Iser Assessoria

“Se não fizermos, ninguém vai fazer por nós”, diz padre que comanda mutirão em praias de Pernambuco

Comunidade de Tamandaré limpa sua área

No Espírito do Sínodo para Amazônia, padre Arlindo e a comunidade local se mobilizaram. Igreja em Saída, que pede o papa Francisco, é isso. Criar o espírito de comunidade que cuida das  pessoas, da terra, das águas e forma comunhão. 

Enquanto o governo biroliro, inerte e abobado, busca culpar a Venezuela ou o Greenpeace pelo imenso desastre ambiental causado por óleo no litoral do Nordeste, a população age.

Enquanto o Ministério Público Federal toma medidas burocráticas como entrar com uma ação contra a União por omissão e nenhuma autoridade se dispõe a sujar as barras das calças, o povo limpa as praias em mutirões voluntários.

Só na Bahia já foram retiradas mais de 155 toneladas de óleo das areias.

Em Pernambuco, o padre Arlindo Laurindo de Matos Júnior, da paróquia de São Pedro, tem sido um dos mais atuantes ao convocar populares e transmitir entusiasmo para o sucesso da empreitada.
Ele conversou com o DCM.

DCM: Como está a situação em Tamandaré? Qual foi a extensão do estrago?

Padre Arlindo: Tamandaré tem 16 km de praias. Na praia dos Carneiros e na Boca da Barra é que o óleo chegou em maior quantidade. O centro de Tamandaré, até agora, está limpo.

Tecnicamente não sei qual o impacto teve. Só sei que conseguimos evitar que chegasse no rio Ariquindá, mas no outro rio sujou um pouco.

Qual foi sua reação ao ver a poluição?

Chegou muito rápido. Quando começamos a nos comunicar pelos grupos de whatsapp sobre as notícias, no outro dia de manhã a praia já tinha sido atingida.

Calcei uma luva e comecei a limpar. O óleo misturado com areia tem uma consistência que facilita manusear. Daí pescadores e outras pessoas da comunidade foram se juntando.

Quando vimos a extensão daquilo parecia ser uma tarefa impossível. Mas conforme a comunidade foi chegando e trabalhando, em um dia já deu para ver que progredíamos.

Que avaliação o senhor faz da atuação das autoridades? Recebeu ajuda?

Depois de dois dias chegou a Marinha. Vi três marinheiros olhando, filmando. Perguntei se iriam ajudar, disseram que não estavam com equipamento de proteção correto, que teriam que esperar.

Então a sensação é de abandono por parte do governo federal.

Há ONGs presentes?

Não. A única coisa que teve foi uma afilhada minha da Universidade Rural que veio com 40 alunos da faculdade.

E para onde está sendo enviado o óleo recolhido?

Não sei dizer o que será feito com ele, nós acumulamos tudo num canto da praia em sacos plásticos.

O contato com o óleo traz perigo para a saúde…

Temos que colocar a mão na massa, não tem outro jeito. Talvez seja perigoso, mas estamos tomando o maior cuidado que podemos porque se não fizermos, ninguém vai fazer por nós.

Se não tem luva, a gente pega com saco plástico. Ficar esperando não dá.

Estou muito feliz com a ação da comunidade, mas muito triste com o que aconteceu e com a falta de informação. As pessoas estão preocupadas se vai chegar mais manchas de óleo. Há um sentimento de angústia, pessimismo e tristeza e isso é tão tóxico quanto o óleo.

O turismo já sente prejuízos?

Não sabemos ainda o impacto. O pessoal da hotelaria está muito preocupado, principalmente pela falta de informações sobre os riscos.

Qual o sentimento frente a esse descaso?

Se a comunidade não tivesse se mobilizado teria sido muito pior. O povo nordestino está demonstrando para o país o quanto pode fazer. Estamos tirando a sujeira no braço.

Queria ver as autoridades monitorando e coletando material para analisar, mas até agora nada. Só vimos promessas e nada acontecer.

Serviu para mostrar a solidariedade e força da comunidade. Então aqui está tudo bem, estou com fome e ainda vou celebrar mais missa hoje. E se sujar, a gente limpa de novo.

Sair da versão mobile