Iser Assessoria

I – O sentido econômico da proposta
Marcos Arruda

 

PROPOSTAS PARA A ECONOMIA DE FRANCISCO E CLARA

Por Marcos Arruda[1]

Série de pequenos textos que visam colaborar com o grupo de jovens brasileiros que vão a Assis para o Encontro Mundial Economia de Francisco.

  1. SENTIDO ECONÔMICO DA PROPOSTA DE UMA ECONOMIA DE FRANCISCO E CLARA

As figuras de São Francisco de Assis e Santa Clara servem de guias para a visão de uma Economia da Vida, como pretende o Papa Francisco. Quais são as principais lições que emergem dessas figuras?

O outro desafio é de cunho social ou coletivo. A população pobre do Brasil não tem acesso a nutrição regular e de qualidade, muito menos a água morna para se banhar. Seu padrão de consumo não cobre suas necessidades básicas. Libertá-la destas carências deve ser a primeira prioridade para os fazedores de políticas públicas. As práticas de economias centradas na vida (biocêntricas) visam criar e manter as condições propícias para que cada pessoa, e o conjunto da sociedade, possa desenvolver seus potenciais humanos e sociais em harmonia com o meio natural. Incidir nos governos em todos os níveis em favor de políticas que revertam os fatores antrópicos (causados pela espécie humana) do aquecimento global e reconheçam por lei os direitos da Natureza. Organizar a cidadania planetária em torno destas políticas, eis o grande desafio de uma Economia da Vida neste momento.

Um desdobramento desta terceira lição é o trabalho pela paz, justiça e equidade em escala planetária. Em busca de um acordo pacífico entre Cruzados e Muçulmanos, Francisco e Illuminato navegaram até o Egito. Se horrorizaram diante da carnificina e da postura antievangélica dos Cruzados. Essa guerra levou Francisco a tentar persuadir os Cruzados a negociar a paz. O Sultão al-Khamil chegou a oferecer Jerusalém aos Cruzados em troca da paz, mas eles rejeitaram sua oferta. Francisco e Illuminato decidiram ir ao campo muçulmano com surpreendente audácia, e criaram com o Sultão e seus sábios sufis um diálogo de vários dias sobre a espiritualidade das duas religiões. Daí emergiu um laço de amizade entre o Sultão e Francisco. Francisco nos ensina que a Política da Amizade é a matriz da Paz com Justiça.

As disputas políticas e econômicas tendem à demonização do “inimigo” e a busca de soluções violentas. Hoje em dia, o sistema do capital joga empresário contra empresário, trabalhador contra trabalhador, país contra país, povo contra povo. A ganância e a voracidade visando acumular dinheiro e riquezas materiais é a marca dos que praticam o capitalismo como sua religião.

Que audácia, que profundo compromisso de Francisco e seus irmãos com os valores fundantes do Cristianismo!

O desafio do Encontro de Assis é encontrar modos de fazer a Economia coerentes com essas virtudes de Francisco e Clara.

As lições de Clara

Além da escolha por abandonar a riqueza e o luxo da família para abraçar com alegria a simplicidade e a pobreza voluntárias como modo de vida, Clara enfrentou o patriarcalismo de sua época e, ainda muito jovem, abriu sua própria trilha e seguiu o apelo do seu coração a despeito da oposição do pai. Foi uma mulher que encarnou as virtudes do Sagrado Feminino. No Mosteiro de São Damião, onde ela se instalou, logo acompanhada por sua irmã Agnes e outras devotas, ninguém tinha posses privadas, a alimentação excluía toda carne, e a pegada ecológica era exemplar.

Aprendendo de seu exemplo, a Economia de Francisco e Clara deve ser uma economia do suficiente em termos materiais, rejeitando a ideologia do crescimento econômico ilimitado, e com ele o excesso de consumo e de produção sem consideração com as gerações futuras e os limites dos ecossistemas. A partilha da posse dos bens produtivos e o acesso responsável de todas e todos aos bens comuns que a Terra oferece; o cuidado e o respeito a cada outra pessoa, colaborando para que os direitos de todo ser sejam respeitados; o trabalho pelo reconhecimento legal dos direitos da Natureza; a promoção das comunidades autogestionárias como unidades de produção e reprodução da vida e, portanto, protagonistas do seu próprio desenvolvimento econômico, social e humano, são apenas alguns elementos que devem marcar a Economia de Francisco e Clara.

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Fonte da foto: https://www.facebook.com/EconomiaDeFrancisco/

[1] Economista e educador do Instituto PACS, Rio de Janeiro, colaborador da rede Solidarius, do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS), da Rede Global Diálogos em Humanidade – Brasil, e da Ágora das e dos Habitantes da Terra – Brasil. Marcos também é associado ao Instituto Transnacional, Amsterdam.

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