatos eleitos deveriam se pronunciar denunciando estas medidas.

    · organizar protestos em Brasília, em frente ao Congresso, dentro do Congresso, articular entidades locais e nacionais para participar destes atos.

    · onde for possível, isto é, onde for viável reunir número considerável de pessoas: organizar manifestações contra estas medidas.

    Bem, foi o que me passou pela cabeça ao ler as notícias ontem à noite e hoje de manhã.

    Um abraço,

    Ivo Lesbaupin
    Iser Assessoria – 06.10.2016

  • Saneamento e a escassez qualitativa da água

    Quando Pero Vaz de Caminha chegou ao litoral brasileiro, além da admiração pelos índios e índias, pela exuberância da floresta litorânea, ele fica deslumbrado com a quantidade de águas. Vai escrever ao rei:  “águas são muitas; infinitas. Em tal maneira graciosa (a terra) que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das aguas que tem! “. Frase que depois, falsificada, fica reduzida a “nesse país em se plantando tudo dá”.

    Quando o Brasil elaborou seu Primeiro Plano Nacional de Recursos Hídricos, participei com poucas pessoas do Nordeste para inserir no Plano a captação da água de chuva. Juntando várias fontes o Plano concluía que temos aproximadamente 13,8% das águas doces mundiais em território brasileiro.
    Temos a maior malha de bacias hidrográficas do planeta, além do que somos o único país do mundo de dimensões continentais que tem chuva em todo território nacional. Outros países como China, Estados Unidos e Austrália tem imensos desertos em seus territórios.

    Os dois maiores aquíferos do mundo estão em grande parte em território brasileiro, como o Alter do Chão na Amazônia e Aquífero Guarani que abrange regiões do sul e sudeste, além de outros países do cone sul.
    Ainda mais, os rios voadores que saem da Amazônia chegam até Buenos Aires – para outros até à Patagônia – e são os responsáveis pelas chuvas que caem em todo esse vasto território da América Latina.
    Nem mesmo a propalada diferença de quantidade de água de região para região pode ser alegada como problema. O Semiárido, com um milhão de quilômetros quadrados, com uma média de 700 mm/ano, tem capacidade instalada para armazenar apenas 36 dos 700 bilhões de m3 que caem sobre esse território todos os anos.

    Onde está, então, nosso problema? Exatamente na abundancia, nos ensinava o já falecido Prof. Aldo Rebouças. Ela nos tornou perdulários e, junto com a cultura predadora construída desde a fundação do Brasil, passamos a maltratar as nossas águas.

    Aos poucos estamos perdendo não só a abundancia pela destruição do ciclo de nossas águas – desmatamento da Amazônia e do Cerrado -, mas transformando nossos corpos d’água em depósitos de esgotos e de lixo. São as mineradoras – vide Samarco -, dejetos industriais, domésticos, hospitalares, agrícolas e resíduos sólidos como lixo doméstico e restos de construções. Basta olhar para o rio São Francisco.

    Dessa forma, além de estarmos provocando a escassez quantitativa, estamos provocando a escassez qualitativa, isto é, os mananciais estão diante dos nossos olhos – Pinheiros e Tietê em São Paulo -, mas suas águas são imprestáveis para qualquer tipo de uso.

    Nesse sentido, mais uma vez, a importância da Campanha da Fraternidade sobre o saneamento básico. Ao coletar e tratar os esgotos, manejar adequadamente os resíduos sólidos, estaremos dando a maior contribuição para superar a escassez qualitativa de nossas águas.

    Alerta: cientistas e juristas que estiveram na elaboração do conteúdo do Texto Base da CF, nos alertam que o governo está focando a luta contra as doenças em evidência no combate ao mosquito, desviando o foco do fundamento básico do saneamento.

    Por Roberto Malvezzi (Gogó)

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