A verdadeira campanha do ex-capitão é feita pela internet, pelas redes sociais, difundindo mentiras (“fake news”), uma atrás da outra, para desmoralizar o adversário e obrigá-lo a passar o tempo se defendendo. Foi assim que fizeram com as manifestações “#EleNão”. Divulgaram vídeos de outras manifestações, até de outros países, com mulheres meio despidas como se fossem imagens atuais, para desmoralizar as manifestantes do dia 29 (“querem acabar com a família”, etc.).
Estão fazendo assim agora: vídeos onde se diz que Fernando Haddad é a favor do incesto, que distribuiu chupetas indecentes para as crianças, uma série incessante de falsas notícias que inundam as redes sociais, feitas de tal maneira que tendem a convencer as pessoas de que aquilo é verdade e que mentira é o que Haddad diz na televisão.
O mesmo trabalho foi feito para a campanha vitoriosa de Trump nos Estados Unidos. Steve Bannon, diretor da empresa responsável por este trabalho virtual, está ajudando a campanha do ex-capitão. Eles fazem um levantamento dos dados dos usuários das redes sociais, especialmente seus afetos e emoções (desejos, gostos, medos), dividem os usuários por grupos de semelhança e dirigem mensagens (posts) especiais para cada grupo. Com isso, vão quebrando barreiras, mobilizando as mentes e reforçando a emoção que se quer transmitir (Clique aqui e assista o vídeo no youtube) . O resultado é pessoas com receio, por exemplo, de que o PT – que só teve governos democráticos – instale uma ditadura. Ou que interrompa as investigações de corrupção, sendo que os grandes processos de corrupção no Brasil ocorreram durante os governos do PT – exatamente porque seus governos garantiram liberdade para as instituições trabalharem.
Ao contrário, o risco verdadeiro é que um governo do ex-capitão instale uma situação de exceção no país, com licença para a violência por parte de grupos contra todos aqueles que discordam dele. Estas situações de violência já têm ocorrido por todo o país, motivados pelos discursos deste candidato (armas para a população, licença para a polícia matar, tratar os adversários políticos como inimigos, etc.).
Não custa lembrar que, em 1989, o candidato Collor – que se apresentava como o “salvador da pátria”, o “caçador de marajás” – afirmou que Lula ia pegar o dinheiro da poupança de todos os brasileiros. O que aconteceu de fato: Collor foi eleito e foi ele quem congelou a poupança de todos/as.
Haveria um meio de a campanha ser mais equilibrada: se as instituições públicas, em especial o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), proibisse as mentiras que são difundidas pela campanha do ex-militar e garantisse o direito de resposta. Mas nada está sendo feito: o candidato Haddad vem sendo atacado diariamente, várias vezes por dia, por um dispositivo montado para caluniá-lo. São milhares de “robôs” fazendo chegar mensagens aos celulares e computadores de todo o país.
O verdadeiro programa de governo do ex-capitão
O candidato que defende a ditadura e a tortura afirma que o candidato do PT é quem vai instalar uma ditadura. Curiosamente, ele exige do candidato autocrítica dos governos do PT, mas não tem nenhuma crítica a fazer à ditadura militar. Este regime (1964-1985) matou 400 pessoas, jogou na prisão e torturou milhares de pessoas, suspendendo a liberdade de opinião, de expressão, de manifestação.
A campanha de mentiras desenvolve temas todos relativos à família (“destruir a família”, “dividir a família”, etc.), uma forma também de impedir que se discutam as políticas públicas que o ex-militar defende. Ele não vai a debates para não expor seu programa de governo. Mas todos sabemos que pretende dar continuidade às políticas do governo Temer, de redução dos gastos em saúde, educação, assistência, para aumentar a participação de empresas privadas e para garantir ganhos maiores aos mais ricos (banqueiros e investidores financeiros). Quem vai perder, em primeiro lugar, num possível governo da chapa capitão e general, serão os pobres, os moradores de bairros pobres: são eles que vão perder direitos, como já estão perdendo agora. E a violência com que este candidato pretende promover a “pacificação” da sociedade vai atingir em primeiro lugar as periferias e, claro, todos os que não pensam como ele.
Mãos à obra
A tarefa é grande, mas necessária. Um governo dirigido pelo ex-capitão teria pouca garantia de respeito às regras democráticas, há risco de exacerbação da violência por diferença de opiniões ou de comportamentos, há ameaça à segurança das comunidades faveladas e de periferia. A possibilidade de manifestações e protestos estará sob risco. O candidato afirmou publicamente, ao final do primeiro turno, que quer acabar com os “ativismos” no país, que não respeita as ONGs, que não respeitará os direitos dos povos indígenas.
Portanto, é preciso que Fernando Haddad, o candidato que neste momento representa as forças democráticas, de respeito às liberdades e aos direitos, conquiste os eleitores. Não se trata de saber se seremos capazes de ganhar ou não. Temos de fazer tudo para ganhar, sim (sem utilizar as falsidades do adversário). De qualquer maneira, somente a mobilização, dos que acreditam na democracia, dos que lutam por direitos, pelos meios que tivermos ao nosso alcance, pode erguer uma barreira aos possíveis retrocessos que queiram nos impor.
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