Iser Assessoria

Pedro Ribeiro de Oliveira – Análise de Conjuntura

Imagem: besthqwallpapers

Neste momento de pandemia, em que os fatos parecem se atropelar, é quase impossível fazer uma análise abrangente da realidade. Mas não podemos perder de vista a realidade global, porque somos apenas uma parte dela. Por isso, arrisco-me a publicar este texto pensado para os tempos de comunicação por internet, quando a maioria das pessoas (inclusive eu) não leem com atenção mais do que três páginas.

Há que se distinguir três âmbitos estruturais no tempo e no espaço: (1) a Terra e sua comunidade de vida, com seu tempo longo, medido por séculos; (2) o sistema-mundo capitalista, com seu tempo histórico, medido por décadas e (3) o Brasil social, político, cultural e econômico, com seu tempo conjuntural, medido por semanas.

  1. A Terra e sua comunidade de vida

A comunidade científica prevê que a catástrofe climático-ambiental deverá ocorrer até 2050, se não forem tomadas as medidas urgentes, mas poucos são os Estados que cumprem os compromissos do Acordo de Paris, assinado em 2015, por 195 países. Essa catástrofe vai dizimar a espécie humana e provocará mudança radical no modo de produção e de consumo e o esfacelamento dos Estados nacionais.

Cabe a nós, hoje, pensar e preparar um modo de produção pós-catástrofe e pós-capitalista, para evitar a guerra de todos contra todos e – na melhor das hipóteses – criar uma civilização planetária onde comunidades territoriais vivam em harmonia entre si e com a Terra. Para isso, é preciso ter presente que:

  1. Sistema-mundo capitalista em crise.

A atual crise econômica é um repique da crise da bolha financeira de 2008, fortemente agravada pela pandemia do covid-19. É o fim do ciclo de acumulação capitalista puxado pelos EUA no século 20. Abre-se o período de transição para um novo ciclo. Sinais dessa crise são o fim do desenvolvimentismo no Sul global e o fechamento das economias do Norte global. Resultado: Megacorporações ganham mais poder (inclusive sobre os Estados nacionais), a riqueza concentra-se em 1% da população humana – as classes opulentas – enquanto a pobreza e a miséria só aumentam.

Aplicando-se esse padrão, estamos no momento das guerras. Conforme o tipo de armamento utilizado, distinguem-se 3 formas: (1) guerras localizadas, étnicas, contra drogas; (2) guerras de 4ª geração ou híbridas e (3) nuclear, com a provável extinção da espécie humana.

Na contramão dessas tendências destrutivas, pode-se perceber uma novidade:

  1. A conjuntura brasileira

Em 2002 o PT fez um pacto com as classes opulentas, constituídas por cerca de 71,5 mil declarantes de Imposto de Renda com rendimentos mensais superiores a 160 salários-mínimos (dados de 2013). Elas permitiram a Lula um governo social-desenvolvimentista, mas sem realizar reformas estruturais (agrária, fiscal, política, etc) nem auditar a dívida pública. A crise econômica de 2008 e suas consequências geopolíticas levou as classes opulentas em 2014 a romper esse pacto e buscar uma coalizão com corporações e o aparato de segurança dos EUA para dar outro rumo político ao Brasil. Com a imprescindível colaboração do Poder Judiciário, o PT foi trocado por Temer, com a missão de privatizar a exploração do petróleo e alinhar-se politicamente aos EUA, conforme o Programa Uma ponte para o futuro.

O governo Temer cumpriu a missão que lhe foi atribuída, mas não conseguiu fazer sucessor. As classes opulentas renderam-se então a Bolsonaro, com suas milícias (digitais e armadas), os militares corporativistas e sua tosca ideologia ultradireitista, para garantir Paulo Guedes e sua política de privatizações e de demolição do Estado de proteção social. O problema é que hoje Bolsonaro, incompetente diante da pandemia, com um ministério de baixíssima qualidade, incentivando o arraso ambiental e mais ocupado em defender seus filhos do que governar, tornou-se um estropício para quem tem a pretensão de constituir a elite do BrasilAqui situa-se a atual correlação de forças:

No polo oposto às classes opulentas, onde situam-se os grupos e setores
oprimidos, empobrecidos ou socialmente discriminados, pode-se ver:

Conclusão

Neste tempo de incertezas decorrentes da pandemia, muita gente pergunta o que virá depois, esta análise não é alentadora. O “novo normal” que se desenha hoje repousa sobre a concentração ainda maior de poder e riquezas na minoria opulenta, que beneficiada pelo desmonte político e ideológico operado pelo neoliberalismo, não tem oponentes suficientemente fortes para dar outro rumo ao capitalismo concentrador de riqueza e predador do Planeta. Os governos ultradireitistas estão a serviço de sua ofensiva contra a Terra e os Pobres e só serão descartados quando for hegemônico o capitalismo de 5ª geração, com sua política de controle social por Inteligência Artificial e sua produção regida pela informática. Será a vitória definitiva do Capital sobre o Trabalho.

O prognóstico, porém, pode ser inteiramente diferente se as classes e grupos oprimidos recuperarem seu protagonismo político, revertendo assim a vitória neoliberal do final do século 20. Vejo 3 grandes forças nesse sentido:

Vitória – ES, 9 de julho de 2020

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