GRAIN e Institute for Agriculture and Trade Policy (IATP) | 02 agosto 2018.
Novo relatório revela como as estratégias de crescimento das 35 maiores empresas frigoríficas e de laticínios do mundo aumentam suas emissões, prejudicando esforços globais para evitar perigosas mudanças climáticas.
As maiores empresas globais de carnes e laticínios podem virar os piores poluidores do planeta nas próximas décadas, segundo um novo relatório do Instituto para Políticas em Agricultura e Comércio (IATP) e da GRAIN. Quando o planeta mais precisa reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, os imensos frigoríficos e laticínios promovem o consumo excessivo ao acelerarem a produção e as exportações, apesar dos compromissos que algumas delas assumiram para reagir à mudança do clima.
A nova pesquisa mostra que:
- Somadas, as cinco maiores empresas frigoríficas e de laticínios (JBS, Tyson, Cargill, Dairy Farmers of America e Fonterra) respondem por mais emissões anuais de gases de efeito estufa do que a ExxonMobil, Shell ou BP.
- As emissões somadas das 20 maiores empresas frigoríficas e de laticínios superam as emissões de países inteiros, como Alemanha, Canadá, Austrália ou Reino Unido.
- A maioria das 35 maiores empresas frigoríficas e de laticínios ou não declaram suas emissões ou excluem as emissões feitas por sua cadeia de fornecedores, que representam 80% a 90% de suas emissões. Apenas 4 apresentam estimativas abrangentes de suas emissões.
- Apenas a metade das 35 maiores empresas frigoríficas e de laticínios já anunciou algum tipo de meta para a redução de suas emissões. Destas, somente seis incluíram as emissões de sua cadeia de fornecedores.
- Se o crescimento da indústria frigorífica e de laticínios acompanhar suas próprias projeções atuais, o setor pecuário como um todo poderá consumir 80% de todo o limite planetário para a emissão de gases de efeito estufa até 2050.
O relatório também revela que as operações das 35 maiores empresas são concentradas em poucos países e respondem por uma parcela desproporcional da produção e consumo global de carnes e laticínios. Desses países, os Estados Unidos, os países da União Europeia, Canadá, Brasil, Argentina, Austrália, Nova Zelândia e China respondem por mais de 60% das emissões globais da produção frigorífica e de laticínios, o dobro do resto do mundo em termos per capita . Só seis desses países produzem mais de 67% da carne bovina do mundo, enquanto três (a UE, os EUA e Nova Zelândia) produzem quase a metade dos laticínios do mundo.
“Não há outra opção. É preciso reduzir substancialmente a produção de carnes e laticínios nos países dominados pelas 35 maiores empresas”, segundo Devlin Kuyek, da GRAIN. “Essas corporações estão promovendo acordos comerciais que vão aumentar as exportações e as emissões. Estão enfraquecendo soluções climáticas reais como a agroecologia, que beneficiam agricultores, trabalhadores e consumidores.”
“A ‘carne barata’ simplesmente não existe”, afirma Shefali Sharma do IATP. “Durante décadas, a produção em grande escala de carnes e laticínios se viabilizou pagando os criadores abaixo do custo de produção, explorando os trabalhadores e cobrando a conta dos contribuintes pela poluição do ar, terra e água causada por grandes operações frigoríficas e de laticínios. Chegou a hora de compreendermos que o consumo excessivo é diretamente vinculado aos subsídios que permitem que essa indústria continue desmatando, exaurindo nossos recursos naturais e ameaçando a saúde pública pelo abuso de antibióticos. Nosso relatório revela seu outro papel central, promovendo a mudança do clima.”
O relatório mostra a necessidade de sistemas alimentares nos quais os agricultores podem oferecer a todos volumes moderados de carnes e laticínios de alta qualidade, de uma maneira que respeita as pessoas, os animais e o planeta.
O relatório completo está disponível aqui: https://www.grain.org/e/6011
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A GRAIN é uma pequena organização internacional, sem fins lucrativos, que trabalha em apoio a pequenos agricultores e movimentos sociais em suas lutas por sistemas alimentares controlados pelas comunidades e baseadas na biodiversidade. http://grain.org
O Instituto para Políticas em Agricultura e Comércio (IATP) trabalha em escalas local e global na fronteira entre políticas e práticas, para garantir sistemas alimentares, agrícolas e comerciais sustentáveis. http://iatp.org