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Quem chega ao poder central com o novo governo?

Por Robson Sávio Reis Souza

A parceria entre as elites financiadoras da ruptura democrática (banqueiros, latifundiários, rentistas e empresários) que se associaram ao sistema de justiça, aos militares e ao segmento religioso ultraconservador criaram as condições para essa nova configuração ultraliberal, autoritária e de viés teocrático tão bem encarnada na figura de Bolsonaro.


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Desde a república velha não tínhamos, de forma tão visível, as elites brasileiras no centro do poder, como ocorre agora.

Nem com os militares, durante a ditadura, tivemos um poder tão concentrado nas mãos de prepostos das elites (os Bolsonaros, seus ministros e principais conselheiros). Os ditadores eram, pelo menos, nacionalistas.

O que caracteriza as elites brasileiras? São homofóbicas, machistas, racistas e antinacionais; sabujas das elites estrangeiras, principalmente dos Estados Unidos. Não têm nenhum compromisso com a Nação e nosso povo.

De modo mais explícito, a partir 2013, as elites brasileiras se articularam em diversas frentes para a tomada do poder a qualquer custo. Afinal, não suportavam mais a pequena, mas importante, ascensão social dos trabalhadores, via consumo.

Conviver com os pobres é como conviver com vermes para as elites brasileiras. Essa é uma das marcas da mentalidade escravocrata dos abastados dessas plagas, desde os então (e não menos atuais) “bons cristãos”, até os hoje autodenominados “cidadãos de bem”.

Mas, como foi possível a tomada do poder sem, aparentemente, destruir o verniz democrático?

Em primeiro lugar é preciso dizer que essas elites (muito bem representadas no desdém de Bolsonaro a práticas mínimas de civilidade) só conseguiram chegar ao centro do poder porque tiveram a parceria do sistema de justiça (historicamente serviçal da casa grande); contaram com a criminalização da política pela mídia nativa e com a participação estratégica de think tanks estadunidenses que os ajudaram na difusão do ultraliberalismo, em contraposição ao estado social e às ideias de público e bem comum. O mantra difundido: só vale o individual e o privado… Até deus foi privatizado com a teologia da prosperidade.

Obviamente, tiveram na parcela da classe média conservadora (que faz qualquer negócio para manter seus privilégios) os principais divulgadores dessas idéias. O grupo conservador da classe média se associou a membros das elites nas passeatas domingueiras (financiadas com dinheiro de empresas e transmitidas ao vivo pela mídia), em 2013, e continua ativo, como percebemos com clareza nas vestimentas, coreografias, performances e gritos dos que se encontram presentes na posse do capitão, em Brasília, nesse 1° de janeiro.

Ainda é preciso registrar o apoio doutrinário de setores religiosos conservadores que sempre estão atentos para se manterem e beneficiarem do poder.

É preciso destacar, também, que, desde 1985, quando governos liberaldemocratas e de esquerdas estiveram, no poder (central), além de lenientes com a ordem social historicamente perversa, não fizeram nenhuma reforma estrutural para mudar substancialmente a configuração secularmente desigual e injusta que desde sempre determinou as relações sociais e de poder no Brasil. Por isso, quando veio a crise econômica, a partir de 2010, com o desemprego e a incapacidade de ampliação das políticas públicas restou ao povo a ira e a raiva (transformadas em potente instrumento de manipulação eleitoral, via redes sociais e fake news, nas eleições de 2018).

Obviamente, como já descrevemos em outro artigo, a parceria entre as elites financiadoras da ruptura democrática (banqueiros, latifundiários, rentistas e empresários) que se associaram ao sistema de justiça, aos militares e ao segmento religioso ultraconservador criaram as condições para essa nova configuração ultraliberal, autoritária e de viés teocrático tão bem encarnada na figura de Bolsonaro.

Portanto, com o capitão no poder, as elites nacionais conseguem seu intento de maneira inusitada: utilizando-se dos mecanismos da democracia procedimental, haja vista que mesmo com todas as evidências e os seguidos arrombos democráticos desde 2013 (entre os quais a retirada de Lula da disputa por um juiz que se tornou ministro do preposto dessas elites), o PT e as esquerdas toparam participar da disputa eleitoral, “com o Supremo, com tudo”.

Bolsonaro é o preposto dos sonhos das elites tupiniquins. Agora, é hora de avaliar o passado, reconstruir a unidade dos setores democráticos no presente e lutar por um futuro digno para os brasileiros.

ROBSON SÁVIO REIS SOUZA – Doutor em Ciências Sociais, professor universitário e membro da Comissão da Verdade de MG.
Artigo recebido pelo whatsapp, já publicado pelo site 247.

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