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A incompatibilidade do atual modelo econômico com a sustentabilidade do planeta Terra

 

A incompatibilidade do atual modelo econômico com a sustentabilidade do planeta Terra*
Por Antonio Salustiano Filho**

No contexto do sistema econômico atual, vivemos obcecados com a ideia de progresso e com o aperfeiçoamento da humanidade, numa ótica de crescimento econômico ilimitado e a qualquer custo e, assim, acreditamos no “vale tudo” para atingir essa meta ambiciosa do ser humano condicionado à cultura do sistema vigente. Daí quase nada do que fazemos, dentro dessa ótica, é sustentável.

Importa dizer que essa concepção de crescimento econômico a qualquer custo é fruto da ideologia da chamada civilização ocidental de caráter patriarcal e viés produtivista, consumista e depredador da natureza, tendo o ser humano (enquanto espécie) como centro do universo e em torno do qual circulam – em condições de subalternos e subjugados – os demais seres da natureza. É a ideologia desse modelo de desenvolvimento que nos faz acreditar que o bem-estar dos seres humanos está nessa aventura do crescimento ilimitado da produção sem nos ocupar com a depredação do patrimônio comum da humanidade, o Planeta.

Essa ideologia “é a significação imaginária social mais importante forjada pela burguesia, produzindo e difundindo a ideia de que o crescimento ilimitado da produção e das forças produtivas é a norma natural e é, de fato, o objetivo central da vida humana.” (CASTORIADIS, 1982).

Vivemos alienados a essa ideia de desenvolvimento com a promessa de felicidade no nosso desejo de consumo e nosso senhorio sobre a natureza.

A utopia desse modelo econômico prometeu que o desenvolvimento das forças produtivas e a expansão da esfera econômica libertariam a humanidade da escassez, da injustiça e do mal estar. Dominando a natureza, a humanidade teria poderes soberanos sobre si própria (RIST, 1996).

Crescimento/desenvolvimento são termos oriundos da economia que entre nós é capitalista, regulada pelos mercados mundialmente articulados. Sua lógica interna é fundamentada na exploração sistemática e ilimitada da natureza, tirando desta os recursos naturais até a exaustão e devolvendo-lhe seus rejeitos (lixos) altamente nocivos.  Nessa relação economia/natureza verificamos a destruição dos ecossistemas com toda a biodiversidade e espécies. Trata-se de um sistema competitivo que com a voracidade que lhe é peculiar está deixando a Terra completamente devastada, imprópria para a vida, especialmente para o ser humano.

A velha concepção de sociedade, sedimentada na ideia cega, surda e insensível é que “tempo é dinheiro” e “tudo é mercadoria” fez com que se montasse essa máquina industrialista que, de forma sistemática e agressiva ao meio ambiente, tira da natureza até o seu esgotamento total, tudo o que ela pode dar, pois o que importa é o máximo de lucro como o menor custo possível num tempo curto.

“Tendo na economia seu valor maior, as sociedades contemporâneas têm ignorado as irreversibilidades ambientais decorrentes de suas ações. A intensa utilização de elementos não-renováveis e a contínua e generalizada degradação e transformação ambiental evidenciam esta desconsideração.” (TIEZZI, 1988).

Esquecemos, ou nunca soubemos – dada nossa condição de homo sapiens e demens – que

“a dinâmica da natureza é regida por leis diferentes das que regem a economia, e quanto mais rápido consumirmos os recursos materiais e energéticos, menos tempo estará disponível para nossa sobrevivência. Os limites dos recursos e os limites da resistência de nosso planeta indicam claramente que, se acelerarmos os fluxos de energia e matéria no sistema Terra, estaremos encurtando o tempo real disponível para a espécie humana. Um organismo que consome seus meios de subsistência mais rápido do que o ambiente os produz, não tem possibilidade de sobreviver”. (TIEZZI, 1988)

A dimensão ecológica nunca foi parte do desenvolvimento preconizado pelo atual sistema econômico. Trata-se de um sistema em que a tecnologia é tida como impulsionadora da produção e da produtividade. A natureza é vista apenas como fator passivo de exploração (MONTIBELLER-FILHO, 2008) e não é contabilizada no custo da produção.

Assim essa sociedade, onde tudo é mercadoria e alguns indivíduos (seus mentores) têm uma fome voraz de lucro, não terá a resposta para os problemas da Terra, pois ela (a sociedade) é a geradora do problema. A ideia de uma economia verde, ou ecológica, é um subterfúgio. Um discurso para cooptar o movimento ambientalista/ecológico em prol da sustentabilidade discursiva e antropocêntrica forjada pelos depredadores da natrureza.

Para os mentores dessa sociedade econômica não dá para abrir mão do lucro em favor de um modelo econômico que reverta o processo de extinção de toda a vida na terra. Em nome da acumulação desenfreada de riqueza milhões de vidas humanas e milhares de espécie da biodiversidade são sacrificadas no altar do mercado. Tudo em nome do deus dinheiro.

Bibliografia Citada

CASTORIADIS, Cornelius.  A Instituição imaginária da sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 1982, pp. 418.

MONTIBELLER-FILHO, Gilberto. O Mito do desenvolvimento sustentável: meio ambiente e custos sociais no moderno sistema produtor de mercadorias. 3. Ed. rev. e atual. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2008, pp.326.

RIST, Gilbert. Le développement, Histoire d’une croyance occidentale, Paris: Presses de Sciences Po, 1996.

 TIEZZI, Enzo. Tempos históricos, tempos biológicos. A terra ou morte: os problemas da nova ecologia. São Paulo: Nobel, 1988, pp. 279.

 

* O presente artigo é parte de um texto maior, o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de pós-graduação em Direito Ambiental (Latu Sensu), na UNIMEP – Universidade Metodista de Piracicaba. Publicado originalmente no Diário de Santa Bárbara. Santa Bárbara do Oeste-SP, 25/02/2021.

**ANTONIO SALUSTIANO FILHO, Advogado, ambientalista e membro das CEBs do Regional Sul-1 (estado de São Paulo).

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