Por que as pessoas cristãs devem votar nos partidos de esquerda?
Por Lusmarina Campos Garcia – na pagina do Facebook
As propostas dos partidos de esquerda são mais compatíveis com os ensinamentos de Jesus do que as propostas dos partidos de direita.
Há diversos temas dos quais Jesus trata com insistência nos evangelhos. Ele insiste naqueles que são importantes. Eu vou mencionar apenas um: justiça social.
Há textos, em todos os evangelhos, nos quais Jesus denuncia a riqueza, o acúmulo de bens. Um dos diálogos mais exemplares é aquele que Jesus tem com o jovem rico. Este diálogo aparece nos evangelhos de Marcos 10:17-22, Mateus 19:16-30 e Lucas 18:18-30. O rapaz era um jovem de fé, piedoso, que conhecia as sagradas escrituras e cumpria tudo o que nelas estava escrito. Ele pergunta para Jesus: “o que mais eu devo fazer para herdar a vida eterna?” Jesus responde: “vá, venda tudo o que você tem, dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu, depois venha e me siga.” O jovem se entristeceu porque era muito rico. Então Jesus disse: “é mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus.”
O que isto quer dizer? De acordo com este texto, além da fé, o critério para se herdar a vida eterna é a distribuição de bens. Ou seja, o acúmulo de bens, o acúmulo de dinheiro, de casas, de terras, de carros, etc, não condiz com o discipulado. Por que? Porque Jesus quer sociedades justas. Uma sociedade na qual algumas pessoas são ricas e um monte de gente é pobre, não é justa. No Brasil, dez famílias possuem o mesmo que a metade da população do país. Dez famílias possuem o mesmo que 100 milhões de pessoas. É porque elas são mais trabalhadoras ou mais merecedoras? Não. De modo geral, é porque elas herdaram a riqueza. Tal herança pode incluir terras advindas de um sistema de distribuição injusta, roubadas dos indígenas, na época das capitanias hereditárias, ou pode advir dos engenhos e das fazendas que se tornaram produtoras de agricultura a partir do trabalho escravo na época colonial, pode também incluir indústrias que se desenvolveram a partir da exploração do trabalho das classes trabalhadoras mal pagas, no período industrial. Há um estudo importante do economista francês, Thomas Piketti, que analisa como as famílias ricas se mantêm ricas, por gerações, por meio das heranças. Contemporaneamente, o enriquecimento desmedido se dá através do sistema financeiro, que se sustenta por meio dos juros bancários e das bolsas de valores. Seja por meio das heranças ou dos incríveis juros bancários e bolsas de valores, a riqueza é um produto do sistema capitalista que é um sistema desenvolvido para gerar desigualdade.
Como é que é possível mudar esta situação? Através de um Estado forte, que regule a distribuição de riqueza por meio de impostos (principalmente sobre grandes fortunas), de uma política monetária de valorização do salário mínimo, de educação gratuita, de saúde gratuita, de imposição de direitos – sociais, trabalhistas, educacionais, identitários, etc.
Estas são pautas defendidas pelos partidos de esquerda. Os partidos de esquerda consideram que o Estado e o governo têm que trabalhar para acabar com a desigualdade social, e para fazer isto precisam criar políticas públicas para tal.
Os partidos de direita defendem que é o mercado que tem que regular as relações sociais e de trabalho, sem intervenção do Estado (ou com intervenção mínima). Mas o que é o mercado? O mercado é o conjunto de empresas, bancos, indústrias, agricultura, ou seja, tudo aquilo que movimenta a economia. Quem controla o mercado? São os donos do capital. E quem são os donos do capital? São as pessoas ricas. E as pessoas ricas trabalham para que haja distribuição? Não. Não é interesse dos ricos que a desigualdade social diminua, pois a riqueza deles só se mantém à custa da pobreza de muitos.
Os governos de esquerda são de esquerda porque trabalham para distribuir a riqueza, para proteger os direitos das classes trabalhadoras, das pessoas que não herdaram fortunas de suas famílias e que, portanto, estão em desvantagem na escala social.
Os partidos de direita querem um Estado mínimo. Estado mínimo é um Estado que não regula (ou regula minimamente) as relações sociais, financeiras, comerciais e não impõe os direitos que protegem as classes trabalhadoras. É um Estado que permite a privatização das empresas públicas, das escolas, dos hospitais, das prisões, de modo que quem é rico e pode comprar estas coisas, será o dono de tudo e ficará cada vez mais rico, pois o restante da população precisará pagar por estes serviços. E assim, a desigualdade social se aprofunda.
Por isso, se você é uma pessoa pobre ou de classe média e trabalhadora, que quer que os seus interesses tenham voz e vez, você deve votar nos partidos de esquerda.
Lusmarina Campos Garcia, é teóloga e pastora da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Atualmente licenciada para estudos, pois é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Direito da Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro.